Enfrentando-se com a polícia, ferroviários ocupam os trilhos
Conlutas-PI

Os trabalhadores da Companhia Ferroviária Naciaonal-CFN, antiga Refesa, estão há mais de 15 dias em greve no Piauí. Os motivos, além da pauta de reivindicações, são as 20 demissões realizadas covardemente mesmo antes do lançamento da campanha salarial no mês de maio.

Entre os demitidos estão 15 trabalhadores de base e cinco diretores sindicais. Multas, interditos proibitórios, bloqueios das contas do sindicato e pessoais dos diretores e a utilização de jagunços armados expressam a truculência com que a patronal trata o movimento. A empresa sequer compareceu às audiências na Delegacia Regional do Trabalho (DRT).

Escravos dos trilhos
A atividade na malha ferroviária é muito pesada e estressante para os que trabalham na linha Piauí, Maranhão e Ceará. Os trabalhadores ficam sempre expostos ao sol escaldante na manutenção dos trilhos e no auxílio ao transporte de combustíveis. Não dispõem de equipamentos de proteção adequados.

Trabalhando com material inflamável, a situação se agrava, atingido mais ainda a saúde destes trabalhadores. O sindicato fez, recentemente, uma denúncia de trabalho escravo junto à Procuradoria Geral do Trabalho devido às péssimas condições de trabalho e à falta de respeito aos direitos trabalhistas.

Privatização
Estas são as conseqüências da privatização da Refesa, realizada em 1998. Segundo o secretário de comunicação do sindicato, Gilmar Marques, eram cerca de 600 trabalhadores, dos quais restam apenas menos de um terço. Esses recebem salário mínimo. Na época, a Refesa foi vendida por R$15 milhões, depois que o governo FHC tinha investido R$60 milhões na melhoria da estatal.

A empresa foi dividida em lotes. O grupo de empresários falidos ligados à Vincunha, que ganhou o leilão da concessão dos serviços por 30 anos renováveis por igual período, pagou apenas R$5 milhões de entrada e dividiu o restante em 27 prestações, ainda com três anos de carência da primeira parcela. Lula, com o PAC, premiou estes empresários com um investimento de R$4 milhões no setor. Há uma tentativa via justiça de reestatização da empresa por quebra de contrato em Pernambuco.

A greve se fortaleceu com o apoio da Conlutas, que ajudou a paralisar as atividades de transporte realizadas por dois trens com cargas de mais de 800 mil litros de combustíveis. Caso a greve continue, poderá gerar uma crise de desabastecimento na cidade, cuja responsabilidade é toda da CFN. Na última mesa de negociação na DRT, o juiz propôs um acordo que envolvia a reintegração dos demitidos.