Nesta sexta-feira, dia 21 de novembro, como parte das manifestações da Semana da Consciência Negra se realizou na capital maranhense a 3ª Marcha da Periferia com o tema “Reparações Já: Pelo pagamento da dívida social com o povo negro”. A Marcha contou com a participação de vários militantes do Movimento Hip-Hop Organizado Quilombo Urbano, da seção sindical do Andes-SN (Apruma), da Conlutas, da Conlute e do PSTU.

Este ano, durante todo o segundo semestre, ocorreu uma série de atividades preparatórias à marcha. Entre elas, a ocupação de uma praça pública localizada no Centro Histórico de São Luís rebatizada de Quilombo Cultural Lagoa Amarela, em homenagem ao líder da primeira insurreição negra do Maranhão Negro Cosme, com debates e atividades culturais todas às sextas-feiras. O Centro Histórico sofre, atualmente, uma nova onda de recolonização especulativa através da compra de casarões históricos por europeus. O local foi palco, neste último período, de importantes discussões sobre as ocupações do Haiti, a crise econômica e a criminalização dos movimentos sociais, além da apresentação de filmes e documentários.

Ao final da marcha, foi realizado o tradicional Festival de Hip-Hop organizado desde 1989 pelo Quilombo Urbano, entidade do movimento popular filiada à Conlutas. O festival se transformou numa grande reunião política e cultural que reúne todos os anos a juventude negra e pobre da periferia para denunciar o racismo, a repressão policial e a falta de emprego, entre outras questões, através das letras do rap.

Diferente da maioria das organizações do movimento negro em nosso país que passaram para o lado dos governos e das empresas multinacionais se transformando em ONGs, o Quilombo Urbano continuou na luta direta denunciando os casos de racismo e repressão praticados pelo Estado e mantendo como princípio a construção do socialismo. Ao mesmo tempo, não permitiu que as bandeiras históricas do movimento negro, como as reparações, fossem esquecidas e substituídas pelo discurso da inclusão e da democracia racial.

Uma mostra de que a organização da Marcha da Periferia causa incômodo tanto para o governo quanto às organizações governistas do movimento negro é que, no mesmo período, a CUFA (Central Única das Favelas), ligada ao governo, tentou inviabilizar a atividade realizando eventos nas mesmas datas e em locais próximos às atividades da marcha.

Mais uma vez, a Marcha da Periferia superou as expectativas dos organizadores, consolidando-se como uma alternativa para os lutadores e lutadoras da esquerda socialista frente à despolitização e o governismo da direção do Grito dos Excluídos após a chegada do governo Lula e Jackson Lago.

Zumbi e Negro Cosme vivem! Racismo se combate com raça e classe!

QUEM FOI NEGRO COSME?
Foi o principal líder da Balaiada, insurreição popular ocorrida no Maranhão em 1838 que denunciou a situação de miséria de grande parte da população formada na época por escravos e sertanejos.

Em 1839, Negro Cosme e mais de 3 mil negros realizam a primeira insurreição de escravos ocorrida no Maranhão tomando a fazenda Lagoa Amarela, localizada hoje no município de Chapadinha, a 246 quilômetros da capital São Luís e transformando-a no seu quartel-general.

Com medo da radicalização do movimento, as classes médias que até então apoiavam os balaios contra as oligarquias ligadas à Coroa Portuguesa passaram para o lado da reação e com a ajuda do Exército sufocaram a rebelião em 1841. Negro Cosme foi morto enforcado no mesmo ano.