Maior jornada de trabalho do mundo no setor e ajuda pública garantem os lucros da empresaA mesma Embraer que anunciou nesse dia 19 de fevereiro a demissão de 4,2 mil trabalhadores é a mesma que há meses atrás anunciava lucros recordes. Só em 2007, a Embraer registrava lucros de R$ 657 milhões, com uma receita de 7 bilhões de dólares.

No segundo trimestre do ano passado, os lucros da empresa cresceram 121% em relação ao mesmo período de 2007. Em todo o primeiro semestre de 2008, a Embraer teve aumento de 73% nos lucros, um ganho de quase R$ 240 milhões. Nesse período, a receita da empresa superou os R$ 5 bilhões. De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, os lucros da empresa desde 2005 teriam superado R$ 2 bilhões.

Mesmo com a crise na aviação internacional, a Embraer divulgava novos investimentos. A empresa teria anunciado investimentos em fábricas fora do país, como em Portugal e nos EUA.

O que sustenta o lucro da Embraer?
A Embraer é líder mundial na produção de jatos comerciais de pequeno porte. Ao contrário do que prega a ideologia neoliberal, não é a gestão privada que garantiu até agora os bons resultados da empresa. O que sustenta os lucros bilionários da empresa privatizada em 1995 é uma super-exploração de seus trabalhadores aliado a generosos subsídios públicos.

A extenuante jornada de trabalho chega a 43,5 horas semanais, a maior do setor aeronáutico no mundo. Além disso, o sindicato revela que a empresa é uma das principais empresas beneficiadas pelo BNDES, tendo recebido cerca de 7 bilhões de dólares através de financiamentos, desde sua privatização.

Lutar contra as demissões
Os rumores das demissões começaram no final de 2008, através de uma notícia divulgada pela imprensa. Os boatos se espalharam por dentro da fábrica e a direção da empresa rebateu categoricamente a notícia. “A notícia não tem fundamento”, chegou a dizer o presidente da empresa, Frederico Fleury Curado.

Mesmo assim, o sindicato tentou por meses uma reunião com a direção da empresa, sem sucesso. Agora, o sindicato impulsiona uma ampla mobilização contra as demissões, a maior da história da Embraer.

Em momentos como esses, é importante recordar o histórico de mobilizações das gerações anteriores. Em 1982, os metalúrgicos da Embraer protagonizaram as primeiras grandes greves na década. Naquele ano, os trabalhadores da empresa cruzaram os braços e ocuparam a fábrica por reajuste e por maior democracia. Os funcionários reivindicavam a a possibilidade da existência da comissão de fábrica, enfrentando a ditadura militar num exemplo de coragem e combatividade.