Nosso repúdio ao atentado que assassinou de forma bárbara 202 pessoas nos trens de Madri não pode ocultar o fato mais importante: o governo de Aznar foi o principal responsável por esta tragédia. Afinal, foi quem envolveu a Espanha na guerra e continuava mantendo tropas no Iraque. foi isso que a maioria da juventude e dos trabalhadores de Espanha expressou

Na tarde do sábado que antecedeu as eleições, milhares de manifestantes cercaram as sedes do partido do governo, Partido Popular (PP), responsabilizando o presidente pelo massacre. Diziam os cartazes: “Nuestros mortos, vuestra guerra”.

O candidato do governo, Mariano Rajoy, foi à televisão dizer: “O que está ocorrendo é ilegítimo e ilegal”. O governo iniciava uma frustrada e obscura operação – denunciada pelo cineasta Almodóvar e depois silenciada – para adiar as eleições e declarar o estado de exceção.

Não foi possível deter a onda de manifestações que varreu o país. Milhares de mensagens invadiam os celulares e internet, convocando as pessoas a se dirigirem até as praças e avenidas. Era a indignação pela escandalosa manipulação do governo que acusava a organização separatista basca ETA (leia quadro) pelos atentados, mesmo já tendo as provas de que se tratava de um operativo da Al Qaeda.

No sábado, ocorreram diversas manifestações. Em frente à sede do PP, ouvia-se: “mentirosos, mentirosos” ou “Aznar culpado, tu és o responsável”. À meia-noite, mais de dez mil pessoas tomaram as ruas do centro de Madri. Segundo nos conta um companheiro espanhol, “as dez horas da noite sentimos que havia muita gente e fechamos o trânsito. Éramos dois mil, as pessoas não paravam de chegar e rapidamente já éramos sete mil, em sua maioria jovens”.

Como um rastilho de pólvora, as manifestações foram ganhando força pelas principais cidades, ao mesmo tempo em que o ETA desmentia seu envolvimento nos atentados e a Al Qaeda assumia a autoria.

Ainda assim o governo continuava acusando o ETA. O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) e a Esquerda Unida (IU), frente eleitoral composta pelo PC e outras correntes de esquerda, mesmo sabendo da mentira, não denunciaram a farsa armada por Aznar até sábado à noite, quando milhares de manifestantes já cercavam as sedes do PP.

Ao votar no Partido Socialista, as massas disseram um estrondoso não ao governo dos herdeiros da ditadura franquista e da ocupação do Iraque. Mas não se pode ter nenhuma confiança que José Luis Rodríguez Zapatero vá cumprir a promessa de retirar as tropas espanholas. Até o momento, ele condicionou a permanência das tropas a que a ONU assuma o controle do Iraque. E já disse que ia reforçar as tropas espanholas no Afeganistão.

Antes da eleição, Zapatero aproveitou o atentado para declarar que sua prioridade seria a luta contra o terrorismo e ratificou o Pacto anti-terrorista (contra o movimento nacionalista Basco), que assinou com o PP, atacando direitos democráticos, entre eles, colocar a esquerda radical basca na ilegalidade e utilizar o Código Penal contra o movimento.

Atocha e Bagdá: a agonia do proletariado

O imigrante brasileiro morto no atentado na estação Atocha de Madri era um trabalhador da construção civil, como eram os outros trabalhadores (as) e jovens, espanhóis e imigrantes, assassinados no atentado. A indignação e a dor das famílias que perderam seus entes em Madri se soma à dor das famílias iraquianas que sofreram os bombardeios de Bush e a ocupação, da qual participa as forças militares espanholas.

O atentado de Madri não é parte da resistência legítima contra a ocupação do Iraque.
Ao contrário, independente do resultado das eleições, este tipo de ação fortalece a repressão ao movimento operário. Fortalece a direita.

Seria um profundo erro creditar aos atentados o resultado das eleições e a possibilidade de que as tropas espanholas sejam retiradas. A resposta dada pelas massas, espontânea e fora do controle do PSOE e da IU, foi decisiva para a derrota do governo. É a mobilização das massas que pode garantir a retirada das tropas espanholas e a resistência à ocupação no interior do Iraque.

Entretanto, algo completamente distinto dos atentados de Madri, é a resistência armada no interior do Iraque contra as tropas de ocupação. Esta tem legitimidade para utilizar todos os meios disponíveis para expulsar o invasor, com meios militares qualitativamente superiores, que utiliza o terror contra uma população submetida militarmente. Neste caso, os atos de resistência não são atos de “terrorismo”, como divulga a imprensa burguesa mundial. É uma luta mais do que legítima para expulsar os invasores.

  • SAIBA MAIS SOBRE O ETA (Euskadi ta Askatasuna, Liberdade para o País Basco)

    O País Basco ou Euskadi é uma das três nacionalidades históricas que junto com Galícia e Catalunya formam o Estado Espanhol. Os Bascos, situados no norte do Estado Espanhol, travam uma luta pela independência da Espanha. O partido que defende a independência do País Basco, Batasuna, foi posto na ilegalidade pelo governo, impedido de concorrer às eleições, mesmo tendo 10% dos votos na eleição passada. O ETA é uma organização que tem na prática do terror o centro de suas ações pela independência.

    Post author João Ricardo Soares,
    da Direção Nacional do PSTU
    Publication Date