Como era de se esperar, o encontro do campo majoritário do Partido dos Trabalhadores, realizado neste final de semana, no Rio de Janeiro (RJ), deu o aval à política econômica neoliberal seguida pelo governo Lula. Participaram do encontro alguns dos principais caciques petistas, como os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda) e o atual presidente nacional da legenda, José Genoíno.

O chamado “campo majoritário” do PT é formado principalmente pela corrente Articulação e outras tendências internas à direita no partido, que, juntas, controlam cerca de 65% dos postos de direção do partido.

É importante ressaltar que fazem parte também do “campo majoritário”, aqueles a quem o sociólogo James Petras chama de “neolulistas” em seu novo livro (“Brasil e Lula: Ano Zero”, Editora da Furb), ou seja, carreiristas e profissionais da burocracia partidária, que foram incorporados pelo PT no processo de crescimento degenerado registrado pelo partido nos últimos dez anos. Estes pequenos burocratas (jornalistas, publicitários, sindicalistas e políticos profissionais, marqueteiros etc) não possuem nenhuma relação direta com os movimentos sociais e de trabalhadores, assim como, cada vez mais, o próprio PT.

No encontro, foi aprovado o documento “Bases de um Projeto para o Brasil”. O texto, que reafirma o apoio à política econômica do governo, diz que as metas tipicamente neoliberais, que já são velhas conhecidas do povo brasileiro, de ajuste fiscal nas contas públicas, superávit primário e controle da inflação perseguidas pelo governo Lula não são incompatíveis com o programa do PT e com os objetivos históricos do partido de “aumentar a oferta de emprego e promover distribuição de renda”. O objetivo é incorporar as bases da política econômica, como a manutenção do superávit primário e os compromissos com o mercado financeiro, ao programa do partido.

“Eu gosto é de governo”
No encontro, o atual presidente nacional do PT, José Genoíno, candidato à reeleição, informou aos militantes que o partido utilizará a mesma política de alianças usada em 2002, ou seja, alianças com setores da burguesia e políticos corruptos, ligados à partidos fisiológicos, com acordos feitos sem consultar a base de militantes, mas tendo como único fim a vitória eleitoral. Afinal, assim como o presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, o PT de hoje só sabe dizer “Eu gosto é de governo!”.

Avaliação
Segundo o jornalista Maurício Thuswohl, da Agência Carta Maior, que participou da cobertura do evento, a tônica geral feita sobre a administração federal foi a de que “tudo vai bem para o governo Lula e para o Partido dos Trabalhadores, a política econômica está correta e os demais setores do governo, como o que cuida da área social, por exemplo, têm todas as condições de avançar rumo a um bom desempenho que garanta a continuidade do ‘projeto petista’ para além de 2006”.

O que a maioria dos trabalhadores, que votou em Lula e, dois anos depois, perdeu os últimos fiapos de esperança de que este governo poderia mudar alguma coisa se perguntam é: como assim, está tudo bem? Bem para quem?

Esta é uma pergunta que só pode ser honestamente respondida pelos trabalhadores desempregados, pelas vítimas de chacinas no Rio de Janeiro e pelos sem-terra que aguardam a eternamente adiada reforma Agrária. Mas este governo prefere ouvir as respostas de empresários e de banqueiros…

* Thiago Fuschini é jornalista e sociólogo