Partido da LIT-QI e organização Esquerda dos Trabalhadores (IT) formam comitê de enlace, com o objetivo de um partido comumA Esquerda dos Trabalhadores e a Frente Operária e Socialista, seção da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional, constituíram um Comitê de Enlace para coordenar os próximos passos com o objetivo de avançar rumo a um partido revolucionário comum, assim como a intervenção conjunta nos principais eventos das lutas dos trabalhadores e da juventude do país.

Esse processo nacional é o reflexo de um processo internacional de reagrupamento e aproximação cuja referência é a LIT-QI, a única organização internacional que tem uma posição revolucionária conseqüente frente aos novos governos do continente.

Vivemos uma situação mundial muito favorável, em que a classe operária e seus sindicatos voltam a ter uma atividade preponderante, junto com os estudantes e setores populares. As greves dos transportes, professores e funcionários públicos e as manifestações estudantis na França, a greve dos maquinistas de trem na Alemanha, paralisando todo o transporte durante vários dias, a manifestação de quase 200.000 pessoas em Portugal, no dia 3 de novembro, as marchas juvenis na Espanha contra o racismo, a primeira greve da General Motors em décadas nos Estados Unidos, as greves da Ford e outras montadoras na Rússia mostram o peso crescente dos trabalhadores e de suas organizações.

A mesma coisa ocorre na América Latina: greves dos mineiros do cobre e das estatais no Chile, dos professores colombianos, os professores, mineiros e enfermeiras do Peru, os médicos e trabalhadores da seguridade social do Panamá, os professores de Oaxaca no México, a marcha da Conlutas e outros setores com 16.000 pessoas em Brasília, e as lutas de petroleiros e funcionários públicos na Venezuela.

O pano de fundo desses conflitos é a resposta à contra-ofensiva econômica permanente do imperialismo, e a surra que o povo iraquiano está dando no exército ianque, como o demonstra a grande rebelião de massas contra Musharraf, o governo títere do Paquistão.

Na Argentina, termina o ano de maior atividade grevista desde o argentinazo, e a nova presidente Cristina Kirchner foi recebida sem lua de mel: paralisações de professores, bancários, greves petroleiras, conflito dos trabalhadores do porto de Mar del Plata e dos trabalhadores do Cassino e muitas outras.

Uma nova situação
O século XXI chegou ao nosso continente varrendo os governos neoliberais dos anos noventa. O argentinazo, a derrota do golpe de estado na Venezuela, a queda de Goni e Carlos Mesa na Bolívia, as insurreições equatorianas, a fuga de Fujimori, abriram uma nova situação. Chegou a vez de novos governos de colaboração de classes, chamados nacionalistas, populistas, de frente popular, que são produto do ascenso de massas: o PT de Lula, Chávez, Evo Morales, Correa no Equador, Tabaré Vasquez, Kirchner. Esses presidentes do século XXI não falam em privatizações, porque não podem. Falam de “socialismo”, “direitos humanos”, “povos originários”.

Apesar das diferenças que têm entre si, todos são governos burgueses que utilizam a linguagem do socialismo e dos direitos humanos para melhor enganar os trabalhadores, ao mesmo tempo em que continuam sendo sócios menores do imperialismo na exploração do petróleo, do gás e dos recursos naturais e na repressão das lutas operárias.

Divisor de águas
Os novos governos de conciliação de classes são um divisor de águas. Em sua maioria, as organizações de esquerda, com o argumento de lutar contra o imperialismo, tornaram-se “castro-chavistas”: apóiam o governo populista de Chávez e todas as suas medidas contra as liberdades democráticas, como o fechamento do canal RCTV, a repressão aos estudantes, e o referendo sobre as mudanças na Constituição, que estabelecem o estado de sítio e limitam os direitos democráticos dos trabalhadores e do povo.

Uma minoria, da qual fazemos parte, considera que todos esses governos são inimigos dos trabalhadores, e, portanto, não apoiamos nenhuma de suas medidas, nem lhes damos qualquer tipo de apoio, embora em determinadas circunstâncias, se forem atacados pelo imperialismo ou pela reação, como ocorreu na Venezuela em 2002, nos coloquemos, de maneira conjuntural, na mesma trincheira.

Esses governos, com suas enormes concessões a burguesia e às forcas reacionárias, conduzem a luta dos trabalhadores e setores populares a uma encruzilhada, como demonstram os enfrentamentos entre o vacilante governo de Evo Morales e a burguesia opositora.

Por isso, a medida em que passam os dias, há cada vez mais lutas dos trabalhadores, estudantes e setores populares contra esses governos, como demonstraram os petroleiros e os trabalhadores das estatais venezuelanas.

Tem início um reagrupamento revolucionário
O paradoxo é que, enquanto os trabalhadores dão tudo de si, e quando é mais urgente do que nunca apresentar à nova vanguarda uma firme alternativa ao “castro-chavismo”, ao peronismo, ao PT de Lula e ao MAS de Evo Morales, a esquerda mostra-se incapaz de dar respostas.

No entanto, a luta não se detém e se produzem novos realinhamentos: surgem milhares de ativistas e lutadores, correntes sindicais contra a burocracia, jovens que se radicalizam, aparecem divisões nos partidos desses governos, aparecem grupos que buscam uma alternativa, ou grupos que estavam distanciados começam a concordar entre si.

Esse processo objetivo também teve início na Argentina. Uma mostra dele foi o ato realizado no Hotel Bauen em 7 de outubro, onde confluíram distintas organizações politicas. A maioria delas provenientes do morenismo, mas também de outras origens e tradições.

O Comitê de Enlace FOS-IT surge com a intenção de dar resposta a esse processo objetivo. Nosso objetivo é reverter a fragmentação da corrente morenista da qual viemos e que reivindicamos. Mas somos conscientes de que isso só será possível na medida em que, ao mesmo tempo, confluamos com outros grupos, com os quais coincidamos nas grandes linhas de um programa revolucionário, embora não pertençamos a mesma vertente: nossa confiança no papel histórico da classe operária com suas organizações democráticas como caudilho do processo revolucionário, a luta contra todos os governos burgueses sejam da cor que sejam, a necessidade de impulsionar o surgimento de novas direções democráticas e combativas, a independência de classe, contra o oportunismo e o sectarismo messiânico e por verdadeiros governos dos trabalhadores.

O pré-congresso mundial da LIT será o marco de referência para esse processo e para avançar no debate com todos aqueles que, a partir de um acordo principista, programático e metodológico e da existência de confiança revolucionária, estejam dispostos a construir as bases de um partido revolucionário nacional e internacional.

O Comitê de Enlace FOS – IT é um modesto primeiro passo, pois sabemos que nossas forças sao debéis, somos apenas duas pequenas organizações, mas acreditamos que este seja o pontapé para começar a superar a divisão e a dispersão.

Aos dirigentes e ativistas sindicais e estudantis que necessitam imperiosamente de unidade e propostas claras para lutar; aos militantes que vêm de anos de frustrações; aos partidos ou grupos, provenientes do peronismo, trotskismo, ou de outras vertentes, que buscam, cada um por seu lado, uma saída revolucionária, os convidamos a aderir a este empreitada, para que possamos nos converter em uma alternativa capaz de disputar a direção dos trabalhadores frente ao peronismo, ao PT de Lula, ao “castro-chavismo”, ao MAS da Bolívia, e a todas as suas variantes.