Um crime bárbaro chocou a cidade de São José dos Campos (SP) no dia 4 de fevereiro deste ano. O assassinato de quatro mulheres foi motivado pelo ciúme que sentia o ex-namorado de Sandra*. Após um longo período de ameaças, o ex-namorado concretizou o crime: mandou matar a tiros a mãe, a irmã e a filha de Sandra – filha do próprio mandante, de apenas três anos – e a própria irmã.

Em documentário produzido pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos, Sandra fala que “ele era muito ciumento e depois começou a falar que se eu terminasse com ele, ele ia me matar e ia matar a minha família”. Após o fim do relacionamento, Sandra continuou ouvindo as mesmas ameaças. O ex-namorado queria retomar o namoro a força.

Sandra sobreviveu porque estava trabalhando na hora da chacina. Antes da tragédia, ela já havia sido agredida por ele. Um tapa no rosto e um empurrão que a derrubou no chão foi o castigo por ter cumprimentado um amigo.

Falta de ação da PM
A opressão sofrida pelas mulheres é tão grande que muitas não denunciam o agressor. Elas têm medo de represálias, se sentem humilhadas e fracas e, não raramente, se sentem culpadas. Com salários mais baixos que os dos homens, algumas mulheres não podem denunciar seus maridos, pois dependem financeiramente deles.
Sandra, porém, não ficou calada. Quando foi agredida, procurou uma delegacia e registrou ocorrência. “Eu fui à delegacia do 31 de Março e fiz a denúncia contra ele, que ele tinha me agredido, e, nessa denúncia, eu aproveitei e acrescentei que ele me ameaçava e a minha família”, conta. Na delegacia, Sandra ouviu da polícia que “iriam atrás dele, iam conversar com ele e isso não iria acontecer mais”.
Não foi o que aconteceu. Na verdade, se a Lei Maria da Penha fosse levada a sério, o agressor deveria estar preso desde o primeiro ato de violência contra Sandra. A polícia e o Estado não agiram, deixando o caminho livre para que o ex-namorado praticasse o ato cruel que pôs fim à família de Sandra.
A vida dessa mulher, hoje, está destruída. Com medo, ela se mudou para outra cidade. A vítima teve de fugir.

Qual é a saída?
O capitalismo incentiva a violência contra a mulher de várias formas. Nos meios de comunicação, por exemplo, a mulher é tratada constantemente como um objeto, como algo inferior que possa ser usado e descartado. À mulher, sobra o papel de servir, não podendo dizer não. Assim, fica exposta a todo tipo de violência física e moral. As mais atingidas são as pobres, negras, jovens e lésbicas.
No Brasil, mais de 60% das vítimas de violência doméstica são mulheres. A cada 15 segundos, uma mulher é agredida. O governo Lula criou a Lei Maria da Penha para, em tese, aumentar a punição a homens que agridem mulheres. No entanto, a lei não saiu do papel.

Os motivos são simples: o governo não investiu um centavo sequer na construção de casas abrigo – para proteger as mulheres que denunciam – nem em estruturas que permitam de fato a prisão desses agressores. Pelo contrário, cortou 42% da já pequena verba destinada ao combate à violência contra as mulheres. Do que sobrou, o governo investiu apenas 4%.

É preciso que o Estado garanta a punição aos agressores, seja a violência física, seja moral. Para isso, tem de haver investimento. Em vez de pagar bilhões de reais em juros da dívida externa, o governo deveria usar esse dinheiro para garantir proteção e boas condições de vida às mulheres – habitação, saneamento, saúde, educação e creches.

*O nome da vítima foi alterado para preservar sua segurança.

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