Entidades do movimento sindical e popular se reúnem em Brasília para preparar a luta contra possíveis ataquesNo final do ano passado, em novembro, diversas entidades do movimento sindical e social se reuniram para analisar a situação do país, traçar as bandeiras de luta dos trabalhadores no novo governo e avançar na resistência aos possíveis ataques que devem vir no próximo período. Por meio de uma ampla unidade, que inclui desde CSP-Conlutas, Intersindical, Cobap e até entidades da CUT, a ideia é promover um espaço de discussão e organização.

Partindo da análise da crise econômica internacional, que está longe de terminar e atinge fortemente os EUA e a Europa, assim como da posição e declarações da presidente eleita e seus principais ministros, as entidades consideraram prováveis ataques contra os trabalhadores já no início do novo governo. “Não podemos deixar de nos preparar para esta hipótese”, alerta o manifesto aprovado no final da reunião. “Trata-se de uma obrigação das organizações dos trabalhadores, para não sermos surpreendidos depois e ficarmos frente à única opção de ‘chorar o leite derramado’”.

Enquanto terminávamos esta edição do Opinião Socialista, ocorria uma nova reunião em Brasília para avançar nessa proposta e definir um calendário de lutas já para este semestre. O Opinião entrevistou Atnágoras Lopes, da Secretaria Executiva da CSP-Conlutas, que acompanhou a discussão.

Opinião Socialista: O que indica a reunião de 27 de janeiro?

Atnágoras Lopes – Em primeiro lugar, esse encontro expressa a necessidade de unir todos os que se dispõem a lutar em defesa dos nossos direitos. Há uma pauta de reivindicação comum e que unifica as bandeiras imediatas dos trabalhadores do campo e da cidade, da juventude e do movimento popular. Essa necessidade e essa possibilidade justificam-se pela capacidade de colocarmos o interesse do povo pobre de nosso país acima de qualquer interesse dos governos de plantão, e pela retomada das ações e mobilizações de nossa classe, resgatando o princípio da independência e do classismo.

Quais são os setores envolvidos nessa organização?

Atnágoras – Trata-se da busca pela unidade de uma parcela significativa de todos os segmentos explorados, que estão sob a ameaça da retirada de direitos e submetidos à criminalização da pobreza e dos movimentos sociais e que, por isso, se dispõem a lutar. A iniciativa partiu da CSP-Conlutas, da Cobap e do Fórum Sindical dos Trabalhadores. Mas já se ampliou para outros segmentos, inclusive algumas entidades filiadas à CUT, à CTB, aos dois setores da Intersindical, entre outras. Como se vê, são entidades e dirigentes de diversas tradições, incluindo os movimentos popular e estudantil. Não está em discussão a opção organizativa ou ideológica e sim a construção e defesa de uma plataforma unificada em defesa da classe trabalhadora, com o objetivo de pôr em marcha nossa ação, mobilização e resistência.

Em termos de pauta de luta, o que se discute entre as entidades?

Atnágoras – Há temas emergenciais na ordem do dia, como a defesa do reajuste do salário mínimo e das aposentadorias, que garanta uma igualdade de índice, a recuperação de nosso poder de compra e que se oponha aos míseros 6% anunciados pelo governo. Ainda mais numa conjuntura em que os lucros das empresas e dos bancos se mantêm inabaláveis e os parlamentares dão a si mesmos um aumento de 62% e de 132% ao Executivo. Há ainda a luta liderada pelos estudantes em várias regiões contra o aumento das tarifas do transporte, a luta em defesa da Previdência, pelo fim do fator previdenciário e contra a reforma tributária de Dilma, que só beneficia os empresários e ataca a Previdência e a educação púbica.

Na atual conjuntura, quais são os demais desafios para os trabalhadores e especificamente para os movimentos sociais de luta?

Atnágoras – Frente à morte de mais de 800 pessoas no estado do Rio em virtude das chuvas e da omissão dos governantes, precisamos avançar em nossa solidariedade de classe e exigir do Estado todos os recursos para garantir o socorro a essas vítimas e a responsabilização dos governantes. Precisamos preparar nossa classe para resistir aos ataques aos direitos trabalhistas, inclusive com medidas apresentadas e apoiadas por entidades sindicais atreladas ao governo; a defesa dos serviços públicos e dos servidores contra a proposta do governo que visa congelar os salários, impedir o direito de greve, incentivar a demissão desses trabalhadores e um longo etc… Enfim, o desafio é unir, mobilizar e resistir para enfrentar os ataques dos patrões e dos governos. Uma proposta em discussão é a realização de uma atividade, no Congresso Nacional, lançando essa plataforma de reivindicações e denunciando o reajuste abusivo dos parlamentares.
Post author da redação
Publication Date