Há duas semanas protestos tomam conta de todo Equador. Camponeses, indígenas, trabalhadores e estudantes estão realizando passeatas, bloqueios de estradas e marchas sobre a capital, Quito, contra a implementação do Tratado de Livre Comércio (TLC), negociado pelo governo de Alfredo Palácio com os Estados Unidos.

As manifestações também exigem a saída da petroleira norte-americana Oxy do país e o fim da base militar norte-americana de Manta, estratégica para o Plano Colômbia. Os protestos foram convocados pela Conaie (Confederação Nacional dos Indígenas do Equador) e atingem, segundo a imprensa, 11 das 22 províncias do país. A Conaie defende a suspensão imediata das negociações do TLC e a realização de um plebiscito popular sobre a questão.

O governo, por sua vez, se mantém intransigente e desencadeou uma violenta repressão contra as manifestações. A Conaie afirma que mais de 40 ativistas estão hospitalizados por conta da repressão. “Houve uma brutal repressão contra nossos irmãos amazônicos. Não deveria ser assim, já que saímos pacificamente às ruas para dizer não a assinatura do TLC e temos o direito constitucional de protestar”, declarou Luis Macas, presidente da Conaie. Palácios tenta agora esmagar as mobilizações e decretou, no dia 22 de março, Estado de Emergência em cinco províncias do país. O exército foi chamado para ocupar as estradas e enfrentar os protestos. Os manifestantes, entretanto, não se intimidaram e seguiram protestando e enfrentando a polícia.

No dia 22, camponeses da região de Los Rios, no litoral do Equador, aderiram aos protestos contra o TLC e bloquearam uma via que comunica a cidade com o centro de Guayas. Outros bloqueios estão impedindo que veículos carregados de produtos cheguem até Quito, causando problemas de abastecimento na cidade.

Estudantes universitários e secundaristas também se uniram aos protestos e realizam passeatas na capital. Nessa quinta-feira, dia 23, uma marcha de estudantes e camponeses se enfrentou com a polícia nos arredores do Parlamento. A policia agiu violentamente, atirando bombas de efeito moral e gás lacrimogêneo sobre a manifestação.

Trabalhadores da Petroecuador também participaram dos protestos e realizaram uma marcha até o Ministério de Minas e Energia.

Colônia
As rodadas de negociações do TLC entraram em uma fase decisiva. A intenção de Palácio e implementar o acordo nos próximos dias.

As negociações vêm sendo realizadas desde que Palácio assumiu o governo, depois que Lúcio Gutierrez foi derrubado por um levante popular em março do ano passado.
Os termos do Tratado são negociados secretamente com os representantes comerciais norte-americanos, o que impossibilita a população conhecer o seu conteúdo. Mas uma coisa é certa. Com a implementação do TLC, não haverá nenhuma restrição às importações, o que significa uma invasão dos produtos norte-americanos sobre o Equador, um dos países mais recolonizados da América Latina. Hoje, pouco resta da sua soberania. Sua economia segue dolarizada e metade dos recursos do orçamento é destinado ao pagamento da dívida externa. A implementação do TLC seria o coroamento desse processo, convertendo o Equador numa colônia do imperialismo ianque.
A adoção do TLC também fortalece a estratégia do imperialismo de implementar a Alca no conjunto da América Latina. Outros TLCs já foram implementados no Peru e na Colômbia.

Além disso, o Equador enfrenta a pilhagem de seus recursos naturais, em especial do petróleo, pelas empresas imperialistas. A petroleira norte-americana OXY realiza uma verdadeira rapina do país, extraíndo o petróleo de forma ilegal e desrespeitando contratos e leis ambientais. As operações da empresa são tão escandalosas que até procuradores do Estado recomendaram o fim dos contratos com a OXY.

Continuidade
A recente história de lutas do povo equatoriano indica que as manifestações estão distantes de terminar. Em janeiro de 2000, uma poderosa marcha indígena tomou o Congresso Nacional e derrubou o presidente Jamil Mahuad, que fugiu escondido do palácio presidencial. A cena se repetiu no ano passado com Lucio Gutiérrez. Palácio assumiu o governo em meio a uma grave crise social e evitou se pronunciar sobre as negociações do TLC e a base militar de Manta. Contudo, recebeu numa reunião fechada, logo após sua posse, a embaixadora dos EUA, Kristie Kenney, que saiu da reunião muito feliz e afirmou: “Conheci Alfredo Palácio quando era vice-presidente, temos mantido sempre um bom contato e seguiremos assim”. Na verdade, Palácio esperava melhores dias para voltar a vender a soberania do país.

A conversão do Estado equatoriano em um aparato voltado aos especuladores financeiros e as multinacionais amplia a polarização social no país. Um recrudescimento das lutas travadas hoje no país poderá conduzir Palácio ao mesmo destino dos presidentes que o antecederam. Seu destino está sendo decidido nas ruas.