Bolsonaro participa de evento com militares Foto Fernando Frazão/Agência Brasil

Em pleno aniversário de 55 anos do golpe, governo usa dinheiro público para fazer propaganda do regime que matou, estuprou e perseguiu opositores

Não bastasse enaltecer o golpe de 1964 e a ditadura militar, a tortura, o assassinato e perseguição contra opositores políticos, Bolsonaro foi mais longe e colocou o aparato do Estado para fazer propaganda do regime de exceção, com recursos públicos. Depois de Bolsonaro determinar que o golpe fosse comemorado nos quarteis, um vídeo enaltecendo a ditadura foi divulgado pelo número oficial de WhatsApp do Planalto neste domingo, aniversário de 55 anos do golpe.

O vídeo, sem assinatura, traz a versão difundida por Bolsonaro e setores da ultradireita, de que o Exército teria “salvado” o país ameaçado por “comunistas” e “greves nas fábricas”. O vídeo de 2 minutos traz um narrador que desenha o cenário fantasioso difundido por esses setores. “Era um tempo de medo e ameaças, ameaças daquilo que os comunistas faziam aonde era imposto sem exceção”, diz.

“Havia sim muito medo no ar, greve nas fábricas”, complementa, dizendo que o “o povo” conclamou a ação do Exército. “Foi só aí que a escuridão foi passando e fez-se a luz”, diz, para arrematar: “O Exército nos salvou”. É a mesma versão delirante que justifica o golpe e que subsiste no interior da caserna e de certas cabeças que habitam hoje o Palácio do Planalto.

VEJA O VÍDEO:

Apesar de anônimo, o WhatsApp pelo qual o vídeo foi difundido é gerenciado pela Secretaria de Comunicação da Presidência, que confirmou à imprensa a autoria do material, mas se negou a dar maiores informações.

Provocação e escárnio
Além de uma completa distorção da história, o vídeo divulgado pelo Planalto, em pleno aniversário do golpe, é uma provocação inaceitável e um escárnio contra as vítimas da ditadura militar, os familiares dos mortos e desaparecidos, e contra o próprio povo brasileiro que viveu 21 anos sob um regime de exceção.

Nada é falado sobre as torturas, assassinatos, estupros praticados sistematicamente pelos órgãos de repressão da ditadura. Ou a censura imposta sobre os meios de comunicação, que impedia a divulgação dos inúmeros casos de corrupção que, agora sabemos, era a regra naquele período. Não foi por menos que as grandes empreiteiras, como a Odebrecht, que se enrolaram na Lava Jato, cresceram na ditadura, assim como personalidades como Paulo Maluf e outros grandes corruptos da nossa história.

Mais ridículo ainda é o tom pretensamente nacionalista do governo, exatamente no momento em que Bolsonaro entrega o país de bandeja aos EUA e se coloca de joelhos diante de Trump.

Esse tipo de absurdo só pode acontecer hoje porque no Brasil, diferente de outros países, não se puniu os assassinos e torturadores da ditadura. Nossa história não foi passada a limpo e essa situação permite que certos setores abjetos difundam uma versão criminosa da ditadura. Não se pode aceitar esse tipo de coisa, é preciso investigar os responsáveis pela produção e difusão desse vídeo vergonhoso.

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