Abertura do Encontro da CLMP
Matheus Birkut / Cromafoto

Contando com a participação de dezenas de entidades populares de todos os cantos do país — como os Movimentos Urbanos dos Sem Teto de São José dos Campos e Recife, o Movimento Popular Alvorada do Rio Grande do Sul e o Sindicato das Entidades Culturais de Sergipe — o Encontro nacional da Coordenação de Lutas do Movimento Popular (CLMP) teve início na manhã do dia 28 de janeiro com um debate com representantes de organizações populares de vários países da América Latina.

Falando em nome Movimento dos Aposentados e Desempregados da Argentina, Nina Veloso destacou a necessidade de unificar as lutas dos setores populares com os movimentos de trabalhadores, estudantes e trabalhadores para enfrentar os planos neoliberais que tem jogado todos na miséria e no desemprego. Nina também ressaltou a importância do encontro da CLMP, afirmando que, em todo o continente, é necessário construir novas ferramentas de luta para os movimentos populares já que muitas das organizações hoje existentes são aliadas ou coniventes com seus respectivos governos.

Já o dirigente da Associação dos Camponeses do Alto Paraguai. Tomás, enfatizou o fato de que todos os movimentos, em todos os países, têm um inimigo comum: o FMI e o Banco Mundial. Tomás também lembrou que nos principais processos revolucionários que afetaram ou derrubaram governos nos últimos anos, como na Bolívia e no Equador, a participação de setores do movimento popular, como entidades indígenas ou camponesas, foi fundamental.

Tomás encerrou sua contribuição conclamando os presentes a não medirem esforços para construir um programa e um instrumento para toda a América Latina, contra a ofensiva imperialista e os governos que aplicam os planos ditados pelo FMI.

Em sua fala, o companheiro Ricardo, representante da Frente dos Trabalhadores Combativos da Argentina, destacou o fato de que além de termos inimigos comuns também somos todos afetados pelo desemprego, que é a registrada do capitalismo em sua atual fase: o desemprego.

Segundo Ricardo, esse elemento pode servir como ponto de partida para construir o programa proposto pelo companheiro paraguaio, através da exigência de planos de obras públicas, da renacionalização das empresas ocupadas e da reabertura de fábricas que tenham sido fechadas. Para exemplificar que este programa pode ser abraçado e concretizado pelo movimento popular, Ricardo mencionou o que vêm ocorrendo na Argentina: 200 fábricas falidas foram reabertas e são hoje controladas por trabalhadores, sem patrões, tendo originado mais de 8 mil empregos.

Ainda de acordo com o companheiro argentino, condição prévia para que estas lutas sejam vitoriosas, contudo, é a formação de organizações independentes do governo e que tenham um projeto classista e revolucionário.

Citando novamente um exemplo de seu país, Ricardo lembrou que muitos dos dirigentes piqueteiros, que se destacaram no processo de derrubada do presidente De La Rua, em dezembro de 2003, foram cooptados pelo governo Kirchner, através da oferta de subsídios e concessões assistencialistas (as chamadas políticas compensatórias, como a bolsa-família brasileira). Além de não atacar o desemprego, estas políticas têm sido utilizadas para ‘comprar’ os antigos dirigentes, transformando-os em mero administradores dos projetos assistencialistas.

Para finalizar, Ricardo destacou que a criação de entidades combativas, como a CLMP também é fundamental para combater um outro aspecto comum em todos os países da América Latina: a criminalização dos movimentos sociais.

Pertencente à mesma organização dos companheiros presos de Caleta Olívia (fecha seção especial neste site), o dirigente argentino destacou a importância da campanha que está sendo movida em diversos países, citando-a como exemplo da unidade internacional que devemos construir.

O Brasil foi representado pelo companheiro Cabral, dirigente do Movimento Urbano dos Sem-Teto (MUST), de São José dos Campos, que está à frente da ocupação do Pinheirinho, que hoje conta com 1.115 famílias, abrigando mais de 7 mil pessoas (sendo que 2.200 delas são crianças).

Cabral falou sobre a história de luta e resistência do Pinheirinho, ressaltando a necessidade de criação da Conlutas para garantir a vitória de ocupações, principalmente diante da paralisia das organizações populares que hoje se alinham com o governo e da criminosa investida das elites dominantes, que contam com o total apoio dos políticos burgueses e governistas, além da justiça e, obviamente, do aparato de repressão.

No final de sua fala, Cabral conclamou todas as entidades a participarem do Encontro da Coordenação Nacional de Lutas, Conlutas, que irá ocorrer no dia 30 de janeiro, ressaltando a necessidade de unificar as lutas dos movimentos popular e sindical.

O encontro irá se estender durante todo o dia de hoje e irá debater, ainda, a criminalização do movimento popular e a situação nacional.