Ginásio do Ibirapuera, pouco antes do início do encontro
Cromafoto

O encontro contra as reformas, neste dia 25 de março, em São Paulo, superou todas as expectativas. Previsto para reunir em torno de quatro mil pessoas, contou com cerca de seis mil lutadores, de todas as partes do país. Cinco mil conseguiram se credenciar, antes que os crachás acabassem.

Ao todo, estiveram presentes 626 entidades. Um número grandioso que assume ainda mais importância pelos diferentes setores que reuniu. A força do evento pôde ser vista na composição da mesa: Conlutas, Intersindical, FST, MTL, MTST, Pastorais Sociais, Conlute, ANDES-SN, ASSIBGE, Condsef, Fenafisco, FENASPS, Sinasefe e Sinait. Além da representação do MST, da CSC e de PSTU, PSOL e PCB.

A unidade em torno da luta das reformas do governo Lula é o grande saldo político do encontro. Representando a Intersindical, Mané Melato lembrou que muitos dos que hoje estão no encontro participaram da criação de organizações como a CUT, que nasceram contra o capital e hoje cumprem um papel oposto. “Aqui estão os que não se venderam à ordem e à lógica do capital”. Zé Maria abriu o encontro, em nome da Conlutas, chamando a luta contra o governo: “Lula já escolheu seus heróis. São os usineiros e os empresários. Os nossos heróis seguem sendo os mesmos. Os cortadores de cana, os operários, os sem-terra e os sem-teto”.

Para não esquecer
O ex-deputado Babá, do PSOL, deu a dimensão exata do significado deste encontro. Ele deu um conselho ao plenário: “Estamos vendo aqui um evento histórico. Guardem seus crachás”. Diversos oradores fizeram avaliação semelhante. Valério Arcary, em nome do PSTU, afirmou que o dia 25 de março é uma data histórica para o movimento operário, pois “Lula vai encontrar uma muralha de luta para impedir a continuidade das reformas”. Plínio de Arruda Sampaio, ex-candidato ao Governo de São Paulo pela Frente de Esquerda, “Agora vamos para cima. Isto é o que fará algum historiador, daqui a alguns anos, dizer que o dia 25 de março de 2007 marcou a volta da classe operária à ofensiva“. A opinião também foi compartilhada por muitos dos 700 estudantes presentes. Leandro Soto, da Coordenação Nacional de Luta dos Estudantes (Conlute), afirmou que “este não é apenas mais um encontro, é um marco na história do movimento social do país”.

O encontro é histórico ainda por outros aspectos. Ele retoma a tradição internacionalista da classe trabalhadora, com a presença de lideranças do Haiti, Bolívia e Uruguai e aprovando campanhas internacionais. O dirigente da Central Operária Boliviana (COB) Ramiro Condore foi bastante aplaudido ao afirmar que “é preciso lutar para derrotar o neoliberalismo em nossos países”. Didier Dominique, sindicalista haitiano do grupo Batalha Operária, denunciou a ocupação no Haiti pelas tropas da ONU e falou sobre o papel do Brasil. “Sabemos que as tropas não foram mandadas pelo povo do Brasil e sim pelos reacionários do Brasil. É uma diferença importante”, afirmou.

A luta pela retirada das tropas do Haiti já vem sendo levada pela Conlutas, principalmente através de seu Grupo de Trabalho de Negros e Negras. Em nome do GT, Dayse Oliveira, militante do PSTU e dirigente do SEPE-RJ, afirmou. “É preciso barrar o projeto de extermínio do povo negro, que hoje tem um lamentável exemplo no trabalho sujo feito por Lula no Haiti, a mando de Bush”. O encontro assumiu o combate ao preconceito e à toda forma de opressão e violência machista e homofóbica.

O outro aspecto que faz com que esse não seja apenas mais um encontro é a presença de um grande número de ativistas sem-teto e sem-terra, principalmente do MTL, MTST e da ocupação do Pinheirinho em São José dos Campos. João Batista, do MTL, destacou a importância de organizar a grande massa de despossuídos, sem-terras, desempregados e subempregados para a luta contra as reformas e o governo. A solidariedade, abandonada pelos sindicatos governistas ou relegada ao caráter assistencialista, retomou no encontro seu sentido original, fazendo com que lutadores sintam que podem contar com o apoio dos demais em seus enfrentamentos. O MLST, de Ribeirão Preto (SP) trouxe uma tonelada de alimentos para o acampamento João Candido, criado há pouco mais de uma semana, com 2.500 famílias organizadas pelo MTST. Diretores do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, demitidos pela Volks, também receberam a solidariedade do plenário e contribuições para sua vigília em frente à fábrica.

Um encontro não termina aqui!
Valério Arcary incendiou o plenário ao iniciar sua fala dizendo: “É possível lutar. É preciso vencer.” Segundo ele, “Há quatro anos, muitas pessoas diziam que não seria possível reagrupar a esquerda, que sair da CUT seria um suicídio, que os socialistas não poderiam se reorganizar. E hoje, aqui, demonstramos não só que é possível reorganizar a esquerda, como também que é possível lutar e vencer”.

Este sentimento, de que a unidade alcançada permite derrotar as reformas se espalhou entre os seis mil lutadores presentes. Todos saíram orgulhosos com o que tinham construído e satisfeito pelo esforço que dedicaram ao encontro, como companheiros de Pernambuco, que viajaram 55 horas para participar e se emocionaram com o encerramento, ao som da Internacional.

Mas, como disse Mancha, do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, “A tarefa mais importante é o que está pela frente”. O encontro aprovou um calendário de luta, que terá início no 1º de Maio, com atos classistas em todo o país. No mesmo mês, entre os dias 21 e 25, será realizada uma semana de luta. E, em agosto, caravanas sairão de todo o país para invadir Brasília, num grande ato nacional. Além destas datas, outras serão incorporadas ao calendário, como a campanha do funcionalismo e o Abril Vermelho.

  • Veja a cobertura completa do encontro no Blog Molotov