Os palestinos estão radicalizados, como mostra o resultado eleitoral. Tanto que, para não perder o pé da situação, o Hamas teve de manter seu discurso radical, dizendo que não vai se desarmar e não vai desistir de sua bandeira de destruir Israel. No entanto, já deu inúmeras mostras de que não será assim.

O povo palestino tem de confiar em suas próprias forças e na continuidade de sua luta contra Israel. Apoiou o Hamas porque quer a devolução do território ocupado por Israel e exige coerência e firmeza nessa luta.

A paz tão desejada pelo povo palestino não será possível enquanto existir o Estado de Israel, um Estado colonial e racista, que nunca desistiu de fazer uma limpeza étnica contra os palestinos. Assim como na antiga África do Sul, não podia haver liberdade para os negros sem acabar com o apartheid dos brancos racistas, sem a destruição do apartheid que está na raiz da Constituição de Israel não será possível a paz entre judeus e palestinos.

Nesse sentido, a proposta do Hamas de estabelecer um Estado islâmico, ou seja, também teocrático, só que dirigido pelos muçulmanos, é um equívoco e um retrocesso, como já se viu no Irã e na Arábia Saudita. Em vez de se unir na luta a todos os que se opõem à exclusão imposta pelo sionismo, independente de sua crença ou etnia, o Hamas fecha a proposta só para aqueles de fé muçulmana e alimenta a propaganda sionista e imperialista de que se trata de uma luta religiosa.

Assim como era compreensível a alegria dos palestinos com a saída de Sharon, é compreensível sua alegria agora, com a vitória do Hamas nas eleições. Mas é preciso ter claro que as eleições em si não vão levar a isso, e que a proposta do Hamas de negociar “indiretamente” com Israel pode significar a aceitação da situação atual, caso não prossiga a Intifada. Por mais dura que seja essa luta, só a continuidade da Intifada e da mobilização revolucionária dos palestinos e todos os povos do Oriente Médio poderá derrotar Israel e a política imperialista, condição primeira para abrir a perspectiva de uma nova vida para palestinos e judeus numa Palestina laica, democrática e não racista.

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