UTI em Manaus no início da pandemia Foto: Mário Oliveira – SEMCOM
Redação

Nesta quarta-feira, 13, a organização de Direitos Humanos Human Rights Watch divulgou em Bruxelas seu relatório anual no qual acusou o presidente Jair Bolsonaro de boicotar medidas de saúde pública no combate à pandemia de Covid-19.

O presidente Bolsonaro expôs a vida e a saúde dos brasileiros a grandes riscos ao tentar sabotar medidas de proteção contra a propagação da Covid-19”, afirmou a diretora da organização, Anna Livia Arida. Segundo a entidade, o ataque mais grave ocorreu em relação às populações indígenas e a outros grupos mais vulneráveis, como a população carcerária.

Uma mostra da perplexidade com que o mundo enxerga o negacionismo genocida do governo Bolsonaro, além dos ataques sistemáticos aos direitos sociais e ao meio ambiente.

Uma política genocida

No momento em que a segunda onda de COVID-19 vai se tornando um verdadeiro tsunami, provocando o colapso do sistema de saúde em vários estados, o governo Bolsonaro não só continua omisso em relação a um plano concreto de vacinação em massa, como promove uma ofensiva em relação ao que chama de “tratamento preventivo”, ou seja, empurrar medicamentos sem comprovação científica, como a cloroquina, intimidando profissionais de saúde a empurrarem o medicamento  a seus pacientes e difundindo fake news.

No Amazonas, cuja capital vive uma situação dramática pela falta de oxigênio e respiradores, pacientes morrem sufocados nos leitos dos hospitais. O pesquisador da Fiocruz da Amazônia, Jesem Orellana, relata a dramaticidade da situação: “Acabou o oxigênio e os hospitais viraram câmaras de asfixia“.

Diante da situação, o governo Bolsonaro se limita a obrigar o uso dos tais medicamentos “preventivos”. Ofício da secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde classificou como “inadmissível” a não prescrição dos medicamentos sem qualquer eficácia à COVID-19.

A pressão para a adoção do “tratamento precoce” contou com a visita do próprio ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, na cidade manauara. Em evento na capital, Pazuello lançou o aplicativo TrateCOV, que supostamente aponta o diagnóstico de COVID e, a partir dele, prescreve medicamentos como hidroxocloroquina, cloroquina, ivermectina, azitromicina e doxiclicina. Todos medicamentos que, desde pelo menos meados de 2020, já foram provados que não só não combatem a COVID-19, como podem provocar sérias sequelas.

Manaus conta com um aumento de 90% no número de mortes pela pandemia desde o início do ano. Câmaras frigoríficas estão sento utilizadas de forma emergencial para comportar os corpos, enquanto é ampliada a capacidade dos cemitérios.

O negacionismo oficial chega às raias do absurdo a ponto de o próprio governo defender o “tratamento preventivo” através de seus canais oficiais, incentivando a população a pressionarem seus médicos a aderirem ao curandeirismo bolsonarista.


Fora Bolsonaro, Mourão e Pazuello

Essa política criminosa de receitar medicamentos sem comprovação vem sendo seguida por governos como o do Amazonas, de Wilson Lima (PSC), além da própria prefeitura da capital do estado, David Almeida (Avante). O recém-empossado prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), também segue a orientação da prescrição do “tratamento precoce”.

A prescrição dos tratamentos sem qualquer eficácia e a distribuição dos “kit covid” pela rede pública de saúde é um verdadeiro crime. Ataca duplamente a saúde da população: não só representa um risco à saúde, como serve para conferir uma falsa sensação de proteção frente ao coronavírus, incentivando o abandono de medidas como distanciamento social e o uso de máscaras. Essas sim, medidas comprovadamente eficazes, mas que são boicotadas pelos governos em favor do funcionamento da economia, leia-se, os lucros das grandes empresas e dos banqueiros.

Enquanto isso, o Brasil vai ficando no final da fila para a vacinação, sem um plano concreto ou sequer uma data definida. Ou melhor, uma data, divulgada por Pazuello: “Dia D, hora H”.