A absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), provocou indignação e reafirmou o caráter corrupto das instituições. Porém, se os corruptos permanecem impunes, os corruptores nem mesmo são julgados. A empreiteira Mendes Júnior, pivô do escândalo envolvendo o senador, desapareceu dos noticiários e não é investigada.

A empresa pagava uma pensão mensal à jornalista Mônica Veloso, com quem Renan tem uma filha, no valor de R$ 12 mil. A empreiteira Mendes Júnior tem negócios com o governo de Alagoas, estado de Renan, e comanda obras no porto de Maceió, que chegou inclusive a receber a visita de Calheiros. No entanto, assim como acontece com o caso do “mensalão” e com todos os grandes escândalos de corrupção, os corruptores por trás dos parlamentares nunca são incomodados.

Isso ocorre, pois são as grandes empresas, banqueiros e empreiteiras que comandam o jogo por trás dos panos. Uma breve pesquisa no portal do Tribunal Superior Eleitoral, sobre os doadores das últimas campanhas eleitorais, prova que são as mesmas empresas que financiam os parlamentares, seja da oposição, seja da base do governo. A mesma Mendes Júnior cujo lobista pagava as contas de Renan Calheiros, financiou a campanha do senador José Renato Casagrande (PSB-ES), um dos relatores que pediu a cassação do presidente do Senado.

Segundo o TSE, o senador recebeu R$ 75 mil da empreiteira durante a campanha eleitoral de 2006. Aliás, Casagrande parece ter predileção pelo ramo. Recebeu também durante o período R$ 200 mil da Caemi Mineração e Metalúrgica, R$ 40 mil pelo menos da Cedisa Central de Aço e R$ 150 mil da Companhia Siderúrgica de Tubarão. No entanto, versátil, recebeu nada menos que R$ 400 mil da Cisa Trading, uma grande importadora de eletroeletrônicos e produtos químicos e farmacêuticos.

Já a Mendes Júnior não faz distinção entre partido governista e de oposição. Ao mesmo tempo em que mantinha relações promíscuas com Renan Calheiros, financiou a campanha do atual governador da Paraíba, o tucano Cássio Cunha. Também doou para a campanha do presidenciável Aécio Neves, entre outros parlamentares.

O senador petista Tião Viana, que comandou o “teatro do absurdo” que resultou na absolvição de Calheiros, tem por trás de sua campanha grandes empreiteiras e madeireiras. Uma das maiores financiadoras de seu comitê é a Aracruz Celulose, que, aliás, despejou verdadeiras fortunas nas contas de inúmeros candidatos. Também a CSN contribuiu para a campanha do petista. Foram pelo menos R$ 125 mil.

Como se vê, por trás das trocas de socos, dos escândalos extraconjugais e da impunidade, há grandes empresas e empreiteiras que, longe do desgaste do Senado, podem substituir seus candidatos nas próximas eleições e continuar ditando as regras do jogo.