Mustafá Barguti, presidente da delegação palestina ao II Fórum Social Mundial é Diretor do Centro de Estudos e Políticas Paletinas, e professor de Ciência Política. A delegação palestina ao Fórum é composta por 20 pessoas e tem causado grande impacto devido à forte solidariedade dos diversos grupos participantes do evento à Intifada Palestina, que vem resistindo aos ataques de Israel.

Depois dos atentados do dia 11 de setembro aos EUA, Israel retomou com muita força os bombardeios sobre a região da Palestina, com o objetivo de expandir a área ocupada pelo estado israelense. Fale um pouco sobre a retomada dos conflitos.
Israel existe como um governo que impõe crimes contra o povo palestino. Em especial a política de assassinatos. Israel assassina pessoas inocentes, o que representa uma violação da Convenção de Haia de 1907. Depois de 11 de setembro, Sharon tentou apresentar a luta justa dos palestinos como terrorismo, mas terrorismo é o que faz Israel, que já matou 1% da população palestina (cerca de 975 pessoas). No último ano foram feridas 26 mil pessoas, sendo que 30% desse total são crianças. Outras duas mil pessoas ficaram inválidas permanentemente.

Como tem sido a reação do povo palestino a essa ofensiva. Há mais coesão e resistência?
A Intifada é uma rebelião popular contra a ocupação e o `apartheid` imposto por Israel, que é muito forte, embora isso não apareça na mídia internacional. Por exemplo, em toda a região os palestinos têm uma cota de utilização de água, de 80 metros cúbicos por mês, enquanto os judeus podem usar até 1450 metros cúbicos. A renda per capita do povo palestino é de 800 dólares por ano, contra 18 mil dólares para os judeus. Os tanques de Israel destruíram 4.200 casas e estragaram outras 20 mil desde o ano passado, com os bombardeios. Os palestinos estão reagindo à ofensiva, mas não temos exércitos. Na melhor das hipóteses, em alguns enfrentamentos conseguimos alguns revólveres. Mas eles [o Exército judeu] estão sempre muito bem armados, com F-17 (aviões bombardeiros), foguetes ar-terra, etc. Mas inegável é que existe uma ocupação há 35 anos e o povo se fortalece por entender a importância de que a ocupação acabe porque impõe todo o tipo de injustiça.

A retomada dos ataques fortaleceu também as polêmicas internas, quanto à política de Iasser Arafat para enfrentar o conflito. Há muitas divergências entre os vários grupos políticos palestinos sobre as últimas ações realizadas pela Autoridade Palestina e a discussão sobre a possível sucessão de Arafat, é parte desse processo. Qual a sua avaliação sobre o governo de Arafat?
Nós fazemos críticas à política de Arafat, mas somente o povo palestino tem o poder de escolher seu líder. E isso tem que ser feito de modo democrático. Fazemos oposição de modo democrático e achamos que é assim que tem de ser.