O diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil do Ceará, Laércio Cleiton Silva, conta o que passou quando contraiu dengueVocê recentemente teve dengue. Como foi o acesso aos serviços de saúde de Fortaleza?
No dia 18 de março comecei a sentir dores musculares, febre alta, cólicas abdominais, manchas vermelhas na pele. Procurei o Hospital Nossa Sra da Conceição, mas não consegui ser atendido devido à superlotação. No dia seguinte retornei ao mesmo hospital, sem conseguir ser atendido novamente. Ainda não tinha sido confirmado o diagnóstico de dengue. No domingo, tentei pela ultima vez atendimento no mesmo hospital, sem êxito. Busquei então um Hospital da região metropolitana de Fortaleza forjando um endereço falso, onde fui medicado, tomei soro e fiz exames laboratoriais. Neles foi constatada a doença, minhas plaquetas estavam baixas. Fui para minha casa, retornando na segunda ao mesmo hospital. Não consegui fazer outros exames, então procurei uma clínica particular para ficar monitorando a doença, onde pagava diariamente uma média de 35 reais para realizar o exame e ser atendido por um médico, isso durante seis dias. Os sintomas foram amenizando, as plaquetas subindo, mas foram mais de dez dias de prostração, alimentando-me basicamente de liquido. Foi muito difícil.

Como você vê essa epidemia de dengue?
O que está acontecendo, a meu ver, é uma completa falta de empenho das autoridades para com a epidemia. Faltam médicos e outros profissionais nos serviços de saúde, superlotação. Só pra você ter uma ideia, havia uma média de 200 pessoas esperando para serem atendidas no Hospital do Conjunto Ceará para apenas dois médicos. As pessoas estão morrendo porque não sabem o que tem e não conseguem se consultar nem internamento.

Eu peguei dengue numa obra da construção civil que está praticamente abandonada. A prefeitura não fiscaliza esses locais que são os principais focos do mosquito, faz vista grossa. Existem muitos terrenos baldios, obras e construções abandonadas, que não são fiscalizadas. Ao redor desse prédio que falei parece uma piscina de água parada. Fora isso as pessoas não tem moradias adequadas, saneamento. Moram ao lado de rios e canais que não são limpos, atraindo ratos, mosquitos e outras pragas.

Aí fica o povo com raiva dos trabalhadores da saúde, e vice-e-versa, não entendendo que os verdadeiros culpados são os governantes. Todo ano é a mesma coisa e não existe postura dos gestores em relação ao problema. Além disso, os trabalhadores que adoecem sofrem retaliação dos patrões, pressão para trabalhar doentes, levam faltas, ficam a mercê da própria sorte, se automedicando.

Qual a saída que você vê para o enfrentamento destes problemas de saúde?
A gente tem que se unir pra enfrentar nossos inimigos que são os governantes corruptos. Trabalhadores da saúde e população juntos com o mesmo objetivo, organizar politicamente as pessoas, discutir nos sindicatos esses problemas. Dizer que a gente quer é saúde de qualidade, melhores condições de vida.