Setecentas pessoas estiveram na Avenida Paulista, em São Paulo (SP), neste domingo, para marcar o Dia Internacional da Mulher. Este ano, o ato, convocado pelo Movimento Mulheres em Luta da Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas) teve como tema principal a crise econômica e seus efeitos sobre as mulheres trabalhadoras.

Às 11h, trabalhadoras, trabalhadores e estudantes começaram a se concentrar em frente ao Masp. Um dos momentos mais emocionantes foi o discurso de Rosângela Calzavara, operária da Embraer de São José dos Campos. Ela falou sobre as mais de 4.200 demissões e sobre como está sendo a luta pela reintegração.

“Um momento de crise proporciona as condições objetivas para os trabalhadores fazerem avançar sua luta”, disse colocando o caso da Embraer como um exemplo. “A Conlutas optou por colocar os trabalhadores na luta direta”, afirmou defendendo a redução da jornada de trabalho sem redução de salário e a reestatização da Embraer.

Mostrando o caráter internacional da luta das mulheres trabalhadoras, Soraia, do Movimento Palestina para Todos e da Frente de Defesa da Palestina, expôs a triste situação das mulheres na guerra. Classificando a ocupação de criminosa, ela deixou claro que a comunidade árabe não vai se calar.

As estudantes também estiveram presentes. Representando a nova gestão do DCE Livre da USP, Julia Almeida falou sobre a importância de construir uma alternativa às direções tradicionais do movimento estudantil. Ela ressaltou que a União Nacional dos Estudantes está vinculada ao governo Lula, que junto com os patrões impõe que os trabalhadores paguem pela crise. “Apesar de ter uma mulher na sua presidência, a UNE ganhou R$ 4 bilhões do governo no ano passado”, disse. Ela concluiu chamando todos os estudantes a construir o Congresso Nacional de Estudantes.

Após passeata, o ato continuou em frente à Federação da Indústria do Estado de são Paulo (Fiesp), principal representante dos patrões no país. À frente da caminhada, mulheres faziam um panelaço. Além da crise, os temas que dizem respeito especificamente á mulher foram destacados. No carro de som, as mulheres que falaram advertiram que a mulher está longe de se emancipar, pois ainda sofre a violência doméstica, a dupla jornada, o assédio, a morte por abortos mal feitos.

Evidentemente, um dos temas tocados foi o caso da menina pernambucana de nove anos, estuprada e grávida de gêmeos, que chocou o país e o mundo na última semana. A igreja católica, que condenou a decisão pelo aborto, aprofundando o sofrimento e a violência à menina, foi duramente rechaçada. Janaína Rodrigues, da Conlutas, chamou uma vaia ao arcebispo de Olinda, que classificou o aborto como mais grave que o estupro. Ela defendeu a legalização e a descriminalização do aborto, para que as mulheres tenham o direito de decidir sobre seu corpo.

Janaína encerrou a manifestação fazendo uma grande saudação e parabenizando a todas as mulheres que construíram “um lindo ato feminista e socialista”. “Este ato mostrou a força da classe trabalhadora, estamos organizando a luta contra o desemprego, e as mulheres são as mais atingidas”, disse. Em nome da Conlutas, ela cobrou do governo Lula a criação de uma Medida Provisória que proíba as demissões, que estão ocorrendo em massa sob pretexto da crise.

Entre outras coisas, Janaína defendeu o fim da dupla jornada da mulher e salário igual para trabalho igual. Ao final de sua fala, os manifestantes do panelaço jogaram suas panelas no saguão do prédio da Fiesp em protesto contra os ataques Às condições de vida dos trabalhadores. “Panela vazia, não!”, gritou Janaína.

Participaram da manifestação dezenas de organizações e entidades sindicais, estudantis e do movimento popular, como Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, o Sindsef-SP, a Oposição Alternativa da Apeoesp, Oposição Bancária, DCE Livre da USP, Diretório Acadêmico da Fafil – Fundação Santo André, Grupo de Trabalho GLBT da Conlutas, Grupo de Mulheres Lésbicas da PUC-SP, Ocupação Pinheirinho, Movimento Mães sem Creche, MTST, PSTU, Frente Operária Socialista, Liga Estratégia Revolucionária, entre outras. O cineasta iraniano Masoud Raouf estava no ato e foi anunciado no carro de som.