Em Santa Catarina, dezenas de militantes filiados ao PT, PSTU e ex-filiados ao PT tomaram a iniciativa de convocar um Encontro Estadual para discutir a formação de um novo partido socialista no Brasil.
Para falar desta iniciativa o Opinião Socialista entrevistou um dos impulsionadores deste Encontro, Ricardo Freitas, 43 anos. Filiado ao PT, Ricardo já foi membro da Executiva do PT de Florianópolis, candidato a vereador nas eleições do ano 2000. Atualmente, ele participa do movimento popular em seu bairro, de algumas entidades ambientalistas e é assessor do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo Urbano de Florianópolis e Região.
Nesta edição, publicamos os principais trechos dessa entrevista. Se você quiser lê-la na íntegra clique aqui

OS – Quais as razões que o levaram a estar junto com vários outros companheiros convocando um encontro estadual pela formação de um novo partido socialista?
Freitas
— As experiências partidárias, das centrais sindicais, de sindicatos livres e dos movimentos populares em geral, forjaram milhares e milhares de dirigentes, pensadores e militantes comunistas em nosso país, que emergiram na luta em meio a uma sociedade que adquiriu alto grau de complexidade, tanto pelo desenvolvimento econômico e pela diversidade étnica/cultural/geográfica que caracteriza nosso país, quanto pelo nível de articulação e construção política que a elite aqui desenvolveu.
Isso nos permite avaliar e tomar esta iniciativa porque entendemos que a esquerda brasileira tem amadurecimento, consistência política e base social suficiente para construir e organizar um partido realmente socialista, com um programa anticapitalista/imperialista, organizando os explorados para enfrentar a disputa de hegemonia ideológica com a burguesia e chegar ao poder efetivamente.
Então, é essa a avaliação que, essencialmente, nos leva a propor este debate a toda a esquerda brasileira.

OS — Em relação a coligação do PT com PL qual o significado que ela tem na sua opinião?
Freitas
— A aliança com o PL é uma traição aos trabalhadores, ao povo em geral, a independência de classe e a história do PT. Contribui para a despolitização das massas, desencanta militantes sérios, além de impossibilitar a educação política para a independência de classe e a realização de um governo, no caso de se ganhar as eleições, com base nas expectativas centrais do que temos de organizações sociais e de luta em nosso país.

OS — Na sua opinião, quais seriam as condições e pontos de programa que seriam capazes de unir a esquerda socialista em um novo partido político no Brasil?
Freitas
— Em primeiro lugar vai exigir muito desprendimento e paciência revolucionárias, um grande esforço de quem se reivindica e tem responsabilidade com a construção socialista, claro que sem querer pasteurizar as diversas correntes de pensamento ou impor a hegemonia desta ou aquela posição política.
Acho que o programa inicialmente, para estabelecer o debate, pode ter muito do que compunha o programa original do PT, que tinha elementos importantes como: a afirmação de independência de classe, o rompimento com a ordem internacional, o não pagamento da dívida externa, uma profunda reavaliação diante da dívida interna, reformas profundas no aparelho de Estado, a garantia de organização e expressão das diversas etnias e culturas existentes.
Devemos somar a isso um programa de estatização dos bancos e ampla socialização do crédito e valorização das iniciativas populares.

OS — Há muitos militantes que ao se indignarem com os rumos do PT passam também a rechaçar a perspectiva de uma alternativa partidária, com a avaliação de que partido acaba sempre se burocratizando ou adaptando-se. Que tipo de medidas e políticas um novo partido deveria ter para evitar os erros cometidos pelo PT?
Freitas
— Na verdade acho que esta postura está muito ligada a uma incompreensão do que foi e é o PT, de se viver uma ilusão com esta experiência. Para mim, o PT é uma experiência muito rica e proveitosa de nossa classe e dos setores explorados de nosso povo, que ajudou a formar centenas de milhares de militantes de esquerda. No entanto, nunca foi socialista ou revolucionário. Neste processo, a esquerda avançou e acumulou muito, apesar de não ter conseguido fazer deste instrumento o partido socialista e revolucionário.
Quanto as medidas em relação a evitar experiências como a que estamos vivendo no PT, entendo que não existe “vacina”, mas podemos desenvolver um profundo debate e construir um arcabouço ético, democrático, baseado numa estrutura horizontal, no respeito as minorias do interior do partido, com partilha do poder e de responsabilidades, com funções, atribuições e alçadas bem definidas estatutariamente, com proporcionalidade qualificada e direta, com rodízios, enfim, temos experiência histórica suficiente no interior dos diversos movimentos que construímos para fazer um “mix” que nos possibilite preservar essa nova entidade.

OS — Em relação ao processo eleitoral como você irá posicionar-se?
Freitas
— Estou apoiando as candidaturas a deputado estadual e federal de dois companheiros do PT que se mantiveram e se mantêm coerentes contra as atuais alianças, que colocam claramente em seus materiais de campanha Fora Alencar e o PL, que não sobem nos palanques onde tenham candidaturas e representantes destes partidos e que organizam manifestações de repúdio a esta política durante as atividades de campanha, como o companheiro Cedenir Simom, candidato a deputado federal.
No tocante aos demais cargos, estou apoiando ativamente os companheiros Carlos Muller e Viviane Remor ao Senado, o companheiro Gilmar Salgado ao governo estadual e o companheiro Zé Maria à presidência da República, todos do PSTU
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