Enchente na região da Praça da Bandeira, em 1940
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O longo histórico de tragédias não pode servir como desculpa dos governantes. Ao contrário, apenas prova que a elite carioca foi avisada pela natureza. E não se importou.“Predominam no estado do Rio de Janeiro os climas tropical (baixadas) e tropical de altitude (planalto). Na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, domina o clima tropical semi-úmido, com chuvas abundantes no verão, que é muito quente e invernos secos, com temperaturas amenas. (…) e o índice pluviométrico fica entre 1.000 a 1.500 milímetros anuais.”
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Janeiro#Clima

O Estado do Rio de Janeiro, e principalmente sua região metropolitana, é periodicamente assolado por grandes enchentes provocadas pelas tradicionais tempestades de verão. O que geralmente provoca grandes transtornos à sua população e mata várias pessoas, especialmente trabalhadores mais pobres, obrigados a viver em regiões e moradias precárias.

As enchentes na metrópole fluminense geralmente impactam as comunidades pobres nas várzeas e aterros próximos à Baía de Guanabara; nas favelas em morros (freqüentemente próximas ao centro e à Zona Sul carioca) e na Baixada Fluminense, que não possui um sistema de drenagem propício para uma área originalmente pantanosa.

E ao contrário do que querem fazer crer as autoridades, nada disso é fruto dos desvarios da natureza ou destino divino. A tese de que as enchentes são inevitáveis não resiste a um rápido levantamento histórico.

A cronologia das enchentes no Rio de Janeiro tem seu primeiro registro no século dezoito. Em setembro de 1711 grandes inundações assolaram a cidade fundada 50 anos antes pelos portugueses em um sítio entre a Baía de Guanabara e um verdadeiro mar de morros. E, em abril de 1756, um grande temporal provocou inundações em toda a cidade – canoas foram vistas navegando pelo centro – e desabamentos de casas fizeram inúmeras vítimas fatais.

Já no século XIX, em 1811, novas inundações castigaram o Rio de Janeiro entre os dias 10 e 17 de fevereiro. Catástrofe que ficou conhecida como “águas do monte”, por conta da enxurrada violenta que descia dos diversos morros da cidade. O Morro do Castelo (importante sítio urbano no centro) desmoronou, arrastando muitas casas, com muitas vítimas. A tragédia foi tão grande que as igrejas, sob ordens de D. João VI, príncipe regente, acolheram os desabrigados. Pela primeira vez foram feitos estudos sobre as causas da catástrofe.

Grandes inundações também ocorreram em março de 1906, no século XX, tendo sido registradas como das maiores até então. O Canal do Mangue (próximo de onde é hoje a Praça da Bandeira) transbordou provocando alagamentos em quase toda a cidade. Em alguns morros, entre eles o de Santa Teresa, aconteceram desmoronamentos com mortes.

Em abril de 1924 fortes chuvas encheram novamente o Canal do Mangue e inundaram a Praça da Bandeira e vários bairros. Houve desabamento de barracos no Morro de São Carlos (berço da Escola de Samba Estácio de Sá). Fatos parecidos viriam a ocorrer também em 1940, 1942 e 1962.

Mas o temporal do dia 2 de janeiro de 1966 entraria tragicamente para a história. Fortes chuvas que duraram uma semana ocasionaram enchentes, deslizamentos no estado do Rio de Janeiro e no antigo Estado da Guanabara (denominação da cidade do Rio de Janeiro enquanto foi capital do Brasil) provocando o caos no transporte, “apagão” elétrico e o colapso do sistema de emergência. O que com certeza contribuiu para a morte de 250 pessoas e para deixar mais de 50 mil desabrigados.

Mesmo com esse aviso catastrófico os anos de 1967 (quando mais de 500 pessoas morreram em diferentes temporais e 25 mil ficaram feridos) 1982 (06 mortos), 1983 (18 mortos), 1987 (292 mortos e 20 mil desabrigados, o que provocou primeiro a decretação do Estado de Emergência e depois do Estado de Calamidade Pública), 1988 (mais de 600 mortos e quase 20 mil desabrigados, principalmente na capital, na Baixada Fluminense e na região Serrana), 1991 (25 mortos), 1999 (41 mortos). E de lá pra cá, em pleno século XXI, as coisas não mudaram, aliás, pelas tragédias que estamos acompanhando agora, pioraram.

Como vimos, chuvas fortes de verão são regras e não exceção no Rio de Janeiro, pois praticamente todo o período que pega de setembro/outubro do ano anterior até março/abril do outro ano (início da primavera e final do verão) vem há séculos sendo marcado por fatos e tragédias similares que chocam a opinião pública, ganham apenas declarações demagógicas dos governantes e vitimam os trabalhadores.