Enquanto FHC se encontrava com os quatro candidatos à presidência da República mais bem posicionados nas pesquisas de intenção de voto, no dia 19 de agosto, os diretores do FMI estavam de férias e agendaram somente para o começo de setembro a reunião para oficializar o pacote de 30 bilhões de dólares ao Brasil.
Isso deixa ainda mais claro que o encontro de FHC com Serra, Lula, Ciro e Garotinho foi uma das exigências do FMI para fechar o “negócio”.
A grande imprensa alardeou aos quatro ventos os encontros de FHC com estes “responsáveis” candidatos à presidência da República como algo inédito, como um grande pacto em prol dos interesses da nação, onde todos deram um sinal de “maturidade”, deixando de lado suas divergências políticas para apoiar uma medida “necessária” e “inadiável” para salvar a economia do país.
É verdade que se trata de um acordo inédito. Mas o seu caráter excepcional não se deve à uma atitude responsável de FHC, Serra, Lula, Ciro e Garotinho com a economia do país. Muito pelo contrário, não há atitude mais irresponsável com os trabalhadores e povo brasileiros do que referendar um acordo que só servirá para garantir os lucros dos banqueiros internacionais.
Na verdade o seu caráter excepcional se deve ao fato de que, pela primeira vez na história do país, as diretrizes e metas da política econômica do futuro governo federal estão sendo pré-determinadas antes mesmo das eleições.
E isso se dá não porque o candidato governista, José Serra, seja o favorito para vencer o pleito. Mas porque dos principais candidatos, três deles declaradamente de oposição se comprometeram, na prática, ao jurar diante da santíssima trindade FMI, Banco Mundial e Federal Reserve e beijar a mão do papa Fernando Henrique, em cumprir o novo acordo com o FMI e, de fato, manter o atual modelo econômico.
Parafraseando Cazuza, “não fomos convidados para esta festa pobre que os homens armaram pra nos convencer…” Mas mesmo que fosse convidado, Zé Maria não participaria desta fraude. Pelo contrário, seríamos responsáveis com os trabalhadores e o povo ao rechaçar o acordo com o FMI e este encontro dos candidatos à presidência da Republica armado para banqueiro americano ver. Este deveria ser a postura de Lula, pois esta seria a única postura séria e madura de alguém que diz representar os interesses da classe trabalhadora. Mas desgraçadamente Lula, como se já não bastasse se ajoelhar ao FMI foi pedir a benção à FHC.

Propostas para resolver a crise de quem?

As propostas imediatas para a crise contidas na carta de Lula entregue ao presidente Fernando Henrique Cardoso são mais um triste capítulo da completa rendição do Partido dos Trabalhadores diante do grande Capital.
As principais medidas propostas seriam as seguintes, segundo a própria carta:
“Reabrir as linhas de financiamento para as empresas endividadas em dólar e para o comércio exterior brasileiro”; “ampla articulação internacional para restabelecer as linhas de financiamento ao país, com uma ofensiva ao banco central dos Estados Unidos e ao banco central europeu, bem como aos grandes bancos privados internacionais”; “que as linhas de crédito dirigidas ao exportador, já anunciadas pelo governo, sejam imediatamente disponibilizadas”.
Fernando Henrique, Pedro Malan e Armínio Fraga não demoraram em atender as reivindicações do PT. No mesmo dia em que Lula se reunia com FHC, o Banco Central anunciava que vai destinar uma linha de crédito de US$ 2 bilhões de dólares das reservas internacionais para financiar, leia-se subsidiar, os exportadores.
No último da 26, após reunião em Nova York, Pedro Malan e Armínio Fraga conseguiram, com grande sucesso, aplicar outra medida proposta por Lula: 16 dos maiores bancos privados mundiais – dentre eles: Citigroup, JP Morgan Chase, Deutsche Bank e Santander — se comprometeram, numa nota pública, em manter o “nível geral” de suas atuais linhas de crédito para empresas no Brasil e de seus negócios no país.

Grande capital beneficiado

Como se isso não bastasse, a carta de Lula propõe medidas ainda mais radicais para garantir mais “incentivos” fiscais e redução de impostos às empresas “produtivas” sejam elas nacionais ou estrangeiras, a exemplo das montadoras. Segundo a carta: “O governo deveria implementar o projeto de renovação da frota nacional, que pode ajudar o setor automobilístico a vencer a falta de demanda que lota o pátio das montadoras e ameaça o emprego dos trabalhadores”; e “aprovar no Congresso Nacional, o mais rápido possível, o projeto de lei nº 6.665/2, que elimina parcialmente a cumulatividade de contribuições sociais. O mesmo projeto prevê garantias para a desoneração do PIS e da Cofins no que diz respeito aos produtos e exportação”.
No tocante às medidas imediatas para combater a grave crise social, a carta propõe “a regularização do mercado informal” de trabalho — ou seja, o nivelamento por baixo, ou mesmo a extinção de direitos trabalhistas — “para ampliar o registro em carteira e a contribuição previdenciária”.
Esta carta é mais uma pérola que só vem comprovar que o programa econômico do PT tem seu grande compromisso com os grandes capitalistas, enquanto que as medidas sociais que atenderiam os interesses dos trabalhadores são completamente descartadas para “combater a crise”.
Nós, ao contrário, propomos combater a crise econômica e social do ponto de vista dos trabalhadores. E isso não se faz protegendo e incentivando os lucros dos grandes capitalistas, mas atacando seus lucros e sua propriedade privada sobre a riqueza produzida coletivamente pelos trabalhadores.
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