Assembleia para fundação de uma nova central sindical no Paraguai ocorre em 150 diasEra aproximadamente 16h, numa tarde fria, quando, de maneira entusiasmada, os cerca de 150 delegados presentes ao II Congresso da Mesa Coordenadora Sindical do Paraguai (MCS), levantaram seus crachás e aprovaram por unanimidade que a MCS deve se transformar em central sindical. Realizado no último sábado, 24, o congresso também aprovou um conjunto de resoluções que afirmam as orientações para que a MCS continue organizando e apoiando as lutas e mobilizações dos trabalhadores paraguaios.

Há cerca de dez dias, os mesmos ativistas realizaram uma manifestação, que contou com a presença de aproximadamente três mil pessoas. O protesto era contra o governo Fernando Lugo e o Congresso, que tentam impor ao funcionalismo público o aumento da jornada de trabalho, que hoje é de 6 horas, para 8 horas diárias.

Esta foi mais uma mobilização que só ocorreu devido à existência da MCS, pois nenhuma das seis centrais sindicais existentes no Paraguai se dispõe, hoje, a lutar contra o governo Lugo. Aliás, todas estão hoje atreladas ao governo e, desde há muito tempo carregam um descrédito brutal perante a classe trabalhadora, tendo em vista a avalanche de corrupção em que seus dirigentes estão envolvidos.

Os trabalhos do Congresso da MCS foram coordenados por Julio Lopes (Sindicato dos Funcionários da Universidade Católica), Côco (Sindicato dos Jornalistas) e Olga (Sindicato dos Trabalhadores da Receita Federal).

No início dos debates, foi concedida a palavra ao dirigente da Conlutas Atnágoras Lopes. Além de levar a saudação dos trabalhadores brasileiros foi informado sobre o surgimento, a construção e a afirmação da Conlutas (uma central de caráter sindical, popular e estudantil). Também foi feito um convite aos delegados para que participem do 2º Congresso Nacional da Conlutas, que será realizado nos 3 e 4 de junho, na cidade de Santos (SP), e ainda para o Congresso da Classe Trabalhadora, que acontece nos dias 5 e 6 de junho, na mesma cidade e local.

Havia empolgação nas declarações dos delegados e das delegadas das 42 entidades presentes. “Agarremos com todas as mãos essa idéia, essa nova central”, dizia o representante do Sindicato dos Trabalhadores em Cooperativas.

Um ponto alto e emocionante foi o debate em relação à situação da mulher trabalhadora. Uma companheira, do Sindicato dos Guardas, da iniciativa privada, disse chorando: “Eu fui demitida por ter tido de socorrer a minha filha num momento de crise epilética, sou mãe e sou pai ao mesmo tempo, agora estou no sindicato para lutar por todos”. Ela disse ainda: “sou filha de brasileiros e deixo aqui, ao companheiro da Conlutas, minha solidariedade e disposição em ajudar as lutas dos trabalhadores brasileiros”.

Houve, ainda, o depoimento de uma companheira, funcionária pública que, emocionada, relatou sobre o assédio moral sofrido, sua reação e, consequentemente, sua demissão.

No Paraguai, a estrutura sindical está imensamente pulverizada. Na iniciativa privada só há sindicatos por empresa, enquanto no setor público a maioria das entidades representa apenas os trabalhadores de um determinado órgão.

A maioria dos dirigentes das centrais mais tradicionais, como CUT, CUT-Autentica e CNT, está completamente desacreditado. Alguns já estiveram presos por corrupção e enriquecimento ilícito e agora estão atrelados ao governo Lugo. São incapazes de reagir consequentemente aos ataques desferidos aos trabalhadores por este governo, seja em relação a temas como a proposta de aumento da jornada do funcionalismo ou mesmo no decreto do “Estado de Sítio” em cinco estados desse país. É frente a este cenário que vem atuando a Mesa Coordenadora Sindical que, agora, dá mais um passo adiante.

No congresso da MCS foi eleita uma comissão para que, no prazo de 60 dias, apresente uma proposta de estatuto a todas as entidades que participam desse processo. Essa proposta deverá ser debatida em assembleias de base das categorias e em seguida será realizada a assembléia de fundação de uma nova central sindical no Paraguai.

As resoluções aprovadas baseiam-se no classismo, na defesa da independência política e financeira frente aos patrões e aos governos e na busca por resgatar o exercício da democracia operária, privilegiando o método da luta e da ação direta dos trabalhadores.

Após votar outras resoluções, como a exigência ao governo de uma reforma tributária que sobre taxe as grandes fortunas (especialmente dos produtores de soja), o apoio e solidariedade aos trabalhadores haitianos, a defesa intransigente dos direitos adquiridos de todos os trabalhadores paraguaios, entre outras, o Congresso foi encerrado sob uma forte salva de palmas, em meio a muitos sorrisos e um grande clima de fraternidade.