Depois de ter despejado mísseis e bombas sobre Gaza e Cisjordânia, sob pretexto de libertar um soldado israelense preso em combate pela resistência palestina, Israel dá prosseguimento à sua aventura imperialista no Oriente Médio invadindo o Líbano. A desculpa para essa nova incursão sobre Beirute e outras regiões libanesas é a mesma: libertar soldados israelenses presos durante uma ação de guerra pelo grupo islâmico Hizbollah.

Armado até os dentes pelos Estados Unidos, e concentrando o ódio cada vez maior das massas árabes, Israel está assistindo ao crescimento dos grupos islâmicos armados – o Hamas passou de “grupo terrorista” a governante da Autoridade Nacional Palestina (ANP). E o Hizbollah dirige de fato o sul do Líbano. Enquanto os palestinos apenas tinham como recurso atos terroristas isolados, Israel não era ameaçado diretamente, pois contava com a superioridade militar e a colaboração de governos como do Egito ou da Arábia Saudita e de dirigentes vendidos como Mahmoud Abbas, presidente da ANP. Mas os recentes sucessos das ações de guerrilhas palestinas, e agora das libanesas com o Hizbollah, gerou a crise de Israel, que tenta garantir a todo custo a submissão total dos povos árabes.

A reação israelense já deixou mais de 100 mortos, milhares de feridos, além de centenas de pontes e edifícios destruídos e à infra-estrutura do país extremamente comprometida. Um oficial de alta patente disse que Israel fará o Líbano voltar “20 anos”, atacando sua infra-estrutura. É a política de terra arrasada, com a qual Israel vem construindo sua história macabra, desde que surgiu, em 1948. Mas os ataques a civis e a infra-estrutura básica, tanto em Gaza quanto no Líbano, tendem a dar o resultado contrário, pois colocam a população da região com mais ódio e apoio à resistência.

O papel nefasto da ONU
Enquanto as bombas israelenses fazem as suas vítimas e destroem um país inteiro, os cavalheiros e damas da ONU e do G8 (grupo que reúne os sete países mais ricos do mundo mais a Rússia) não fazem outra coisa além de discursos. “A ação de defesa israelense deve ser comedida”, diz Condoleezza Rice, secretária de Estado dos EUA, que não tem vergonha de chamar de “ação de defesa” uma agressão que viola até mesmo a Convenção de Genebra. A Convenção proíbe ataques com a intenção de atingir a população civil, a infra-estrutura e o castigo coletivo contra toda uma população. É exatamente isso que Israel está cinicamente fazendo para “se defender dos terroristas”. Usa o terror de Estado para quebrar a moral da população e fazer com que entreguem os resistentes.

Bush disse que Israel tem o “direito de se defender”, ao mesmo tempo em que nega o mesmo direito aos palestinos e libaneses. Kofi Annan, secretário-geral da ONU, se diz profundamente “alarmado”. Todas essas palavras são ditas enquanto Israel obtém duas vitórias no Conselho de Segurança (CS) da ONU. No dia 14, os EUA vetaram uma resolução do CS que exigia o fim da ofensiva militar de Israel na Faixa de Gaza, o que significa que os palestinos vão continuar sendo brutalmente mortos, sem que a ONU mexa um dedo para detê-los. No dia, o CS negou o pedido feito pelo Líbano de exigir o cessar-fogo na região. A União Européia apenas acompanha a política dos EUA com mais “lamentos pelas mortes de civis”.

Assim, a ONU mostra mais uma vez até que ponto está a serviço da política imperialista na região e que pouco ou nada se importa com a gritante violação dos direitos humanos praticada impunemente pelo Estado de Israel.

Ataques de Israel ampliam a crise no Oriente Médio
A reação desproporcional do Estado sionista, negando-se a negociar a libertação de prisioneiros em troca dos soldados em poder dos palestinos e do Hizbollah, demonstra que a correlação de forças na região está se invertendo, contra Israel e os EUA. Os grupos islâmicos vêm se tornando as principais forças políticas de resistência às ocupações da Palestina, e gozam de crescente apoio popular. Daí a reação desesperada de Israel, que tem dificuldades cada vez maiores para manter seu tacão assassino. Estas dificuldades acompanham a crise da política imperialista da chamada “guerra contra o terror”, à qual Israel está associado.

O descontrole sobre o Iraque e o Afeganistão, e a oposição cada vez maior que encontra no Irã, são apenas alguns dos exemplos mais gritantes do fracasso dos planos de Bush para dominar o Oriente Médio.

A cada novo ataque, cresce o ódio dos povos árabes contra o Estado sionista. No Líbano, onde vivem mais de 300 mil palestinos, a reconstrução da infra-estrutura ainda estava sendo feita, já que o país amargou 15 anos de guerra civil, entre 1975 e 1990. Ainda estão frescos na memória dos libaneses os episódios sangrentos e que entraram para o currículo de carrascos da humanidade, como Ariel Sharon, que comandou as forças israelenses ocupantes e ordenou massacres de palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Shatila. Um saldo macabro só comparável às ações de Hitler na Segunda Guerra Mundial. Israel só deixou o território libanês em 2000. Portanto, o país ainda estava se recuperando da última guerra quando novas bombas israelenses voltam a destruir o que não havia sido plenamente reconstruído.

O outro lado dessa ofensiva é a ampliação da resistência libanesa e palestina, que está sendo capaz de desferir duros golpes na máquina militar sionista. Apesar dos ataques devastadores, o Hizbollah foi capaz de atingir e incendiar um navio israelense que bloqueava o porto de Beirute e enviar mísseis a várias cidades do norte de Israel. Além disso, Israel não tem uma alternativa clara para forçar as guerrilhas a parar os ataques, seja em Gaza, seja no sul do Líbano.

Tudo isso amplia a crise entre Israel e Líbano, que ameaça se estender a Síria e Irã, gerando um repúdio generalizado ao Estado sionista e enfraquecendo sua posição em todo o Oriente Médio. Também põe a nu a falência dos Acordos de Oslo, assinados entre a ANP e Israel, sob o patrocínio dos EUA, e de todos os acordos de paz assinados até hoje, que visam manter o roubo do território palestino.

O aumento da resistência vem demonstrando a falência absoluta dos planos imperialistas para a região. E o que está desequilibrando a situação é a persistência e a radicalização da resistência. Os trabalhadores do mundo devem tomar uma posição contra a agressão israelense e apoiar a resistência palestina e libanesa. Assim como no Iraque, uma derrota israelense estimulará a luta dos povos do Oriente Médio contra o imperialismo e o Estado gendarme de Israel.

Post author
Publication Date