A revelação de espionagem de membros do primeiro escalão do governo demonstra o envolvimento do PT em grandes negociatas nas privatizações e nos Fundos de Pensão`MinistroSegundo documentos revelados pelo jornal Folha de S.Paulo, de 22/07/2004, uma das maiores empresas de investigação do mundo, a Kroll Associates, foi contratada por Daniel Dantas, do banco Opportunity e controlador da maioria das ações da Brasil Telecom, para investigar a Telecom Itália, seus sócios e rivais na disputa pelo controle administrativo da empresa.

Nada de novo para o sórdido mundo empresarial. No entanto, as espionagens promovidas pela Kroll extrapolaram o mundo dos negócios e atingiram importantes membros da burocracia petista do Planalto.

O primeiro escalão envolvido

A espionagem da Kroll trouxe à luz o envolvimento do ministro Luiz Gushiken com grupos privados de Previdência. O ministro foi sócio de uma consultoria, atualmente conhecida por Global Previ, formuladora do projeto de reforma da Previdência do governo Lula e que prestava serviços a grupos privados de Previdência complementar. O ministro participou ativamente da privatização da Previdência do país, defendendo todos os princípios reclamados pelo FMI e pelos bancos, principais operadores de Previdência privada do país.

Na verdade, Gushiken e outros setores do PT, a partir do aparelho de Estado, se tornaram burgueses, e são partes muito ativas do capital especulativo. A participação institucional de ex-sindicalistas na administração dos Fundos faz com que eles possuam interesses distintos dos trabalhadores, pois estarão sempre interessados em investir em rentáveis empreendimentos capitalistas.

Gushiken participou também da privatização da Telebrás, sendo integrante da montagem do grupo vencedor do leilão, por meio de sua influência sobre os cinco Fundos de Pensão estatais (Previ, Petros, Funcef, Sistel e Telos) com o banco Opportunity, de Daniel Dantas (ligado ao PFL), e a Telecom italiana. Depois, já com Gushiken no governo, um conflito com esse banco sobre o controle acionário da empresa levou ao escândalo de espionagem atual.

A influência de Gushiken e do PT sobre os fundos estatais é antiga e revela que o ministro continua fazendo grandes negócios a partir do seu gabinete.

Outro figurão do governo que sofreu espionagem foi o presidente do Banco do Brasil, Carlos Casseb. Velho conhecido dos banqueiros e dos empresários, Casseb atuou em instituições financeiras, como o Citibank e o BankBoston (na época em que este era presidido por Henrique Meirelles), e também foi membro do conselho da Telecom Itália. A Folha denunciou que Casseb chegou a se reunir com empresários da Telecom Itália, mas não revelou o conteúdo da reunião. Atualmente, Casseb também está sendo investigado por não ter declarado contas milionárias no exterior ao Imposto de Renda.

O escândalo provocado pela espionagem empresarial feita pela Kroll expõe duas das caixas-pretas da corrupção empresarial do país, que envolveram e continuam a envolver os governos de plantão: a privatização do sistema Telebras e os Fundos de Pensão das estatais.

Entenda o Caso Kroll

1) Em 1998, a Telebrás foi privatizada. O consórcio liderado pelo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, formado pela Telecom Itália e pelos Fundos de Pensão das estatais, adquiriu a Tele Centro Sul (Brasil Telecom), por R$ 2,07 bilhões. Graças a um acordo com os Fundos de Pensão, o Opportunity conseguiu o controle administrativo.

2) A Telecom Itália iniciou a disputa com o Opportunity pelo controle da empresa. O banqueiro Daniel Dantas contratou a Kroll para espionar supostas irregularidades na Telecom Itália. No entanto, as investigações da Kroll extrapolaram o mundo empresarial e atingiram dirigentes do governo federal.

3) A Kroll investigou o ministro Gushiken e Carlos Casseb (presidente do BB). Segundo a Kroll, os dois orientaram os Fundos de Pensão das estatais, já no governo Lula, a romperem acordos que garantiam à Opportunity o controle da Brasil Telecom.

Post author Jeferson Choma, da redação
Publication Date