Daniel Dantas se esbaldou nas privatizações de FHC e abasteceu o mensalão do PTA operação da Polícia Federal (PF) que resultou na prisão de célebres corruptos como o banqueiro Daniel Dantas, o especulador Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, revela bem mais que as ações orquestradas de uma organização que se sustenta através de crimes como fraudes no sistema financeiro e lavagem de dinheiro.

Na chamada Operação Satiagraha, vinte e duas pessoas foram presas. Entre os principais crimes investigados, estão gestão fraudulenta, formação de quadrilha, evasão de divisas, ou seja, a remessa ilegal de dinheiro para o exterior, e lavagem de dinheiro. O principal nome envolvido nas investigações é o de Daniel Dantas, dono do banco Opportunity, considerado o líder da quadrilha.

Segundo o relatório da PF, a organização contava com inúmeras ramificações. Enquanto Dantas agia no desvio de verbas públicas, fraudes e toda espécie de crime financeiro, Nahas atuava com doleiros para trazer o dinheiro enviado ilegalmente pelo banqueiro ao exterior de volta ao país. Numa das pontas desse esquema, figura Celso Pitta, cliente de Nahas. O relatório do delegado Protógenes Queiroz classifica a gestão Pitta como um “grande assalto aos cofres públicos, travestido de mandato governamental”.

Justiça de classe
Antes mesmo que alguém pudesse achar que a Justiça estava mudando, punindo agora também os criminosos de colarinho branco, os peixes grandes foram soltos. O caso mais emblemático foi o de Dantas. Funcionários do banqueiro foram flagrados dias antes oferecendo propina ao delegado em troca da retirada do nome dele do processo. Para os emissários de Dantas, o banqueiro estava preocupado apenas com a primeira instância, pois “Dantas não tem medo do STF, lá ele resolve fácil”, disseram.
Dito e feito. Tão logo Dantas foi preso, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, criticou a ação da PF e mandou soltar o banqueiro. O delegado que ordenou sua prisão pediu novamente a detenção do banqueiro, que ficou apenas algumas horas na Polícia Federal até ser libertado por Mendes novamente. Não temendo a exposição que teria, o juiz agiu como um verdadeiro advogado de Dantas no STF. Além de ilegal, já que Dantas não teria direito a foro especial, a ação do presidente do Supremo mostrou a justiça de classe que vigora no país, que não permite que um banqueiro permaneça preso mesmo com toneladas de evidências de seus crimes.

Submundo do crime
As recentes investigações são desdobramentos do escândalo do mensalão, que balançou o governo Lula em 2005. O caso revelou um mega-esquema de desvio de recursos públicos de estatais para a compra de deputados em votações importantes para o governo, como a reforma da Previdência em 2003.
Tais desvios eram realizados através de contratos entre estatais e empresas privadas. O dinheiro do mensalão era então canalizado para o chamado “valerioduto”, contas do publicitário Marcos Valério, um dos chefes do esquema. As principais empresas que abasteciam o “valerioduto” eram a Telemig e a Amazônia Celular, então comandadas por Dantas.

Grandes interesses
O escândalo escancara as relações promíscuas entre o setor público e privado. O próprio Dantas fez fortuna através de sua aproximação com o poder. Primeiramente através do PFL e do falecido ACM, que abriu as portas do governo Collor para o banqueiro. Posteriormente, Dantas se esbaldou na farra das privatizações do governo FHC.

Com informações privilegiadas fornecidas pelos tucanos, o banqueiro montou o Opportunity Fund, que participou, junto com os fundos de pensão das estatais, das privatizações do sistema Telebrás. Foi nessa época que Dantas teria se aproximado de Nanhas. “As águas turvas e podres em que Naji Nahas e Daniel Dantas se encontraram remontam a época das privatizações de empresas estatais, em especial telefonia fixa e móvel”, diz o relatório da PF.

No governo Lula, Dantas se aproximou do PT, pagando parte da conta do mensalão. Além de ter estabelecido relações com o então tesoureiro petista Delúbio Soares, o banqueiro contratou os serviços de Luiz Eduardo Greenhalgh. Advogado e ex-deputado do PT, Greenhalgh ficou famoso por defender perseguidos pela ditadura e ativistas de movimentos sociais. Virou agora lobista de Dantas no Planalto.

O último grande negócio em que Dantas esteve envolvido mostra bem a relação que o banqueiro estabeleceu com o governo. O dono do Opportunity costurou a venda da Brasil Telecom (BrT) para a Oi, por um valor bem acima do preço de mercado. Para viabilizar a negociata, o Banco do Brasil concedeu um empréstimo de nada menos que R$ 4,3 bilhões à Oi. Já o BNDES vai liberar R$ 2,5 bilhões para a concretização de um dos maiores negócios do capitalismo brasileiro. O que Dantas vai ganhar com isso? Quase um bilhão de dólares. Essa é a cifra que a Oi pagará a Dantas, que é acionista da BrT.

Todo o financiamento estatal para o negócio chega a 62% da compra. O negócio, pago com dinheiro público, trará o monopólio nacional privado para a telefonia. Evidentemente, os trabalhadores pagarão a conta: mais tarifas e mais impostos.
Como se isso não bastasse, como a fusão das empresas é ilegal na atual legislação, o governo se comprometeu a mudar a lei para atender os interesses dos empresários.

.Panos quentes
Dantas virou um verdadeiro arquivo ambulante. Esconde segredos de tucanos e petistas. O relatório de Protógenes levanta ainda a “suspeita que além de Dantas e Nahas, existe um comando central acima deles”. Ou seja, essa pode ser apenas a ponta do iceberg.

Não é de se estranhar, portanto, todo o esforço da direção da PF e do governo para afastarem os delegados responsáveis pelas investigações.

O jogo de cena de Lula
Após o governo iniciar a operação abafa no caso Dantas, Lula resolveu fazer novo jogo de cena para tentar enganar a população. O presidente disse que o delegado da PF, Protógenes Queiroz, responsável pelo inquérito contra o banqueiro, tem a “obrigação moral” de continuar à frente do caso. O delegado, porém, foi afastado depois que Dantas ameaçou abrir a boca e entregar muito peixe graúdo da República.

A sujeira de Dantas começava a subir a rampa do Planalto e provocou a súbita mudança de atitude do governo. As gravações de Greenhalgh, contratado por Dantas, pedindo favores ao companheiro Gilberto Carvalho, assessor do presidente; o envolvimento do compadre de Lula, Roberto Teixeira, pago pra fazer tráfico de influência; ministros que prestavam serviços ao banqueiro, como Roberto Mangabeira Unger, e até de negócios escusos entre o filho do presidente (o ‘Lulinha’) com Dantas, ameaçavam seriamente o governo.

A declaração de Lula sobre Protógenes, portanto, não passa de uma encenação para atenuar o desgaste do governo no caso. Como em outros casos de corrupção, a impunidade aos poderosos reinará. Talvez isso explique o largo sorriso de Salvatore Alberto Cacciola ao desembarcar no Brasil.

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