Fiore Trise Júnior compôs a mesa da oficina que debateu a Revolta do Buzu e a necessidade da campanha pelo Passe Livre, na Tenda Socialista. Militante do movimento estudantil, Fiore participou ativamente dos protestos contra o aumento das passagens de ônibus em Salvador e chegou a ficar cinco dias preso. Ele entrou para o PSTU durante a revolta que se espalhou por várias partes do país.

Como você acha possível conquistar o Passe Livre?

Fiore: Bem, a princípio reinvindicamos que a prefeitura forçasse a redução dos lucros da empresa e, assim, subsidiar o passe para o estudante. Só que eu acho isto meio impossível. Outra coisa que poderíamos fazer seria pressionar o governo federal para subsidiar a passagem. Porém, isto também é difícil pois Lula está comprometido com os banqueiros e com o FMI. Então, se Lula parasse de pagar a dívida externa, poderia canalizar estes recursos para garantir o direito dos estudantes, que está, inclusive, garantido na Constituição.

Se as empresas são privadas, como o governo garantiria isso?

Fiore: Está na constituição a garantia de todos os direitos fundamentais, inclusive o direito à educação, ao trabalho, o direito de ir e vir. Então, está colocado o direito ao transporte e isso deve ser garantido. A reivindicação, num primeiro momento, incluiria a redução dos lucros das empresas para que isso se convertesse na redução do preço das passagens aos estudantes.

Como se poderia considerar o Passe Livre um direito social?

Fiore: A gente pode observar que no neoliberalismo, com todas as privatizações que ocorreram, fica à critério do patrão garantir ou não determinado direito. Passe Livre é um direito sim. Veja bem, se você tem que arcar com os custos de educação, alimentação, moradia, e ainda tem que pagar ônibus todos os dias, você não come, não estuda e não mora. Então, é um direito fundamental. No momento em que esses direitos não são respeitados, cria-se o direito à resistência, como o MST que ocupa terras para reivindicar a Reforma Agrária.

Como foi a atuação das entidades estudantis na campanha pelo passe livre em Salvador?

Fiore: Foi terrível. A UNE, UBES são aparelhadas pelo PCdoB há anos e a ABES é dominada pelo PT. Quer dizer, todas governistas. Começou a pipocar manifestações sociais, populares, reivindicando seus direitos usurpados, então começou a “tulmutuar“. Essas entidades fizeram acordos com a prefeitura pelo fato de estarem atreladas ao governo. Tentaram, inclusive, de maneiras peculiares, acabar com as manifestações, liberando as pistas fechadas pelos estudantes, manobrando, etc.

Como você acha possível superar estas direções que traíram os interesses dos estudantes?

Fiore: Disputando por dentro e por fora com eles. Por dentro através dos congressos e por fora impulsionanado mobilizações independentes destas entidades atreladas ao governismo.

Como ligar a questão do passe livre com as demais lutas dos trabalhadores?
Fiore: Como a grande maioria dos estudantes eram filhos de trabalhadores, eles permitiam que os estudantes fossem às manifestações. Os pais até mesmo aderiam ao movimento, através de panfletagens, abaixo-assinados, denúncias de repressão. Desta forma, se teve a evolução do movimento, com a união de trabalhadores e estudantes. Os trabalhadores ambulantes autônomos compareciam em peso às manifestações, são os que mais sofrem com o alto preço das passagens de ônibus. Havia momentos em que vendedores ambulantes de água chegavam a chorar de emoção com a manifestação. Outros trabalhadores desciam do ônibus e aderiam na hora aos protestos.

A luta pelo Passe Livre é somente local?

Fiore: O agosto do Buzu em Salvador desencadeou lutas pelo passe livre no Brasil inteiro. A princípio pode parecer um problema isolado, local. Salvador tem seus problemas. Mas a causa principal é a nível nacional. Fazemos uma provocação, inclusive, para as entidades defenderem o passe livre nacional. Vamos parar de pagar a dívida externa para resolver estes e outros problemas. Inclusive a estatização das empresas de transporte, acho que é uma reação em cadeia.