Foto: Gabriel Soares/Democratize

Confira a entrevista que Zé Maria deu ao Democratize

A esquerda começa a se articular para os próximos anos: movimentos sociais, sindicais e partidos políticos decidiram integrar a Frente Povo Sem Medo, formada para combater o avanço conservador. Porém, para setores da própria esquerda, trata-se de uma frente que não desafia de fato os ataques do governo Dilma aos trabalhadores: “apoio crítico é apoio”, diz Zé Maria, ex-presidenciável pelo PSTU. CUT, MTST, PSOL, UNE, e outros movimentos sociais e sindicais lançaram a Frente Povo Sem Medo recentemente. O objetivo da frente é mostrar força nas ruas contra o chamado avanço conservador, que mostra suas caras no Congresso e em movimentos de direita, como os que organizaram as recentes manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff. Além disso, segundo o próprio Guilherme Boulos, a frente também se articula contra a política econômica praticada pela gestão petista no Planalto. Mas existem pessoas dentro da própria esquerda que discordam disso. Para Zé Maria, famoso por sua luta sindical por direitos trabalhistas e por ser o nome mais forte do PSTU, não é bem assim. O Democratize entrevistou o ex-presidenciável socialista sobre os próximos passos que a esquerda deve dar para enfrentar tanto governo quanto oposição, além dos conflitos dentro dos próprios segmentos de esquerda no Brasil.

Democratize (D): O que representa para a esquerda a aprovação de um projeto de lei como o PLC 101/2015, que se apresenta como antiterrorista?

Zé Maria (ZM): Trata-se demais um passo na escalada repressiva contra as lutas e as organizações dos trabalhadores e da juventude, que já estávamos vendo na violência da repressão policial às manifestações, greves e ocupações, no massacre continuo que a PM executa contra os jovens negros e pobres na periferia das grandes cidades, no endurecimento das retaliações judiciais contra as greves e movimentos dos trabalhadores, etc.
O governo da presidenta Dilma, com esta lei, busca ter mais instrumentos para controlar as manifestações de protesto e de oposição ao seu governo. Ela sabe que precisa disso, pois sabe muito bem que, na medida em que toma mais e mais medidas para beneficiar os bancos e as grandes empresas frente à crise econômica em curso, ela causa mais e mais prejuízos aos trabalhadores, e que isso vai levar a mais lutas e resistência. Como o governo não quer e não pode fazer concessões ao movimento, busca conter as lutas através de uma repressão cada vez mais violenta.
 
D: Além dessa pauta, o que mais tramita no Congresso e nas próprias mãos do governo que possam ser consideradas pautas urgentes e que coloquem em risco as conquistas da classe trabalhadora?
ZM: O congresso nacional é uma fábrica de leis contrarias aos interesses dos trabalhadores. São dezenas que estão em curso neste momento, mas para citar apenas algumas: a lei sobre terceirizações; a PEC 215 (passa ao Congresso a decisão sobre demarcação de territórios quilombolas e indígenas); sem falar nas que querem mudar as regras de aposentadoria, estabelecendo idade mínima e outras maldades mais… O governo da presidenta Dilma, com esta lei, busca ter mais instrumentos para controlar as manifestações de protesto e de oposição ao seu governo.
 
D: O MTST, PSOL e outros movimentos e sindicatos, estão se mobilizando em torno da Frente Povo sem Medo, que colocou mais de 50 mil pessoas nas ruas de São Paulo contra o deputado Eduardo Cunha (PMDB) neste domingo (08). Qual a posição do PSTU diante dessa aliança, e por que não fazem parte dela?
Z: A Frente Povo Sem medo nasce da união de setores combativos do movimento popular, ou partidos que se reclamam da oposição pela esquerda ao governo do PT, como o PSOL, com setores claramente defensores do governo, como CUT, CTB, UNE, MST, etc. Trata-se de uma frente que critica o governo, mas defende a permanência do governo do PT com a alegação que o PSDB é pior. Ora, quem está atacando os trabalhadores com as medidas de governo que adota é o governo do PT (e nisso tem todo apoio do PSDB, estão juntos contra a classe trabalhadora). Trata-se de uma frente, então, que defende o governo Dilma. É verdade que a Frente Brasil Popular é para apoio aberto ao governo e a Frente Povo Sem Medo apoia criticamente o governo. Mas apoio crítico é apoio.
 
Nós achamos que os trabalhadores devem se mobilizar para colocar para fora o governo do PT, pois sem isso não param os ataques que este governo está fazendo contra nossos direitos. Mas colocar para fora o governo do PT, não para entrar Temer, Cunha ou Aécio no lugar, colocar para fora toda esta corja também, construir uma alternativa da nossa classe, um governo dos trabalhadores, sem patrões e sem corruptos.
Esta é a tarefa em torno à qual, acreditamos, todas as organizações da classe trabalhadora deveriam estar empenhadas, pois trata-se de uma necessidade da nossa classe. Não é a opção feita pelas organizações que formaram a Frente Povo Sem Medo.
 
Por isso não estamos nesta frente. E por isso apoiamos e participamos do processo que vem sendo desenvolvido pela CSP-Conlutas e pelo Espaço de Unidade de Ação, de construir uma frente única para lutar contra o governo do PT e contra a oposição de direita encabeçada pelo PSDB e PMDB. Entre esses dois blocos os trabalhadores não devem apoiar nenhum, e sim lutar contra os dois.
 
D: Quais os próximos passos do PSTU diante de tal ofensiva, tanto do governo quanto da oposição no Congresso?
Z: Estamos empenhados em ajudar a desenvolver este processo que falo na resposta anterior, e que se iniciou com uma mobilização importante aqui em São Paulo em 18 de setembro. É preciso fazer avançar a organização e a luta dos trabalhadores em defesa de suas reivindicações (por isso o PSTU está empenhado com todas as suas forças na greve dos petroleiros, dos metalúrgicos, na luta das mulheres contra o PL 5069 e pelo Fora Cunha, dos estudantes e professores de São Paulo contra o plano de reestruturação da educação do governador Alckmim) e ao mesmo tempo contra o governo do PT e contra a oposição encabeçada pelo PSDB/PMDB.
 
Nosso partido defende uma saída dos trabalhadores para a crise que o país vive. Para que haja saúde, educação, moradia, transporte, emprego, reforma agrária, salário e aposentadoria dignas é preciso suspender o pagamento da dívida pública, estatizar os bancos e coloca-los sob controle dos trabalhadores, reduzir a jornada de trabalho sem reduzir salários, estatizar as empresas que demitirem em massas, parar as privatizações e re-estatizar o que foi privatizado, nacionalizar as terras e coloca-las sob controle dos trabalhadores para produzirem alimentos para o povo brasileiro, aumentar os salários e aposentadorias, etc. Só um governo da nossa classe, um governo dos trabalhadores, apoiado nas organizações e na luta da nossa classe, será capaz de tomar estas medidas. É para atingir este objetivo que nosso partido luta.
 
 
 
 

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