“É essencial para o Fórum discutir um projeto Revolucionário”

Em entrevista para o PSTU, durante o Fórum Social Mundial, James Petras afirmou que acredita na construção de um mundo melhor, sem guerras, sem injustiça e sem discriminação. “É preciso derrotar o imperialismo para construírmos a sociedade socialista”, disse.
Petras é professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Binghamton e tem mais de 30 livros publicados, entre eles, Contra Ordem (1996), Neoliberalismo na América Latina, Estados Unidos e Europa (1998) e Armadilha Neoliberal e Hegemonia dos Estados Unidos no Novo Milênio.

Começando pela pergunta central deste fórum, você acha que um mundo melhor é possível?
“Sim, mas para isso é preciso derrotar o imperialismo, para construírmos a sociedade socialista. Nesta luta não há meio termo, é preciso mostrar a cara, contruir os enfrentamentos, as barricadas, enfim, ações que atuem na tomada de consciência. Ou seja, temos que assumir a luta por uma sociedade melhor e socialista e os riscos desta luta.”

Qual é o caminho para se chegar a esse mundo, Reforma ou Revolução?
“Esta pergunta é muito válida, porque o Fórum Social Mundial está aberto a várias alternativas. Uma é seguir reformando este sistema capitalista, se é que é possível reformá-lo. Outra é atuar para as transformações dos grandes poderes econômicos e socialização das questões políticas e sociais. Creio que, neste sentido, a crise econômica mundial e as guerras indicam que necessitamos mobilizar e transformar o poder pela ação dos trabalhadores da cidade e camponeses. Sendo assim, é essencial para o Fórum discutir um projeto Revolucionário.”

A implantação da ALCA é um dos grandes temas do Fórum, que lançará a campanha intercontinental contra essa área de comércio. Sua opinião …
“Veja, acho muito importante este tipo de iniciativa. Elas ajudam ao crescimento das mobilizações, que já são muitas, por toda a América Latina. Mas também é preciso fazer uma grande campanha de esclarecimento, de debates, com os movimerntos sociais, movimentos de massa. É preciso ter claro que a ALCA é um projeto neomercantilista. Os EUA estão criando um mundo de consumo para seus produtos, para excluir a concorrência européia. Mais que isso, a ALCA é uma extensão da política militar americana.”

Sobre o neomercantilismo, é correto afirmar que ele está deixando o projeto neoliberal para trás?
“Sim. Está havendo uma transição do neoliberalismo para o neomercantilismo”

O Fórum Social Mundial tem como um dos centros o ataque à globalização neoliberal. Na sua opinião, essa transição para uma nova fase do projeto neoliberal modifica o eixo de ações dos movimentos sociais?
“ Sim. Eu acho que, primeiro, nós devemos entender que a forma que toma o neomercantilismo implica mais intervenções do Estado Imperialista. Então, não se trata de uma luta social contra as multinacionais, mas de uma luta contra o Estado Imperialista, que é responsável pelas pressões, intervenções das crises econômicas e a proteção dos mercados, frustrando produtores e etc. Por isso, é preciso aprofundar e ampliar a visão sobre a configuração do poder mundial, que não é um simples problema do Fundo Monetário e multinacionais, tem que se ir mais além. O poder que dirige o Fundo monetário respalda as multinacionais, que não são autônomas, e atuam junto com os Estados. Isso implica a formação de um projeto político que enfrente os governos, ao invés de enviar representantes de governos imperialistas como participantes de um fórum anti-global, quando eles são instrumentos da dominação de suas próprias multinacionais”

Por que você diz que a palavra globalização envolve uma mentira?
“Porque uma premissa da globalização é a autonomia das multinacionais e de que há um novo governo mundial. É mentira porque o poder está na vinculação dos Estados imperialistas com as multinacionais e não multinacionais agindo à frente dos Estados. Em segundo lugar, os Estados transformados em terceiro mundo são instrumentos capazes de criar novas políticas, gerar transformações nas economias do mundo. T tanto como o imperialismo utiliza seus Estados para empurrar seus interesses, os governos populares podem estender e aprofundar seus mercados internos e redefinir sua inserção na forma de comércios e relações econômicas. Isso implica na luta contra o imperialismo e pela transformação dos Estados. E não o argumento de globalização, de que se deve formar redes internacionais para criar um novo governo mundial. Defendo o internacionalismo, mas a partir da criação de movimentos revolucionários nos países, que transformem os Estados para depois aprofundar as redes internacionais. E não ficar, à esmo, dizendo que somos internacionalistas sem ter raízes na luta de cada povo contra seus Estados, que são o primeiro obstáculo de resistência às multinacionais do imperialismo. O imperialismo funciona a partir de colaboradores nos países. A polícia militar é a primeira linha de defesa das multinacionais. Não se pode lutar contra as multinacionais sem entrar em conflito com os governos atuais e os Estados atuais. E para lutar e criar um internacionalismo mais forte é preciso um movimento que tenha poder político que tenham condições de se organizar com recursos materiais, tecnologia e o que mais for necessário, em solidariedade com outras frentes de luta”.

Durante o Fórum, você afirmou que grande parte da esquerda se curvou à psicose do terrorismo. Na sua opinião, o quê motivou essa opção política?
“As razões são muitas. Primeiro, por influência ideológica do imperialismo, com influência da imprensa mundial burguesa que exerce uma enorme pressão sobre os partidos de esquerda. Eles acreditam que não podem ir contra à influência monolítica da imprensa. Isso é normal, acontece com frequência. Um segundo aspecto é que muitos dirigentes e quadros estão integrados ao sistema capitalista. São bons profissionais, muitos são publicitários, economistas, especialistas em informática, enfim, é um grupo que vacila entre as classes populares e as classes dominantes e quando há muita pressão destes últimos se conformam com a estrutura organizativa em que estão inseridos. Ou seja, existem razões de estrutura econômica, de influência ideológica e, também, existem as limitações etnocêntrica, que poderíamos chamar o racismo que é parte da formação educativa”.

Você questionou a idéia do atentado de 11 de setembro ser fruto de uma conspiração terrorista internacional. Nos EUA, e mesmo fora, foi levantada a possibilidade, embora sem muita repercussão, do atentado ter sido organizado por setores de extrema direita. Você acha possível isso?
“Não existe nenhuma prova, ou indício, de que a extrema direita dos EUA esteja envolvida com os atentados. O que se sabe é que três participantes nos atentados receberam capacitação militar em bases norte americanas. Além disso, agentes israelitas, mais de 60, estavam circulando e tomando informações sobre dirigentes dos EUA.Especula-se que eles sabiam de alguma coisa, mas nada está provado. Eles foram capturados e interrogados depois. Não acho possível pensar que a CIA se autodestruiria, pois estaria prejudicando os grandes financistas. O que é certo é que os Estados Unidos utilizaram os atentados para lançar sua contra-ofensiva. Sobre os participantes nos atentados, primeiro não existem provas de estavam vinculados com o Afeganistão, tanto na formação ideológica quanto na militar. E mais, não houve nenhum atentado seguindo o primeiro e único atentado, onde está a conspiração terrorista internacional? No Afeganistão, não há nenhum atentado grave e é o centro de todos os terroristas com uma infinidade de filiados. Que significa isso? É uma capacidade de mostrar poder e para a qual se entregam milhares de soldados que querem virar mártires de Deus. Então, eu creio que a hipótese da conspiração não pode suportar as evidências que temos.”