Governo e congresso ainda tentam estancar desgaste das instituições em ano eleitoralPor mais que o governo e o Congresso tentem limpar sua imagem e virar a página do ano de 2005, a imagem que aparece para a população neste início de ano é de que 2006 não trouxe nada de novo aos palácios de Brasília. As CPI’s não terminaram e ameaçam cortar algumas poucas cabeças, mas já se preparam para um desfecho rumo às eleições. Mesmo com as supostas investigações, há cerca de R$ 21 bilhões em verbas não esclarecidas que teriam passado pelo esquema do mensalão.

Até agora, o governo e o Congresso não tiveram muito sucesso em jogar a lama para debaixo do tapete. A poeira baixou, mas ainda são aguardados o encerramento das CPI’s e seus resultados. Algumas cassações foram propostas na última semana. No Conselho de Ética, foi solicitada a cassação do deputado petista Professor Luizinho, acusado de receber R$ 20 mil das contas de Marcos Valério. Também foi recomendada a cassação do mandato do deputado Roberto Brant, do PFL, acusado de receber R$ 102 mil de Valério. A recomendação da cassação de Wanderval Santos, do PL, também foi feita nesta semana, sob acusações de receber R$ 150 mil do esquema.

Entretanto, ao mesmo tempo em que se busca um acordo para uma saída honrosa para as CPI’s, a oposição burguesa (PSDB, PFL…) trata de dar seus ferrões na figura de Lula. Palocci, pressionado, decidiu que vai depor espontaneamente na CPI dos Bingos. Foram retomados os depoimentos e um deles trouxe de volta ao cenário a figura do presidente e seus ‘compadres’. O ex-militante do PT Paulo de Tarso Venceslau disse que o presidente do Sebrae e amigo de Lula, Paulo Okamotto, fazia caixa dois para o PT em prefeituras desde 1993. Para completar a informação, a ex-prefeita de São José dos Campos, a deputada petista Angela Guadagnin, confirmou que Okamotto a procurou atrás de listas de empresas fornecedoras da prefeitura. Com as denúncias, a CPI dos Bingos quebrou os sigilos bancário, fiscal e telefônico de Okamotto.

Okamotto é investigado pela CPI por ter pago uma dívida de R$ 29 mil que o amigo Lula tinha com o PT, dívida paga entre dezembro de 2003 e março de 2004. Okamotto não explicou com que dinheiro efetuou o pagamento. Mas isso não é difícil concluir…

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Além das pressões da oposição burguesa, também há algumas provocações dos governistas, como a tentativa frustrada de instalar a CPI das Privatizações aos 45 minutos do segundo tempo. Criada no dia 16, a comissão não teve adesões nem dos governistas, nem do PSDB e do PFL.

Mas, apesar das pressões da oposição burguesa, não há uma ameaça ao mandato de Lula. Tampouco existe uma real intenção de levar adiante uma CPI das privatizações de FHC. Esses embates estão aí para preparar terreno para a disputa nas urnas.
É preciso que as CPI’s tenham finais felizes para oposição burguesa e governo. Por isso, o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, segundo informações publicadas no jornal Folha de S. Paulo, realizou uma reunião com os parlamentares petistas membros das CPI’s para discutir uma ‘agenda positiva’ e tirar uma data para a entrega dos relatórios das CPI’s, em um prazo que não atrapalhe as campanhas dos futuros candidatos.

Mesmo com um acordo que estanque a crise e leve os descontentamentos para a campanha eleitoral, as feridas da crise de 2005 serão difíceis de cicatrizar. A população vai votar, ainda que desiludida. Todavia, o PT não será o mesmo. A confiança nas instituições não será a mesma. E pode chegar o momento em que a reação do povo também mude.
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