Trabalhadores da empresa fazem a maior mobilização dos últimos anos

Como em junho, quando das ruas se ouvia que as manifestações não eram somente por 20 centavos, nos últimos meses, na Embraer de São José dos Campos, ouvia-se: não é só por 8%!

Desde 1994, ano em que a Embraer foi privatizada, não se via uma mobilização tão forte como na campanha salarial deste ano. Uma força que esteve justamente na disposição de luta e na união dos trabalhadores da produção com os do setor administrativo, setor representa quase 50% da fábrica, sendo que somente de engenheiros há mais de 3.500 em São José dos Campos.

Na assembleia do último dia 27, em clima de tranqüilidade e sensação de dever cumprido, os trabalhadores aprovaram um reajuste salarial de 8%. A proposta aprovada prevê um aumento de 7% retroativo a setembro e mais 0,94% em janeiro para trabalhadores com salários de até R$ 10.029,15.

Funcionários que recebem acima desse teto, receberão um fixo de R$ 720,04 em novembro e R$ 100,29 em janeiro. O acordo incluiu ainda estabilidade no emprego até 31 de dezembro para todos os funcionários e o não desconto das horas paradas nas greves, o que foi muito comemorado como vitórias da greve.

“Hoje, avião da Embraer não vai voar!”
Não foi uma campanha fácil. Como sempre, a Embraer fez de tudo para não conceder o mesmo reajuste salarial conquistado pela categoria metalúrgica. No começo das negociações, a empresa ofereceu apenas a reposição da inflação, de 6,07%.

A forte mobilização demonstrada pelos trabalhadores foi o fator fundamental para quebrar a intransigência da empresa.

No dia 8 de outubro, na fábrica da Avenida Faria Lima, e no dia 23, na unidade de Eugênio de Melo, houve paralisações de quatro horas. Já no dia 31 de outubro, foi deflagrada a greve de 24 horas, que unificou de forma inédita os trabalhadores do setor da produção e do administrativo, após vários anos.

No dia 31, os hangares da Embraer ficaram vazios, resultado da adesão de quase 100% dos funcionários da produção e do administrativo da empresa à greve de 24h aprovada pelos trabalhadores.

Foi uma das mais fortes mobilizações dos últimos anos, tendo sido aprovada em assembleias pelos trabalhadores dos três turnos da fábrica. Com a truculência e desrespeito de sempre ao direito de greve, a Embraer colocou um forte efetivo de seguranças e de policiais o dia todo na empresa. Mas isso não impediu a mobilização.

O objetivo da greve foi buscar um maior aumento real nesta campanha, mas outros motivos também levaram os trabalhadores à greve.

O sentimento da maioria era de indignação com o desrespeito da Embraer, terceira maior fabricante de aviões do mundo, mas que vem impondo um brutal de arrocho salarial a cada ano e se nega a negociar com os trabalhadores.

Uma das palavras mais ditas pelos trabalhadores: justiça!
O comentário geral no chão de fábrica e nos escritórios foi sobre a força da greve. Muitos diziam que “mesmo que a empresa não atendesse as reivindicações,  já tinha valido a pena a greve”.

Foi um grito de indignação. O mesmo grito que muitos jovens e trabalhadores bradaram nas ruas nos meses de junho e julho. No meio do ano, muitos trabalhadores da Embraer foram vistos engrossando as manifestações populares nas ruas de São José, ocupando a via Dutra, protestando contra o aumento das passagens e os gastos da Copa do Mundo, por melhores serviços públicos de saúde e educação.

Nas recentes greves da Embraer foram estes mesmos jovens trabalhadores que protestaram e lutaram contra o assédio moral e as constantes ameaças de demissões, por melhores salários e condições de trabalho.

Lucros e ajuda do governo
Mas, se para os trabalhadores a política da Embraer e de seus acionistas estrangeiros é de arrocho salarial, desrespeito e ataques, a situação financeira da empresa segue muito bem.

A carteira de pedidos da empresa soma 17,8 bilhões de dólares, atingindo seu maior nível desde o terceiro trimestre de 2009. A receita líquida no acumulado do ano até setembro totalizou R$ 8,3 bilhões, comparada aos R$ 8,2 bilhões no mesmo período do ano passado.

Isso sem contar a generosa ajuda do governo Dilma. Somente em 2012, a empresa foi beneficiada com R$ 330 milhões em desoneração da folha de pagamento e R$ 203 milhões em financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Além disso, o governo Dilma destinou, somente em 2013, R$ 1,2 bilhão referente ao contrato para a produção do avião cargueiro KC-390 desenvolvido pela Embraer para a Força Aérea Brasileira. Este é o segundo maior investimento do governo em 2013, perdendo somente para o projeto do submarino nuclear. Para se ter uma ideia, a Embraer recebeu mais dinheiro do que o questionado projeto de transposição do Rio São Francisco.

O governo já reservou R$ 959 milhões na previsão orçamentária de 2014 para o projeto do cargueiro. O pior é que esse dinheiro público está sendo usado pela Embraer para investir em fábricas fora do país, num claro e aberto processo de desnacionalização da produção.

A luta continua pela redução da jornada e contra os gastos da Copa de 2014
Uma das principais reivindicações dos trabalhadores, a redução da jornada atual de 43h para 40h semanais, rumo às 36h, é tratada com descaso pela Embraer.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos já apresentou dados que confirmam a viabilidade da adoção da medida, fundamental para gerar mais empregos e melhorar a qualidade de vida e a saúde dos trabalhadores.

Cálculos realizados pelo Dieese, com base nas demonstrações financeiras da Embraer, mostram que uma jornada reduzida em três horas semanais teria um impacto financeiro de apenas 3,26% sobre a folha de pagamento e ainda geraria 1.224 empregos diretos. Ainda assim, a Embraer se nega a negociar o tema.

Depois da conquista dos 8%, agora é a hora de impulsionar a luta pela redução da jornada de trabalho, bem como colocar os trabalhadores da Embraer e os metalúrgicos de São José dos Campos na vanguarda da preparação da jornada de lutas para a Copa de 2014.

O gigante acordou e vai lutar com mais força e organização se tiver à sua cabeça o proletariado industrial.