Rogério e Biro-Biro apresentam situação do Brasil aos trabalhadores europeus
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De volta da Europa, os militantes e dirigentes sindicais Rogério Romancini e Luiz Carlos, o Biro-Biro, deram uma entrevista para o Portal do PSTU. Ambos diretores do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, SP, eles foram demitidos pela Volkswagen no início de 2007. A Justiça ordenou que a empresa reintegrasse Rogério, mas, até o momento, não foi cumprida a sentença.

Na Alemanha, eles participaram do V Conselho Internacional da Indústria Automobilística e fizeram reuniões com trabalhadores da Volks no país. Na entrevista, Rogério e Biro-Biro contam como foi a viagem e as atividades das quais participaram e qual a relação que estabeleceram com os trabalhadores do velho continente, com a abertura de um diálogo desses com a Conlutas.

Portal do PSTU – Como foi a chegada de vocês na Alemanha? Em que países vocês estiveram?
Rogério Romancini-
Chegamos a Sttugart, na Alemanha, em 17 de maio, numa quinta-feira chuvosa, vindos de uma escala em Amsterdã, na Holanda, de duas horas. Era as 14h30 no horário de lá. Aqui ainda era 8h30 da manhã, cinco horas de diferença por causa do fuso horário.

No aeroporto de Sttugart os companheiros da Volkswagen de Hannover, um companheiro da Daimler de Sttugart, um companheiro da BMW de Munique com um companheiro advogado da Conlutas na Europa e o camarada Emilio, fluente em alemão, inglês, francês, espanhol. Ele foi nosso grande companheiro tradutor em nossos contatos com os trabalhadores alemães, franceses, norte-americano, espanhóis e em toda a conferência.

Como foi a recepção pelos operários da Volkswagen?
Biro-Biro –
Muito calorosa, pois os companheiros haviam acompanhado nossa luta pelo emprego no ano passado e também vivenciaram perdas de postos de trabalho na Alemanha. Por isso o convite, para juntos trocarmos experiências de nossas lutas e discutirmos ações comuns entre os trabalhadores de vários países.

De que reuniões vocês participaram, em quais cidades? O que ficou decidido na luta pelas readmissões?
Rogério –
Participamos do V Conselho de trabalhadores da Indústria Automobilística, em Sttugart, com trabalhadores de 14 plantas da Volks, Porsche e Audi, e mais trabalhadores de outras empresas de 17 paises diferentes. Isto ocorreu de 17 a 20 de maio. Também nos reunimos com trabalhadores da Volks em Braunschweig e em Hannover. Realizamos uma apresentação sobre as condições de trabalho na Volks do Brasil e nossas lutas, no Ig Metal, sindicato dos metalúrgicos da Alemanha, para trabalhadores da Volks.Os trabalhadores e delegados de empresa passaram listas pela readmissão e petições à central de Wolksburg.

Biro-Biro – Os companheiros já haviam divulgado a nossa campanha em seus materiais em seis plantas da Alemanha.

Há perspectiva de manter ações em comum com os trabalhadores europeus?
Biro-Biro
– Sim, sim. Os companheiros querem vir ao Brasil no ano que vem para o congresso da Conlutas. Manteremos contatos para lutas em comum e troca de informações.

Qual a situação dos trabalhadores das fábricas da Europa quanto aos salários, direitos, aluguel, preço da comida? Existe terceirização nas linhas? Em que se parece com o Brasil?
Rogério –
Hoje há muita redução de direitos e aumento do ritmo de produção. Só em Hannover, onde ficamos a maior parte do tempo, no ano passado foram eliminados 1.500 postos de trabalho. O salário de um companheiro, como o grau 6 aqui, na produção, é de 15 euros por hora, mas tem companheiros da autovisão nas linhas ganhando oito euros por hora. As férias são de seis semanas, o aluguel em média de 15% a 20% do salário mensal, e o seguro saúde mais 10% a 15% da renda mensal. Começam as terceirizações nas áreas de aquecimento. Quase igual ao Brasil, são os planos de governos e da patronal de retirada de direitos.

O que é o Conselho e quais as principais discussões? Quantos participantes e países participam?
Biro-Biro –
As principais discussões foram em torno dos planos patronais de demissões e retirada de direitos e formas de resistência unitária a esses planos. O Conselho é uma organização de trabalhadores de diversos países, todos do ramo automotivo, em Sttugart. Este ano, participaram 17 paises: Alemanha, Brasil, Estados Unidos, Espanha, México, Colômbia, Argentina, África do Sul, Sérvia, Hungria, Rússia, Índia, Filipinas, Bélgica, Holanda, Turquia e França.

Rogério –Estiveram no Conselho 550 trabalhadoras e trabalhadores de diversas partes da Alemanha e 50 convidados internacionais.

Vocês visitaram quais fábricas da Alemanha?
Rogério
– As plantas de Wolksburg e Hannover.

Que tipo de conflito existe entre os grupos fascistas e os operários de esquerda na Alemanha?
Biro-Biro –
O ultimo foi no 1º de Maio, em Berlim. Os fascistas tentaram invadir o ato dos trabalhadores, mas, no dia-a-dia, os fascistas e a polícia perseguem os trabalhadores de origem estrangeira.

Os europeus conhecem a Conlutas? Como eles viram o Dia Nacional de Mobilização em 23 de maio, houve alguma repercussão por lá?
Biro-Biro –
Eles não conheciam, mas ficaram admirados com o dia 23. Eles se solidarizam com os trabalhadores brasileiros contra os ataques do governo e da patronal. Vamos manter contatos para desenvolver campanhas comuns e trabalhar para vinda de uma grande delegação alemã ao próximo congresso da Conlutas, em 2008.

Vocês chegaram a presenciar alguma manifestação contra a reunião do G8 que acontece na semana que vem na Alemanha? Como está o clima para receber a reunião?
Rogério –
Não. Infelizmente, nós voltamos dias antes, mas a polícia já estava prendendo vários militantes de organizações de esquerda, semanas antes das manifestações, com a desculpa de que eram militantes violentos.

Sobre as demissões no Brasil, o Rogério teve a readmissão ordenada pela Justiça. A Volks recorreu da sentença?
Rogério –
A volks entrou na justiça com um embargo, uma medida judicial para ganhar tempo, mas ainda não entrou com recurso para cassar a sentença.

Quais os próximos passos da campanha pela readmissão?
Rogério –
Seguiremos aguardando a determinação da Justiça, que é de reintegração. Caso a Volks recorra da sentença, voltaremos a acampar na porta da fábrica.