Operário atingido, ao fundo, sangue de ferimentos das vítimas
Lucas Lacaz, especial ao PSTU

Invasores pretendiam impedir fundação de associação de operários da RevapUm crime bárbaro contra a livre organização dos trabalhadores. Nesse dia 1º de agosto, sexta-feira, estava marcada a assembléia para a fundação da associação dos trabalhadores terceirizados da construção civil da Revap, a refinaria da Petrobras em São José dos Campos (SP). Os operários resolveram fundar uma associação pois o sindicato da categoria, ligado à CUT, é amplamente repudiado pela base e não representa os interesses dos trabalhadores.

Ataque brutal
A assembléia começou às 18 horas na sede da Conlutas, no centro de São José. Às 18h10, quando já havia 70 trabalhadores no prédio e alguns operários ainda chegavam ao local, cerca de 60 homens invadiram violentamente o prédio. Testemunhas afirmam que os invasores chegaram ao local em um ônibus. Encapuzados e portando armas de fogo de grosso calibre, depredaram o prédio e os carros estacionados no local. “Estavam com escopetas, metralhadoras, bombas, e todo tipo de arma; chegaram a atirar e soltar rojões contra os trabalhadores”, afirmou ao Portal do PSTU José Donizete de Almeida, da Coordenação da Conlutas do Vale do Paraíba.

Um operário foi atingido por um tiro na mão. Os homens encapuzados também roubaram a ata, estatuto e demais documentos da assembléia, demonstrando a clara intenção de impedir a fundação da associação. Permaneceram dez minutos no prédio e fugiram, deixando para trás um rastro de destruição e quase uma vítima fatal.

“Exijo uma investigação profunda sobre esse ataque contra a livre organização dos trabalhadores”, afirmou Donizete. A organização da associação ia contra muitos interesses. “A fundação da associação desagradava a Petrobras, as empreiteiras e o sindicato da Construção Civil, ligada à CUT”, denunciou ainda Donizete.

Apesar do ataque e do seqüestro dos documentos, a associação foi fundada. “Não vai ser isso que vai nos abalar, estamos com a cabeça erguida e fundamos a associação, mesmo com o sangue dos trabalhadores”, declarou o dirigente da Conlutas, que ainda chamou a todas as entidades do movimento sindical e popular a repudiar esse bárbaro ataque.

Vitória contra os patrões e a CUT
Os trabalhadores da Construção Civil da Revap protagonizaram uma das principais mobilizações operárias desse primeiro semestre. Indo contra a direção do próprio sindicato, ligado à CUT, os trabalhadores buscaram o apoio da Conlutas para realizar uma forte greve. A mobilização durou um mês e terminou com uma contundente vitória.

A Petrobras e as empreiteiras, porém, foram para o ataque. Nas últimas semanas anunciaram centenas de demissões, incluindo as principais lideranças da greve. A direção da Petrobras chegou a chamar e autorizar a entrada da tropa de choque na refinaria para reprimir uma manifestação dos operários contra as demissões.

As mobilizações reforçaram para os trabalhadores a necessidade de uma entidade alternativa ao sindicato cutista, amplamente repudiado na base da categoria. O sindicato da CUT desconta mensalmente 1% dos salários de todos os trabalhadores. Isso garante uma receita que ultrapassa R$ 1 milhão ao ano, mesmo a entidade tendo pouquíssimos filiados.

Daí dá pra se ter uma idéia dos interesses que estão contra a organização independente dos operários da refinaria.