Na linha do Equador, fica o Amapá, um estado pequeno, ao qual só é possível chegar de barco ou avião. Ali, nosso partido construiu um importante trabalho político, principalmente entre os cerca de 800 rodoviários das seis empresas da capital, Macapá. A média salarial dos motoristas, de R$ 700, é combustível para fortes greves, que enfrentam patrões, Justiça e polícia. Ameaças aos sindicalistas ficaram mais fortes, em uma escalada cujo último ato pode ter sido a invasão à sede do partido, no dia 26 de julho. Entrevistamos ANTONIO FERREIRA DE BARROS, dirigente do PSTU em Macapá e assessor do Sindicato dos Rodoviários, sobre as ameaças e a campanha pela vida dos ativistas

Opinião Socialista – Vocês estão no meio de uma campanha salarial. Como está esta luta?

Antonio de Barros – A categoria está em campanha desde março, por 15% de reajuste, além do aumento da cesta básica, fim das duas pegadas e o plano de saúde.

Estamos construindo uma campanha diferente de todas as outras. Há um fortalecimento muito grande do sindicato na base, fruto de uma luta no início do ano, em uma empresa que faliu, a Estrela de Ouro, que foi noticiada no Opinião. Conseguimos salvar o emprego de 191 trabalhadores, a vanguarda da categoria, com dez greves no ano passado. A empresa foi leiloada e os trabalhadores receberam a indenização.

A campanha também é contra o aumento de passagem. A margem de lucro aumentou 25% em 2004 e há como aumentar o salário sem subir a passagem. Isso tem gerado um impasse e os empresários ameaçam que sem aumento de passagem não há aumento.

E a greve que vocês fizeram, como foi??

Antonio – A categoria deflagrou greve por dois dias, parando a Capital e Santana, a segunda cidade do estado, com 100% de adesão. Os empresários mantiveram os 0% de reajuste e tivemos de ajuizar o dissídio no Pará.

Três dias depois, os empresários cortaram o repasse da mensalidade do sindicato e os convênios médicos da categoria. Foi uma atitude consciente, pra derrotar a campanha salarial e poder disputar a eleição no final do ano.

Você dizia que, por vezes, antes de uma greve começar, ela já está proibida. Como é esta aliança entre Justiça, empresários e polícia contra vocês??

Antonio – Os rodoviários se enfrentam diretamente contra as instituições do Estado, contra a democracia dos ricos. A greve nem começa, e já chega um interdito proibitório. Se começa, no primeiro dia chega uma multa, de até R$ 120 mil.

E há a repressão. Há enfrentamentos freqüentes com a Polícia Militar e com a Rotam, uma cópia da Rota, de São Paulo. Os empresários usam a Rotam para obrigar os trabalhadores a deixar o emprego. Já tivemos três denúncias de soldados ameaçando trabalhadores dentro da empresa, com justa-causa, para que eles assinassem pedidos de demissão. A repressão também vem com a tropa de choque do governador Waldez, do PDT.

E os jagunços…?

Antonio – Há grupos armados que atuam dentro e fora das empresas. São ligados a setores da polícia e da tropa de choque. São ligados também a um grupo de extermínio, que já foi denunciado pelo Ministério Público. A jagunçada faz o papel sujo para os empresários.

Como foram as ameaças?

Antonio – O presidente do sindicato, o Frota, é constantemente ameaçado pelo telefone. Em maio do ano passado, depois da greve, arrombaram o sindicato. O tesoureiro já foi assaltado, com dinheiro do sindicato.

Só que agora piorou. As ameaças ficaram mais sérias, como com a Liduína, militante do PSTU, diretora do Sindicato e companheira do Frota, presidente do Sindicato. A companheira acabava de sair de uma assembléia. Foi abordada por dois homens em um Fiat, que perguntaram se ela conhecia uma pessoa e ela disse que não. Perguntaram por outra e ela disse que não. Aí o cara disse: “Pára aí. Pára aí. Não é isso que a gente quer não. Estamos aqui para te matar”. Então um deles disse que a conhecia, perguntou se ela era cobradora de ônibus e disse pra não matá-la. Acabaram deixando ela ir. Mas mandaram um recado.

E, três dias antes, haviam tentado seqüestrar a filha deles. Um carro parou na frente da casa, onde a menina brincava com outras crianças, e tentou pegá-la. Ela correu pra dentro e conseguiu escapar.

Costumamos dizer que os empresários têm raiva não do sindicato, mas do PSTU, pois é a militância do partido que dirige o sindicato.

O que vocês têm procurado fazer para se garantir?

Antonio – O setor de transporte é muito ligado ao poder. São eles que garantem ônibus e financiam as campanhas, em troca de subsídios. É uma mostra do que ocorre pelo país, como nos caixa dois do PT. Já denunciamos ao secretário de Segurança, e nenhuma medida foi tomada. Temos fotos, pistas, sabemos de empresários de ônibus que andam armados, com armas sem registro, mas não se investiga. Também fizemos a denúncia à Secretaria dos Direitos Humanos, em Brasília, que entrou em contato com o governo estadual.

Enfim, o atendimento das medidas de segurança não virá sem uma campanha nacional.

Qual a importância desta campanha?

Antonio – O Amapá é muito isolado. A facilidade em se matar um diretor de um sindicato aqui é muito maior do que em São Paulo, por exemplo. Aí, teria repercussão nacional. Aqui, talvez, só chegaria até o Pará. Estamos muito preocupados com isso.

A única forma de garantir a integridade dos diretores e dos militantes do PSTU – como eu, por exemplo, que dizem que é “o que trama” – é a juventude e os trabalhadores tomarem a campanha que começamos.

Estamos diante de uma possibilidade real de que militantes do PSTU sejam mortos. Você quer fazer um chamado especial aos militantes?

Antonio – A militância do PSTU é muito aguerrida. Nas diversas campanhas, quando ela é ganha, dá a resposta. O exemplo foi com Caleta Olivia, uma campanha muito forte que conseguiu a liberdade de nossos irmãos lá da Argentina.

A militância do PSTU tem de trazer pra si, pra cada um, a seguinte conclusão: a de que está em nossas mãos a vida dos nossos irmãos lá do Amapá. Queremos que, de Norte a Sul do país, os companheiros vistam essa camisa.

Post author Por Gustavo Sixel, da redação
Publication Date