Vivaldo Moreira, trabalhador da GM e candidato à presidência pela Chapa da Conlutas
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Os patrões e o governo jogam os prejuízos causados pela crise econômica nas costas dos trabalhadores, reduzindo direitos e salários, com a ajuda da CUT e da Força Sindical. Mas o movimento sindical combativo está dando outra resposta à crise: enfrenta as demissões e não aceita redução de direitos. É neste cenário que vão ocorrer as eleições do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, nos dias 11 e 12 de março. O Opinião Socialista entrevistou Vivaldo Moreira, trabalhador da General Motors (GM) e candidato à presidência pela Chapa 1, da Conlutas, e Hebert Claros, jovem metalúrgico da Embraer, candidato a vice-presidente. Os dois falam sobre a campanha, a presença dos jovens operários e a importância do apoio à Chapa 1 nessa disputa contra as chapas da CUT e da Força Sindical.

Opinião Socialista – Qual é a importância de manter uma direção de lutas no sindicato nestes tempos de crise?
Vivaldo
– É muito importante devido à situação que estamos vivendo. O que vemos das outras centrais, como CUT e Força Sindical, é a parceria direta com os patrões que prejudica o conjunto dos trabalhadores, como essa proposta de redução de salários e suspensão de contratos. A direção de um sindicato precisa ter firmeza, senão os trabalhadores ficam vendidos. Os patrões têm se organizado para fazer estes ataques e os trabalhadores precisam de uma direção que defenda seus direitos. Nosso sindicato tem uma tradição de luta reconhecida em todo o país e internacionalmente. Não podemos colocar em risco essa história. Nossa chapa tem representatividade e já provou seu compromisso com os trabalhadores. Uma vitória da Chapa 1 vai fortalecer a luta contra os patrões.

Como a Chapa 1 está reagindo às férias coletivas e às demissões?
Vivaldo
– Vivemos um processo no país inteiro de demissões e propostas de rebaixar direitos e salários. Estamos em duas campanhas, uma em defesa do emprego e contra a flexibilização, e outra para manter uma direção combativa no sindicato. Estamos vendo estas duas campanhas caminharem juntas. A luta em defesa do emprego fortalece a nossa chapa. Os trabalhadores têm visto que nossa posição política é a melhor. Estamos realizando assembléias nas portas das fábricas, onde vemos um amplo respaldo a nossas propostas.

Aqui ao lado, em Taubaté, o sindicato ligado à CUT aceitou a redução de salários. O que vocês pensam disso?
Vivaldo
– É uma irresponsabilidade. É enganar os trabalhadores. Reduzir salários e direitos não garante emprego. A experiência mostra que onde isso ocorreu, os empregos não foram mantidos. Em Taubaté, os trabalhadores da GM ficaram sujeitos ao banco de horas por muitos anos. Mas a nossa luta que impediu o banco de horas aqui na GM, também se refletiu em Taubaté e os trabalhadores de lá também rejeitaram a proposta.

Hoje, se aproveitando de um momento de crise, o sindicato e os patrões retomaram o banco de horas cantando vitória. Reduziram os direitos e disseram que não haveria demissões. Mas 400 foram demitidos em Taubaté. Eles fizeram acordo num dia e no outro os trabalhadores estavam chorando no meio da fábrica.

A Chapa 1 sabe que esse não é o caminho. O caminho é o da resistência e da organização para defender o emprego. Por isso, fizemos um grande ato aqui em São José no dia 24 de janeiro e nesta quinta, dia 12, em São Paulo, na Fiesp.

Hebert – É o cúmulo do absurdo, um crime contra os trabalhadores. A jornada de trabalho hoje é extenuante e cansativa. Claro que o trabalhador merece trabalhar menos. O problema é a contrapartida dos patrões: a redução de salário. Reduzir o salário de um trabalhador, que já é pouco, é um crime. Saiu na imprensa que 35% das pessoas de São José que têm empréstimo estão inadimplentes. Isso comprova que os salários já não são suficientes. E ainda querem diminuir. A redução só vai engordar o bolso dos patrões. Os operários vão continuar produzindo, os empresários continuarão vendendo, mas vão pagar menos.

Herbert Claros, candidato a vice-presidenteQual é a importância de jovens metalúrgicos na Chapa 1?
Hebert
– A juventude aumentou muito sua presença nas fábricas e é parte de um setor explorado da classe trabalhadora. Segundo a ONU, mais da metade dos desempregados no mundo são jovens. Os empresários aproveitam essa situação para explorar mais. A falta de experiência, por exemplo, é a alegação das empresas para pagar um salário mais baixo. Isso sem falar nos estágios, onde não há contrato, nos sistemas de aprendizes e no projeto Primeiro Emprego do governo Lula, que rebaixam os direitos. Os sindicatos, infelizmente, não conseguiram arrastar a juventude para lutar com os demais operários.

Na maioria das fábricas em São José dos Campos ou no próprio ABC, vemos que muitos jovens estão sendo jogados nas linhas de produção. No ABC, a Scania demitiu 500 jovens que eram estagiários, mas na prática eram temporários sem direitos. Temos de explicar para eles a importância do sindicato e o papel dos jovens na entidade.

Como está a campanha dentro da Embraer?
Hebert
– Para alguns, a campanha está sendo uma boa novidade porque nos últimos três anos dentro da Embraer quem atuou pela categoria foi o Sindicato Aeroespacial, construído e forjado pela CUT, com a direção da empresa. Na época, eles retiraram na Justiça a representatividade do Sindicato dos Metalúrgicos. Mas no ano passado, reconquistamos a representatividade numa grande vitória. Agora, com a eleição e a renovação que estamos fazendo com a entrada de companheiros jovens, a chapa está sendo muito bem aceita. A Embraer possui muitos trabalhadores jovens. A campanha do sindicato é uma novidade para eles.

A Embraer demitiu 704 trabalhadores em 2008. Há previsões de novas demissões?
Hebert
– Essas demissões foram a conta-gotas. Pelas nossas contas, foram até maiores. De janeiro de 2008 até o mês passado ocorreram mil demissões. É um número muito grande e que só começa a ser divulgado pela imprensa devido à ação do sindicato. A crise provocou a queda na produção dos aviões e todo mundo sente que vai ter mais demissões. Em 2008, a Embraer entregou 204 aeronaves, mas já no começo do ano assistimos a demissões em várias fornecedoras da empresa, além de demissões na Boeing e na Air Bus – líderes mundiais no setor.

Como está a campanha na GM?
Vivaldo
– Nossa resistência contra o banco de horas no ano passado mostrou aos trabalhadores da GM a disposição de luta da chapa. Eles dizem pra gente que se tivéssemos aceitado a proposta da empresa, hoje teríamos o banco de horas e mais as demissões. Isso é um importante reconhecimento da combatividade da direção do sindicato. Mas temos quase um mês até as eleições e muito pode acontecer. Precisamos intensificar a campanha. Estamos enfrentando duas centrais fortes. Não sabemos que tipos de métodos eles vão usar na campanha.

Precisamos vencer as eleições e bem. Este sindicato tem muita importância como referência de luta e na reorganização dos trabalhadores. Foi um dos primeiros a iniciar a construção da Conlutas. Precisamos de muitos companheiros aqui para nos ajudar. Quanto mais gente melhor. Temos 600 empresas e sozinhos não conseguiremos percorrer essas fábricas a tempo.

Post author Por Jeferson Choma, direto de São José dos Campos (SP)
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