Campanha de libertação dos presos da Convergência, em 1978

Quatro militantes perseguidos pela ditadura são anistiados pela Comissão de AnistiaNo dia 22 de agosto, três militantes da ex-Convergência Socialista receberam anistia política e o pedido de perdão do Estado brasileiro, através da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça. Maria Cecília Garcia, Dirceu Travesso e José Cantidio de Souza Lima, o “Cipó”, tiveram julgamento favorável da comissão. Tarcísio Eberhardt, outro militante da ex-Convergência, já havia tido seu caso julgado e recebido anistia no início do ano.

A Convergência Socialista foi uma das organizações que deram origem ao PSTU. Seus militantes foram conhecidos no final da década de 1970 e início de 1980 como lutadores aguerridos contra a ditadura e por seu trabalho no movimento operário. Tal atuação levou a uma série de prisões em 1977 e 1978 e, a partir daí, toda uma ação montada pelo Estado para a destruição da organização na batizada “Operação Lótus”. E depois como parte da Operação Condor, quando a ditadura brasileira, aliada com as ditaduras de Pinochet do Chile e Videla da Argentina, buscou exterminar as organizações de esquerda no Cone Sul.

Por isso, a concessão da anistia a esses quatro valorosos companheiros muito nos orgulha, pois formaliza o reconhecimento da participação da Convergência Socialista na luta dos trabalhadores brasileiros.

Mulher, jornalista e combatente contra a ditadura
Maria Cecília Nascimento Garcia, a “Cilinha”, tem larga militância política contra a ditadura, iniciada em 1972, quando entrou no curso de jornalismo da ECA na USP, onde passou a militar na Liga Operária (que daria origem à Convergência Socialista) e a atuar na imprensa alternativa com o objetivo de combater a ditadura. Trabalhou nos jornais “Movimento” e “Opinião”, depois foi sócia da Editora Versus e colaboradora do jornal Convergência Socialista.

Durante a ditadura, os jornais da imprensa alternativa eram monitorados e vigiados pelos órgãos de repressão e, muitas vezes, invadidos e destruídos. Em maio de 1979, a redação do Versus, que já sofrera com prisões de colaboradores, foi invadida, roubada e depredada por um “comando” de extrema-direita. Mais tarde, interditada, depois da aplicação de uma pesada multa financeira. Com isso, Cilinha passou a ser conhecida como uma jornalista “subversiva”.

Neste ano foi detida pelo DOPS, por sua participação no jornal Convergência Socialista e identificada como participante da greve dos metalúrgicos do ABC. Continuou no jornal Convergência Socialista até 1985. Certidões expedidas pelo Arquivo Nacional mostram que Cilinha foi monitorada por mais de uma década.

O dirigente dos bancários
Dirceu Travesso, o “Didi”, um dos dirigentes da ex-Convergência Socialista e atual presidente do PSTU do estado de São Paulo, milita desde 1977. Foi uma liderança dos estudantes e trabalhadores em todas as frentes em que atuou, dedicando sua vida não só à restituição da democracia, mas à luta da classe trabalhadora e da juventude. Por isso sua vida é permeada por prisões, mudanças de residência e demissões.

Iniciou sua militância na Universidade Federal de São Carlos (Ufscar) quando entrou na Liga Operária. Foi preso em 1977, na desocupação da PUC de São Paulo. Em 1978, foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional. Já no inicio da década de 1980 participou e organizou as campanhas pela construção do Partido dos Trabalhadores em São Carlos. Foi para São Paulo em 1981, onde começou a trabalhar no Itaú, permanecendo no banco até 1983.

Dirceu foi demitido após a greve geral convocada pela Comissão Nacional Pró-CUT e que levou a 3 milhões de trabalhadores a cruzarem os braços em 21 de julho de 1983, e que ocasionou também em mais de 800 ativistas presos. Depois disso, Didi foi trabalhar em empresas metalúrgicas de São Paulo e Volta Redonda (RJ), voltando ao setor bancário no Bradesco, mas sempre monitorado e demitido até que assume o cargo de escriturário na Caixa Econômica de São Paulo em 1984.

Lutadores da classe operária
Outro operário da ex-CS anistiado é José Cantidio de Souza Lima, o “Cipó”, que começou a militar em 1977 na Liga Operária e em 1978 começa a trabalhar na Volkswagen. Durante a greve na Scânia em maio daquele ano, os trabalhadores da Volks realizaram um dia de paralisação em solidariedade à greve. Cipó participou e ajudou em sua organização, sendo demitido em 1º de agosto de 1978.

Sem conseguir emprego em São Bernardo, é obrigado a se transferir para Santo André e, em dezembro de 1978, é admitido na Cofap, onde passa a integrar a Comissão de Negociação junto à Fiesp ao lado de José Maria de Almeida e os diretores do sindicato: Benedito Marcílio e José Cicote. Foi preso em março de 1979 quando o sindicato foi invadido pela PM e demitido em setembro de 79.

Desloca-se então para Ribeirão Pires e é contratado pela Brosol, trabalhando lá com a metalúrgica da ex-CS Maria Cristina Salay. Com ela organiza a campanha salarial no ano seguinte, sendo novamente demitido em março de 1980. Entra na General Elétric, sendo demitido em 1982. O setor de Recursos Humanos da General Elétric e o DOPS mantinham uma estreita relação, com o repasse de informações acerca da movimentação sindical dos trabalhadores e de ativistas, em especial da Convergência Socialista.

Cipó, além da militância sindical, atuava politicamente no Partido dos Trabalhadores, sendo candidato a prefeito na cidade de Ribeirão Pires nas eleições de 1982. Durante quinze anos de militância política, foi sistematicamente monitorado e perseguido pelo Estado brasileiro, o que lhe acarretou duas prisões e várias demissões.

Tarcísio Eberhardt, outro camarada operário da ex-CS, foi anistiado no início do ano. Com militância política e sindical desde 1976 na Liga Operária, arrumou emprego em 1979 na indústria IBAF, de onde organizou a criação do PT em Campinas, sendo membro do primeiro diretório municipal. É demitido e ingressa na Wabco. Forma, junto com Durval de Carvalho, da Cobrasma, a chapa de oposição à diretoria pelega do Sindicato dos Metalúrgicos. A Oposição foi derrotada nesta eleição, mas o movimento cresceu e, na eleição de 1984, assume o sindicato. Tarcisio não pôde partilhar esta vitória, pois foi demitido da Wabco em julho de 1981 e, com uma criança de 3 anos de idade e sem emprego, deixou Campinas para retornar à Santa Catarina.

Américo Gomes é coordenador da Comissão de presos e perseguidos politicos da ex-Convergencia Socialista. Nesta matéria colaboraram os advogados Ana Lucia Marchiori, Alberto Albiero Jr. e Julia Chonis, e o jornalista José Welchowik

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