No dia 23 de março, às 18h, no bairro Bacacheri, em Curitiba (PR), um estudante da Universidade Federal do Paraná (UFPR) foi espancado. O jovem, cujo nome não é divulgado por motivo de segurança, cursa o último ano de Ciências Sociais. Ele foi agredido por dez homens, identificados como skinheads, com socos, pontapés e pedradas. Ele teve várias fraturas na face. Teve de colocar 16 pinos e terá de fazer uma cirurgia de correção facial, tamanha foi a violência.

Diante desse fato e reeditando o movimento de luta que deu origem ao Dia do Orgulho Gay, nascido contra a repressão policial a homossexuais num bar de Nova Iorque, em 28 de junho de 1969, estudantes da universidade, inconformados com a agressão, formaram o Coletivo Stonewall. O objetivo é repudiar esta agressão absurda e impulsionar uma campanha de protesto contra a homofobia, com exigências de um posicionamento da Reitoria e do DCE da UFPR.

O Coletivo Stonewall organizou uma plenária reunindo vários estudantes, professores, representantes de ONGs e entidades para discutir a campanha. Dois atos estão sendo organizados. O primeiro será no dia 15 de abril, quarta-feira, com saída às 9h30 da reitoria da UFPR. O outro acontecerá no dia 18 de abril, sábado, com concentração às 10h30 na escadaria da Praça Santos Andrade.

Infelizmente, não houve acordo em se chamar um ato contra a homofobia. A alegação de setores do governo foi que Curitiba seria uma cidade muito conservadora. A unidade de ação no ato se deu em torno ao eixo geral “ato de combate à intolerância”.

A unidade de ação construída em torno aos atos é muito importante, pois Curitiba é uma cidade em que muitas agressões e assassinatos contra homossexuais ocorrem, feitas por grupos neonazistas, e que nunca são divulgados pela imprensa e mídia. O caso do estudante veio à tona porque, na universidade, outros estudantes souberam e resolveram agir.

Justamente por ser uma cidade conservadora, não podemos deixar que essas agressões e mortes continuem acontecendo. Diante delas, não é possível trégua. É preciso denunciar o ocorrido e não ter receio de travar o combate à homofobia. A luta contra a homofobia não se dá somente nas paradas gays, grandes festas patrocinadas pelos governos e casas noturnas, mas nos dia a dia onde milhares de agressões acontecem a todo o momento.

Brasil com homofobia
Casos como este atestam como tem sido constante a agressão sofrida contra os homossexuais. O recurso à extrema violência é fruto do extremo descaso do governo com o setor. No início do governo Lula, esse lançou o projeto “Brasil sem Homofobia”, que se mostrou insuficiente para o combate da prática. Não foram apresentas saídas efetivas de criminalização da homofobia e não foram criadas medidas efetivas para os homossexuais. O projeto se limita a conceituar o que vem a ser a homossexualidade e como se dá a opressão, não criando mecanismos normativos e/ou judiciários que coíbam a discriminação e o preconceito, restrito apenas à discussão superestrutural.

Enquanto o governo sequer destina uma parte ínfima da verba para o efetivo combate à homofobia, ao racismo e ao machismo, não para de repassar dinheiro a banqueiros em falência com a atual crise econômica e mantém o plano de redução do IPI, de onde é retirado o dinheiro que se reverteria para áreas básicas como saúde, educação e projetos sociais que combatam efetivamente a violência homofóbica. O próprio “Brasil sem Homofobia”, que nem chegou a sair do papel exatamente por falta de investimento, desresponsabilizando o Estado, afirmando que tais funções cabem à iniciativa privada e à sociedade civil organizada, tanto no que se refere ao financiamento quanto à implementação deste projeto.

Estas questões, aliadas à grave crise mundial, atinge em cheio os trabalhadores que estão sendo demitidos, perdendo os seus direitos e ainda sofrendo a grave opressão dos setores tradicionalistas e reacionários da sociedade, especialmente os setores mais oprimidos da classe – homossexuais negros e mulheres. Eles são os mais vulneráveis, ocupando os serviços menos valorizados e com contratos mais flexíveis.

Ao contrário do que o Lula fala, alimentando ilusões de que esta crise seria passageira e que não atingiria o Brasil, dizemos que, mantendo a atual política econômica, a crise atingirá ainda mais os trabalhadores. Para melhor explorar os trabalhadores, as falsas ideologias, como o machismo, a homofobia e o racismo serão alimentadas, dividindo os trabalhadores, jogando uns contra os outros, para que não possam resistir ao ataque aos seus direitos. O aumento do assédio moral nos locais de trabalho é um exemplo disso. Logo é preciso impedir que a classe pague pela crise. Os ricos produziram esta crise: nós não pagaremos por ela!

“Lutar quando a regra é ceder…”
Para termos um Brasil sem homofobia é necessário muita luta. Ir às ruas denunciar o governo, seus aliados burgueses e toda forma de opressão e violência. Gritar alto que os homossexuais têm todo o orgulho de ser quem são e querem a garantia dos seus direitos.

  • Basta de agressão homofóbica: punição aos agressores!
  • Organizar a luta contra a homofobia, uma luta de toda a classe trabalhadora contra o capitalismo.
  • Nenhum trabalhador vai pagar pela crise!