Metalúrgicos ocupam Câmara de Ouro Preto contra fechamento de fábrica na região

Fabricantes de alumínio e ferro ligas desligam seus fornos em Minas Gerais para vender energia no mercado livre, aumentando o desemprego e a conta de luz

Foi anunciado, semanas atrás, o fechamento da unidade da multinacional Novelis em Ouro Preto (MG). Se confirmado o fechamento, 600 trabalhadores serão demitidos. A Novelis é uma das maiores fabricantes de alumínio do mundo e o seu plano com o fechamento da fábrica de Ouro Preto é ganhar ainda mais dinheiro vendendo energia elétrica no mercado livre de energia do país.
 
Como todos sabem, a fabricação do alumínio envolve um consumo grande de energia elétrica, e a Novelis é proprietária de oito pequenas usinas que produzem a energia que ela consome na fábrica. Produzindo alumina (base para fabricação do alumínio), a empresa fatura cerca de R$ 160 milhões por ano. Com a venda no mercado livre da energia produzida em suas usinas, pode chegar a faturar anualmente cerca de R$ 490 milhões. Isso em razão da tamanha especulação que afeta o comércio de energia elétrica no país.
 
Esta aparente anomalia não é encontrada apenas entre as empresas fabricantes de alumínio. As empresas fabricantes de ferro ligas em Minas Gerais desligaram os fornos e passaram a vender energia no mercado livre. Com contratos antigos com a Cemig (Companhia Energética de Minas Gerais S.A), estas empresas compram a R$ 67,00 o MW/hora e revendem a R$ 822,00. Em Pirapora (MG), já foram mais de 500 empregos perdidos. Os 66 fornos de ferro ligas do Estado consomem 700 MW/hora, sendo que 70% já estão desligados. Ou seja, com essa medida, as empresas lucram mais de R$ 3 bilhões e meio somente especulando com energia.
 
O governo federal, por meio do Ministério das Minas e Energia e da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), não só sabe como tem estimulado esta prática das empresas. A Aneel deu sua benção a essa prática, pois o seu raciocínio é que isso economiza energia. A agência está com medo de ser obrigada a racionar energia se as chuvas não aumentarem e a imprensa já anunciou que o grau de risco de racionamento atingiu dias atrás o nível máximo aceito.
 
O governo de Minas, por sua vez, não diz nada sobre o aumento de 25% na conta de luz da população do estado por conta dessa especulação porque está também de acordo em preservar os interesses das empresas em primeiro lugar.
 
É bom que se diga que estas empresas produtoras de alumínio e de ferro ligas foram beneficiadas por uma redução de 40% no preço da energia ha dois anos atrás. Uma medida do governo Dilma para, supostamente, tornar as empresas destes setores mais competitivas e, como gosta de falar, “para garantir empregos”. Pois bem, só em Minas Gerais, pelo menos 8 mil postos de trabalho diretos estão ameaçados.
 
A Federação Democrática dos Metalúrgicos de Minas Gerais e os sindicatos dos trabalhadores afetados por essa especulação estão denunciando há meses esta situação sem que nenhuma autoridade tome qualquer atitude a respeito. Dias atrás, cansados de esperar, os trabalhadores chegaram a ocupar a Câmara Municipal de Ouro Preto cobrando medidas que protegessem os empregos.
 
Os trabalhadores e a população não podem ficar reféns de políticas especulativas levadas a cabo por empresas como a Novelis, Liasa, Vale Manganês e outras que desligaram seus fornos. Por um lado, perdem-se milhares de postos de trabalho e o fechamento de fábricas inteiras. Por outro, a população passa a pagar uma conta de luz bem mais cara.
 
Por que as autoridades do governo de Minas e do governo federal permitem este escândalo? Uma especulação no preço da energia elétrica no país que chega ao ponto de ameaçar o emprego de milhares de país e mães de família além de impor à população o aumento do preço da conta de luz.
 
Somamo-nos aos trabalhadores atingidos por esta situação para cobrar do governo Dilma que estatize e recoloque para funcionar, sob controle dos trabalhadores, todas essas empresas que estão demitindo os empregados para especular e ganhar dinheiro com o preço da energia elétrica.
 
O governo federal tem instrumentos políticos e jurídicos para tal, basta apenas ter vontade política para fazê-lo. Ou o governo só pode tomar medidas quando é para proteger o lucro das empresas como fez dois anos atrás?
 
Por outro lado, precisamos cobrar do governo da presidenta Dilma que reestatize todo o sistema de produção e distribuição de energia elétrica que foi privatizado no país. Só assim seria possível assegurar que todo o sistema funcione em função das necessidades e interesses da população e do país, e não do lucro dos grandes empresários. É preciso acabar com o abuso praticado por essas grandes empresas.
 
Com a palavra a presidenta reeleita.
 
* Geraldo “Batata” é metalúrgico e foi candidato do PSTU ao senado por Minas Gerais, nas últimas eleições.
 
*Texto originalmente publicado na Coluna do Congresso em Foco no dia 13/11/2014
 

Post author Zé Maria e Geraldo Batata*