Entidades chapa branca concedem coletiva após reunião
Foto: Agência Brasil

Durante encontro, presidente se compromete com reformas trabalhista e previdenciáriaQuase quatro anos de aprofundamento da política neoliberal, reformas e arrocho não foram suficientes para que as entidades chapa branca abandonassem de vez a cantilena do “governo em disputa”. No dia 13 de dezembro, 34 entidades da chamada “Coordenação dos Movimentos Sociais”, capitaneado por UNE, CUT e MST, se reuniram com Lula no Palácio do Planalto para dar novo impulso à falácia.

Segundo os próprios líderes das entidades, o objetivo era “forçar” a guinada de Lula à esquerda. “Vamos querer disputar o governo com o capital financeiro e os setores conservadores”, chegou a afirmar João Paulo Rodrigues, coordenador do MST.

No entanto, um dos objetivos das entidades era apresentar a fatura ao governo após anos de serviços prestados ao Planalto. As entidades entregaram a Lula um documento no qual exigem a redução da taxa de juros e a “abertura” do governo aos movimentos sociais. CUT, UNE e MST querem ampliar seus cargos no aparato do Estado, com cadeiras no Copom (Comitê de Política Monetária), CMN (Conselho Monitário Nacional), além de representação nas agências reguladoras.

O encontro foi articulado pela direção da CMS e pela Secretaria Geral da Presidência. Apesar de reunir representantes de 34 entidades, apenas os representantes da UNE, CUT e MST puderam falar. No encontro, Lula afirmou que trabalharia “para o país crescer” em seu segundo mandato. Segundo relato de Toni Reis, da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros, ao jornal Estado de S. Paulo, “o presidente chegou a citar sete vezes a palavra ‘destravar´ o crescimento”.

O termo faz parte da ampla campanha da imprensa e do conjunto da burguesia para implementar as reformas neoliberais, como a reforma trabalhista e previdenciária, supostas condições para “destravar” o crescimento econômico do país. Além disso, o encontro se dá dois dias após Lula ter realizado a malfadada declaração afirmando, em tom jocoso, que quem tem mais de 60 anos e continua de esquerda deve ter algum problema. A polêmica declaração havia sido dada para agradar os empresários durante evento realizado pela revista Istoé, que premiou Lula como o “brasileiro do ano”.

Tentando responder à contradição entre o discurso de Lula e a intenção das entidades de “empurrá-lo” à esquerda, o representante do MST afirmou que “o presidente pode ter essa posição, mas foi eleito por uma base de esquerda”. Momentos depois, Lula encerrou a polêmica com uma lacônica declaração aos repórteres: “Não devo a ninguém este mandato”.

Reformas
Durante a reunião realizada a portas fechadas com os líderes das entidades, Lula reafirmou sua intenção de enviar ao Congresso os projetos de reformas trabalhista e previdenciária.

Para formular a proposta de reforma da Previdência, a estratégia do Planalto será a mesma realizada durante a preparação do projeto de reforma sindical. Ou seja, o governo criará um órgão tripartite, formado por representantes do governo, empresários e líderes das centrais para pactuar a reforma, nos mesmos moldes do Fórum Nacional do Trabalho (FNT).

Ainda durante o encontro, Lula manifestou sua intenção de elevar a idade mínima para a aposentadoria.

E o mínimo?
Apesar da CUT, junto com as demais centrais, aparentemente ensaiar uma mobilização pelo salário mínimo de R$ 420, o assunto não foi nem discutido durante o encontro. Isso mostra que, a exemplo do que ocorreu nos anos anteriores, tal “mobilização” da CUT não passa de um jogo de cena. Ainda que o valor reivindicado seja por si só rebaixado, na última hora a direção cutista acaba engolindo o reajuste miserável do governo.

A proposta inicial do governo era reajustar o mínimo para R$ 375, um aumento de apenas R$ 25. No entanto, após a divulgação do pífio resultado do PIB nesse trimestre e o rebaixamento da expectativa para 2006, a ministro da Fazenda Guido Mantega passou a defender um mínimo ainda menor, de R$ 367.