Vivaldo Moreira, presidente do sindicato, ao lado de Didier Dominique
SindmetalSJC

Após cinco anos de ocupação do Haiti pelas tropas militares da ONU, sob o comando do Brasil, a situação naquele país é de extrema violência, miséria e repressão contra o povo. Fatos que comprovam esse quadro foram relatados pelo ativista haitiano Didier Dominique, em palestra realizada nesta quarta-feira, dia 24, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos.

A Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (Minustah), liderada pelo governo brasileiro, vem cumprindo um papel de obediência ao imperialismo com ações que têm o objetivo de reprimir qualquer manifestação popular e garantir a exploração do povo por empresas transnacionais.

O que se tem visto nas ruas do Haiti são ataques militares contra civis, incluindo mulheres e crianças. Até mesmo hospitais, igrejas, parques e ruas residenciais são alvos das tropas.

Para se ter uma ideia, segundo relato de Dominique, recentemente soldados lançaram bombas de gás lacrimogêneo dentro de um hospital e abriram tiroteio dentro de uma igreja. No último dia 18, as tropas fizeram ataques contra pessoas que participavam do funeral do sacerdote Gerard Jean-Juste, um aliado próximo do presidente exilado Jean-Bertrand Aristide. Com os ataques, um homem haitiano foi morto por soldados brasileiros da Minustah.

Mas a violência não ficou sem resposta. Diante da ação dos militares, o funeral transformou-se em um forte protesto, confirmando a tradição de luta do povo haitiano. Manifestantes colocaram o corpo da vítima diante do palácio presidencial.

Segundo Dominique, ao longo dos últimos cinco anos, a postura violenta e repressiva das tropas de ocupação da ONU gerou uma relação de ódio entre o povo haitiano e os soldados. Segundo ele, as mulheres são as maiores vítimas, com gravíssimos casos de estupros, agressões e prostituição.

“Mesmo quando os agressores são identificados, não há sequer julgamento”, denunciou. O ativista, da Central Sindical e Popular Batay Ouvriyer, citou o caso de 108 soldados do Sri Lanka, integrantes das tropas da ONU, que confessaram ter violentado várias meninas haitianas. A única punição aos criminosos foi a volta ao país de origem.

Exploração
O cenário de miséria absoluta em que vive o povo haitiano formou-se a partir de anos de rapina e exploração por potências imperialistas, como os Estados Unidos e a França. Na atualidade, o projeto é garantir a superexploração do povo haitiano pela indústria transnacional instalada no país, em especial as fábricas do setor têxtil.

Empresas norte-americanas e canadenses deslocaram-se para o Haiti em busca de mão-de-obra barata, que poderíamos chamar, sem exagero, de trabalho escravo.

Hoje, o salário mínimo no Haiti é equivalente a 3 reais por dia – valor insuficiente para garantir alimentação, moradia, educação e saúde.

Atualmente, há uma intensa mobilização no Haiti para reivindicar o aumento do salário mínimo. Os últimos reajustes aconteceram em 2003, 1995 e 1982, apesar de a legislação local determinar que os aumentos devem ser anuais. Entretanto, a luta dos trabalhadores e dos estudantes tem sofrido violenta repressão por parte da Minustah.

“Há diversos casos de assassinatos de dirigentes sindicais e de organizações populares. A Minustah quer manter um sistema feudal no Haiti”, disse Dominique.

Desde o início da missão no Haiti, o Brasil já gastou 700 milhões de reais com a ação militar naquele país. Hoje, há cerca de 1.800 soldados brasileiros nas tropas da ONU.

Com a vinda da Delegação Haitiana ao Brasil, o governo federal foi questionado sobre a retirada das tropas. A delegação haitiana, que chegou ao Brasil no último dia 16, chegaram a participar de uma audiência pública no Senado. Apesar das graves denúncias realizadas pela delegação, o presidente Lula e integrantes do Itamaraty afirmaram que não há qualquer previsão para a retirada. Inicialmente, as tropas deveriam ter ficado apenas um ano.

“A luta pela retirada das tropas deve ser internacional, de todos os trabalhadores, em defesa da dignidade e da soberania do povo haitiano”, afirmou Didier Dominique.

Também vieram ao Brasil, Carole Pierre Paul-Jacob, dirigente da organização Solidariedade das Mulheres Haitianas – SOFA e Frantz Dupuche, membro da Plataforma Haitiana em Defesa de um Desenvolvimento Alternativo – PAPDA. Os companheiros, que participaram de diversos debates e palestras nos últimos dias, ficam no país até esta sexta-feira, dia 26.