Empresário Joesley Batista. Foto Agência Brasil
Nazareno Godeiro, de Natal (RN)

Para acabar com a corrupção, garantir a soberania alimentar e o fim da exploração dos operários

O Brasil é o maior fornecedor de carne e um dos maiores produtores de alimentos do mundo.

Para chegar ao topo, o Brasil se transformou num mar de capim, soja, cana e no maior usuário de agrotóxicos do mundo. Converteu-se no “celeiro do mundo” e perdeu, ainda mais, a soberania nacional e alimentar.

Não é o povo brasileiro que decide o que planta, o que colhe e o que come. Essa decisão tão importante está nas mãos de poucas empresas do setor de alimentos do Brasil: são 107 grandes empresas que dominam a produção de alimentos, sendo que três delas abocanham 63% do faturamento do setor.

A JBS, sozinha, representa 21% do setor de alimentos e bebidas do Brasil, tendo um faturamento líquido de R$ 92,5 bilhões.

A outra empresa, a AMBEV, teve receita liquida de R$ 97,9 bilhões e a terceira, a Cargill com R$ 84,8 bilhões (ambas são multinacionais).

ROUBO E EXPLORAÇÃO
De pequeno frigorífico a maior vendedora de carnes do mundo
A JBS é a maior processadora de carnes do planeta e vende para mais de 150 países.

O negócio começou como um pequeno açougue em Anápolis, interior de Goiás. Em 1957, aproveitou a construção de Brasília para fornecer carne aos operários.  Porém, o salto mesmo veio a partir de 1995, com o modelo neoliberal. Em 1996, a JBS começou a exportar para a Europa.

Esse salto da JBS foi a culminação do projeto de um Brasil como grande exportador de alimentos, retornando ao seu passado colonial. Tal salto se deu junto com a aplicação do neoliberalismo no Brasil com FHC e, continuou sob os governos petistas, a partir de 2003.

A JBS, sozinha, pode fornecer carne para todos os habitantes do Brasil
A JBS tem capacidade para processar, por dia, 81 mil cabeças de gado, 14 milhões de aves e 115 mil porcos.

Isto significa que a JBS, sozinha, poderia fornecer a todo brasileiro, 100 gramas de carne bovina, 128 gramas de carne de ave e 52 gramas de carne suína, por dia.

Para se ter uma ideia, o consumo médio de carne bovina, per capita em 2016, no Brasil foi de  82 gramas por dia.

Portanto, a estatização desta empresa permitiria que cada brasileiro comesse 280 gramas de carne por dia. Evidentemente que não estamos discutindo se faz bem para a saúde comer tanta carne. Mas fato é que, hoje, grande parte da população nem tem acesso à carne devido ao sue preço.

ACABAR COM O LUCRO
Estatizada a JBS, o preço da carne cairia pela metade

Se retiramos o lucro da família Batista e seus acionistas, daria para reduzir o preço da carne em 53%, como mostra o gráfico acima.

Notem que a produção de carne, toda ela feita por operários, retornou apenas 33% do valor para os trabalhadores na forma de salários e encargos. 14% foi para o governo, como impostos, 10% foi para os donos da JBS e 44% para os banqueiros e comerciantes.

Assim, banqueiros, patrões e governo ficaram com 67% da riqueza produzida pelos operários.

Por que o preço cairia pela metade com a estatização da JBS? Porque o valor da pizza acima que vai para os donos da JBS e para banqueiros e comerciantes (53%) ficaria com a sociedade.

Qual é o pulo do gato que Joesley e família deram para ficar bilionários?

A superexploração do operário da JBS
A JBS tinha, no final de 2016, 237 mil trabalhadores diretos, espalhados em cerca de 20 países. Desses, 205 mil são operários da produção, portanto, são os verdadeiros produtores de toda a riqueza da JBS.

Numa jornada de 8 horas diárias, o trabalhador da JBS gasta 2 horas e 22 minutos para pagar seu salário e as 5 horas e 38 minutos restantes trabalha de graça para os donos da JBS.

Para se ter uma ideia do valor astronômico disto, é como se cada um dos 205 mil operários tivesse dado de presente de Natal a Joesley três carros HB20 da Hyundai ao preço de R$ 55 mil cada um. Se enfileirasse todos eles, encostando para-choque em para-choque, ocuparia a pista de São Paulo a Belém. Tudo isso em apenas um ano!

Aqui é onde reside o segredo do crescimento e enriquecimento espetacular da JBS, além da “ajudinha” do governo, através do BNDES.

BNDES para JBS, negócios de pai para filho
Dos R$ 14,5 bilhões emprestados a empresas no Brasil pelo BNDES para expansão internacional entre 2005 e 2017, R$ 11,7 bilhões foi para o setor de carnes, sendo R$ 8 bilhões para a JBS.

Portanto, 63% de todos os empréstimos do BNDES para expansão no exterior foi para a JBS comprar 11 empresas nos Estados Unidos, 4 na Argentina, 3 no México, 3 na Inglaterra, 3 na Holanda, 3 na Alemanha, 3 na Austrália e 2 na Índia.

Joesley informou na sua delação que 4% desse valor empestado foi desviado para o PT, isto é, cerca de R$ 320 milhões foi de propina.

Juntando tudo, o BNDES emprestou R$ 20 bilhões ao grupo JBS de um total de R$ 83 bilhões emprestados a milhares de empresas no Brasil entre 2005 e 2016.


SEMPRE FOI ASSIM
A corrupção é da natureza do capitalismo

As doações milionárias feitas pelas empresas aos partidos políticos no Brasil é a corrupção institucionalizada.

Que empresa doaria R$ 300 milhões numa eleição? Seria para aperfeiçoar a democracia? Lógico que não. Ela doa a grana e espera um favor em troca. O patriarca da Odebrecht, Sr. Emilio, falou que isso sempre foi assim no país, há várias décadas.

Por isso, não estranha que o grupo JBS tenha distribuído grana a rodo. No total, o grupo JBS distribuiu mais de R$ 300 milhões aos candidatos nas eleições.

Ora, este mesmo grupo JBS enquanto distribuía “filantropicamente” dinheiro nas eleições, é o maior devedor da Previdência: deve R$ 2,4 bilhões, encabeçando a lista dos 500 maiores devedores da Previdência.

DESNACIONALIZAÇÃO
JBS, gigante prestes a ser engolida por bancos e multinacionais

O Grupo JBS está superendividado e terá que se desfazer de boa parte da empresa para sobreviver.

A família Batista já vendeu a JBS Mercosul por R$ 1,2 bilhão para a Minerva. Vendeu também a Eldorado Celulose por R$ 15 bilhões para a multinacional Paper Excellence. Vendeu a Vigor para a multinacional mexicana Lala por R$ 5,7 bilhões e vendeu a Alpargatas para o Itaú por R$ 3,5 bilhões.

A família Batista é uma legitima representante da burguesia “nacional”. Cresceu na sombra do Estado, com muitos negócios ilícitos, para depois vender seu negócio ao capital internacional, Isso já se passou com Eike Batista e com dezenas de grandes burgueses tupiniquins.

Alguns seguem nas empresas como capatazes do capital internacional, outros pegam a grana e vão viver de renda, de preferência nos Estados Unidos, que era o plano de Joesley antes de ser preso. Aliás, a fortuna do Joesley está avaliada em R$ 3 bilhões. Tem uma ilha, jatinho, iate de luxo, etc.

A JBS, identificada como capital nacional, tem 35% das suas ações que não se sabe quem são os donos. 42% da empresa pertence à família Batista. 21% ao BNDES e o restante? Qual parte destes 35% restante são investidores estrangeiros? Provavelmente, uma boa parte pertence ao banco americano BNY Mellon, ao fundo de investimento dos EUA, Leonforte Holdings ou a sócia italiana da JBS, Cremonini.

A JBS tem uma dívida bilionária de R$ 58,4 bilhões, sendo que R$ 18 bilhões vencem em 2017.

Provavelmente, veremos no próximo período, a venda da JBS para um grande banco ou multinacional, ficando os irmãos Batistas como sócios minoritários.

PROGRAMA
A solução é a estatização sob controle dos trabalhadores

Estava em discussão quem vai administrar o espólio do grupo JBS: se a família Batista (com o pai retornando ao comando da empresa) ou um banqueiro “independente”, em nome dos credores e do BNDES.

Para os trabalhadores nenhuma das duas alternativas serve.

Ficar o comando com a família significa a continuidade da superexploração da empresa, que será “reestruturada” para pagar as dívidas da empresa, além da multa de R$ 10 bilhões pela corrupção.

Se for passado o comando ao governo Temer, se entregará o ouro ao “quadrilhão” do PMDB.

A única forma de acabar com a exploração e a corrupção é com a estatização do grupo, sem indenização. Só estatizando a empresa, ela pode servir aos trabalhadores e não para enriquecimento privado. A empresa seria de todos e de ninguém. Só avançando para uma economia socialista podemos executar um plano para acabar com a fome no Brasil.

Só a classe trabalhadora pode garantir a verdadeira independência do Brasil, rompendo com a burguesia nacional e expulsando o imperialismo, trilhando o caminho da revolução socialista nacional e internacional.

Publicado no Opinião Socialista nº 543