Um grave e brutal atentado contra o povo negro e o direito da livre expressão ocorreu neste 13 de maio, com a prisão do rappar Emiciada, em Belo Horizonte (MG).

A prisão ocorreu em um festival de música, no Palco Hip-hop, onde vários artistas independentes de hip-hop da cidade estavam se apresentavam. Entre eles o Duelo de Mc’s, Mc Monge, Arezona e muitos outros, incluindo grafiteiros, Bboys e Dj’s. Tendo como fechamento do festival o rapper Emicida, já conhecido por seu apoio aos movimentos sociais e de luta por moradia.

O show começa e Emicida, de prontidão, manda uma mensagem de apoio a Ocupação Eliana Silva, que na sexta-feira, 11, foi brutalmente desocupada pela PM de Minas Gerais, a mando da prefeitura. Foi uma denúncia do papel da polícia e dos políticos que realizam despejos de famílias humildes da periferia. Indignado, Emicida chama o público a levantar o dedo médio contra a desocupação e em seguida inicia seu show com a música Dedo na Ferida, que trata exatamente sobre esse tema. A música foi gravada logo após a violência contra os moradores do Pinheirinho, em São José dos Campos, quando 8 mil pessoas foram colocadas na rua para devolver o terreno ao bandido do colarinho branco Naji Nahas.

O show continua e quando menos se espera a Polícia começa a subir no palco para prender Emicida por desacato. “Ele foi preso por defender os sem teto contra os poderosos. O Emicida desde o começo se colocou ao lado dos desalojados, assim como outros rapper”, afirma Toninho Ferreira, advogado dos moradores do Pinheirinho.

Desacato? Pois essa era a pergunta que todos se faziam. Uma manifestação política verbal sobre um fato ocorrido chamada de desacato? Os tempos da ditadura já não teriam passado? Pelo que parece não e a PM de Minas já está na busca de “elementos subversivos” por ai. E já tem o seu alvo, o mesmo de antes de 1888, o povo pobre e negro.

Para justificar a prisão a polícia colocou no boletim de ocorrência frases que o cantor não disse, o que é comprovado por uma gravação do show. E agora toda a mídia burguesa começa a atacar o artista e distorcer os fatos.

Por fim, depois de muitas conversas para evitar que a polícia interrompesse a apresentação, ao final do show, Emicida foi detido, encaminhado a uma delegacia e logo depois liberado.

O fato ocorrido, irônica ou tragicamente neste 13 de maio, somente desmascara a situação em que vive o povo negro. A repressão dos senhores de escravos foi substituída pela ação de polícias e milícias, que extermina jovens negros na periferia, buscando calar aqueles que denunciam a opressão.

Uma ditadura disfarçada de democracia. Onde quem tem voz são os ricos e empresários, enquanto o povo trabalhador não tem acesso aos mais básicos meios de vida e ainda é impedido de se expressar. Por isso é necessário organizar a resistência a esses ataques a liberdade de expressão e contra a criminalização da periferia. O movimento hip-hop é hoje uma expressão dessa resistência, e assim como os quilombos o foram no passado, é perseguido e criminalizado pelo governo e pela policia.

“O PSTU se solidariza com o Emicida, se coloca na mesma trincheira em defesa dos sem tetos. Enquanto a corrupção corre solta e ninguém e preso, enquanto tem muita terra servindo para especulação imobiliária e muita gente sem ter onde morar, enquanto bilionários desdenha de pobre colocando a polícia para escorraçar a população, vamos lutar contra as injustiças, com paus, pedras e poesias”, diz Toninho.