Primeiro-ministro Mariano Rajoy

Durante muitos meses, cada notícia sobre a crise da banca espanhola foi motivo de angústia para a população trabalhadora, que se perguntava: quantos cortes, quanto desemprego, quanta pobreza serão ainda necessários para salvar banqueiros que nos roubaram durante anos em completa impunidade?

Agora a angústia é, se possível, maior porque a montanha de dinheiro público comprometida para “nacionalizar” as perdas do Bankia e de outras entidades em quebra é enorme, entre 60 e 80 bilhões de euros, segundo os cálculos divulgados. Essa montanha de perdas privadas, causadas por diretores mafiosos, é a que o primeiro-ministro Mariano Rajoy (com o consentimento do PSOE) vai converter agora em dívida pública, para que seja paga pelo povo trabalhador, como vem acontecendo até agora.

Sob intervenção da Troika
Mas o problema agravou-se porque, em plena fuga de capitais, com o sistema de crédito paralisado, com a taxa de risco [diferença entre os juros cobrados para financiar a dívida alemã e os cobrados para financiar a dívida de cada um dos países da UE] nas nuvens e a Bolsa em colapso, o Estado não tem já capacidade de endividar-se para conseguir esta nova massa de dinheiro e continuar a pagar a avultada dívida pública atual aos banqueiros. De forma que o governo se encontra condenado a recorrer aos fundos de resgate europeus. Só espera que se concretize o valor da operação para fazê-lo. Mas isso tem um preço: a intervenção do país pela troika (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional).

É um verdadeiro escândalo, porque vamos estar sob intervenção por uma dívida que o governo vai contrair sem outro fim que assegurar que os bancos alemães e franceses e o BCE possam cobrar as enormes dívidas que os bancos espanhóis em quebra têm com eles e que, de outro modo, não cobrariam. Estamos, na realidade, ante um resgate dos bancos alemães e franceses credores, aos quais deverão pagar a classe trabalhadora e as classes médias.

Uma intervenção suave?
Rajoy comprometeu-se publicamente em entregar a Angela Merkel e à UE o controle de toda a política econômica espanhola e a supervisão do sistema bancário, a obedecer ao pé da letra todas as ordens que venham de Berlim e Bruxelas. Em troca, suplicou que o governo não esteja formalmente sob intervenção e que a troika resgate diretamente os bancos.

Este foi o grande conflito de Rajoy com Merkel, partidária de uma intervenção direta, “à grega” ou “à portuguesa”. A razão é que, para os grandes banqueiros espanhóis e para o seu representante político, Rajoy, é muito diferente que a intervenção se faça de uma forma ou de outra.

A diferença não são os programas de ajuste, que em ambos os casos são idênticos. O problema reside em que uma intervenção “à grega” significaria que o governo espanhol deixaria de existir como tal para ser substituído por um governo da troika, onde os ministros espanhóis seriam meros garotos de recado. E então – e aqui está o “X” da questão – o governo da troika seria o governo dos bancos alemães e franceses e não, como no caso de Rajoy (e antes o ex-primeiro-ministro Zapatero, do PSOE), o governo dos bancos Santander e do BBVA, que, no caso de ser a troika a governar, ficariam sem proteção e às custas dos bancos alemães e franceses, com um destino incerto. O mesmo destino que o do capitalismo espanhol (e as suas multinacionais) na UE e no mundo.

As últimas notícias da imprensa dizem que Merkel e a UE “concordaram” com um “resgate suave” no qual o governo sofreria uma intervenção da UE, mas através do FROB (o fundo espanhol de resgate bancário). Isso significa passar a política econômica a Merkel e a Bruxelas e deixar em suas mãos a liquidação dos bancos resgatados. Em troca, o governo salvaria, relativamente, as aparências e manteria uma certa margem de manobra para continuar a defender o papel da grande banca espanhola como sócia menor e cúmplice dos bancos alemães e franceses. Como parte do pacote, os planos de ajuste serão drasticamente endurecidos.

Estão nos colocando numa espiral à grega de empobrecimento e ruína
A propaganda do governo está concentrada numa mensagem: “agora estamos mal e ainda vamos sofrer mais, mas é preciso ter fé porque não demoraremos a ver, com a ajuda da Europa, a luz no fim do túnel”. Esta mensagem, que busca justificar a nova onde de ajustes que irão acompanhar a intervenção da troika, é uma fiel reprodução do que disseram os governos grego e português quando sofreram intervenção. Mas aqui, como lá, mentem. O que vemos na Grécia e em Portugal não é nenhuma luz, mas miséria e sofrimento sem fim e sem esperança.

A intervenção “suave” de que fala a imprensa significa, na realidade, um salto substancial, pilotado desta vez de Berlim e Bruxelas, na ofensiva para desmantelar o que resta do exíguo Estado de bem-estar (incluindo desta vez ataques às pensões e ao subsídio de desemprego); vender o que resta de patrimônio público; afogar o povo com novos aumentos de impostos; cortar emprego público e arrasar os direitos trabalhistas que ainda restam (na Companhia Espanhola de Laminação – Celsa, em Barcelona, a patronal quer despedir 200 trabalhadores entre os 1200 atuais, aumentar em 12 dias a jornada de trabalho e reduzir 20% dos salários).

Como mostram Grécia e Portugal, cada plano de ajuste não é mais que o prelúdio de outro ainda mais agressivo, pela simples razão de que quanto mais se espolia o país e este mais retrocede e se empobrece, mais a dívida cresce e se forma uma espiral que não tem fim. O primeiro “resgate” europeu da Grécia foi em maio de 2010, e agora, dois anos depois, sabemos que a “ajuda” da troika foi parar nos bancos credores e que o povo não viu nem um euro. Sabemos que o nível de vida retrocedeu entre 30 e 40%, a miséria atingiu amplos setores da população, vive-se uma situação de emergência sanitária, os suicídios dispararam e a esperança de vida começa a diminuir. É nesta espiral grega que querem nos meter.

É preciso um grande Encontro Nacional
para organizar a resposta ao resgate e à intervenção

Estamos num momento crucial que nos obriga imperiosamente a unir todas as forças para enfrentar o resgate e a intervenção da Troika. O resgate é uma enorme fraude, um roubo puro e duro ao povo trabalhador.

É urgente juntar todos os que querem lutar contra o resgate num grande Encontro Nacional que defina um plano de mobilização para enfrentá-lo. Um Encontro onde estejam as assembleias do 15M, o sindicalismo alternativo, as organizações de professores e de pessoal da saúde em luta, as organizações e coordenações estudantis, as empresas em luta, a plataforma contra os despejos, etc.

É preciso um plano:
– Que diga Não ao resgate e à intervenção;
– Que em lugar de socializar as suas perdas, exija a expropriação de toda a banca, integralmente, sem indenizar nenhum grande acionista nem grande investidor, exigindo responsabilidades e a devolução do dinheiro dos responsáveis pelas quebras, que devem responder com seu patrimônio e com a prisão;
– Que exija a imediata suspensão do pagamento da dívida pública aos banqueiros e uma Auditoria pública que revele o caráter ilegítimo e fraudulento da dívida. O dinheiro existe, só é preciso investi-lo nas necessidades sociais básicas, e não ao enriquecimento dos banqueiros;
– Que se comprometa a lutar por um plano de resgate, mas dos trabalhadores e dos setores populares, que revogue os cortes e reestruturações e ataque de frente o desemprego.

Não podemos esperar nada da UE
Primeiro, venderam-nos a ideia de que a UE era a via de acesso ao progresso e à modernidade. Depois, já na UE e com o euro e em plena bolha imobiliária, disseram-nos que nos converteríamos numa potência mundial. Agora, dizem-nos que a UE é a solução da crise e que necessitamos “mais Europa”. Neste apego desesperado à UE estão o PP e o PSOE, acompanhados pela burocracia sindical de Comisiones Obreras-UGT e também pela direção de Esquerda Unida (IU), que suaviza a sua capitulação dizendo que é preciso uma Europa “mais social”.

Porém, “mais Europa” é a “união fiscal e política” de Merkel, que Rajoy e o seu ministro da Economia, Luis de Guindos, e o secretário-geral do PSOE, Alfredo Rubalcaba, acatam com entusiasmo. Mas a Merkel não se pode acusar de não ser clara. O seu plano significa que acabou a soberania dos Estados. Quer dizer que a política trabalhista, o gasto público, os impostos, as pensões e as privatizações serão decididas por Bruxelas ou, o que dá no mesmo, pelo imperialismo alemão, em colaboração com o francês. E quer dizer também, como já declararam vários ministros alemães, que o destino que apontam para a “periferia castigada pela crise” são “zonas especiais de produção”, onde as empresas pagariam menos impostos, os salários não seriam regulados por convenções e as leis ambientais seriam dribladas, como acontece nas fábricas (chamadas “maquilas) da fronteira do México com os Estados Unidos!

É preciso sair do euro e
romper com a UE o quanto antes!

Assustam-nos com a saída do euro e dizem que é preciso estar dispostos a qualquer sacrifício contanto que permaneçamos na moeda única, porque fora desta união monetária nos aguarda o inferno. Estes argumentos podiam ser utilizados há dois ou três anos, quando as pessoas não sabiam o que queria dizer na prática. Mas, agora, sabemos o que aconteceu e o que está acontecendo na Irlanda, Portugal, Grécia e entre nós. E o que vemos é que o inferno é permanecer no euro, sob o comando dos banqueiros e multinacionais que mandam na UE. A Grécia é o exemplo mais brutal: é um país que em apenas dois anos sofreu uma devastação tamanha que só é comparável à de uma guerra.

Não podemos pagar o preço de um retrocesso histórico de 50 anos, o desmantelamento de todas as conquistas sociais e trabalhistas, e o desemprego maciço e a precariedade generalizada e sem esperança, somente porque os grandes banqueiros espanhóis querem participar, mesmo que lhes sejam destinados os restos, do festim do euro. Estamos perante uma evidência: sair do euro e romper com a UE é uma necessidade vital se não queremos acabar como a Grécia.

Mas temos que ser conscientes, ao mesmo tempo, que a saída do euro, por si só, não é a solução e que, se saímos, vão tentar nos arrebentar. Por isso, esta saída deve ser acompanhada de uma mudança radical das regras do jogo capitalista e de passos firmes em direção a uma nova sociedade socialista. Não há outra solução. A saída do euro deve vir acompanhada de medidas como a expropriação da banca e a unificação do sistema de crédito para reorganizar a economia ao serviço da imensa maioria; da nacionalização sob controle dos trabalhadores das empresas e setores estratégicos; da colocação em marcha de grandes planos públicos para criar emprego e dividir o trabalho entre todos; do estabelecimento do controle estrito dos movimentos de capitais e do monopólio do comércio exterior; e, acima de tudo, unir forças com os trabalhadores e os povos da Europa, da periferia e dos países centrais, porque só assim poderemos vencer esta luta comum por uma Europa socialista unida.

  • Não ao resgate europeu e à intervenção da UE!
  • Suspensão do pagamento da dívida pública aos banqueiros!
  • Expropriação dos bancos!

    Fonte: www.corrienteroja.net/

    Tradução: MAS de Portugal (www.mas.org.pt)