Ministro da Defesa nega pandemia entre indígenas em RR.
Redação

O genocídio contra os povos indígenas está escancarado. E tem direito a visita oficial, fanfarra e hino nacional. No último dia 1º, uma comissão interministerial de emergência de combate à pandemia foi a Roraima para ver o que está ocorrendo com as populações indígenas do estado. A comissão contou com a presença do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e de representantes do Ministério da Saúde. Umas das barbaridades da dita “missão” foi levar 66 mil comprimidos de cloroquina para o tratamento de indígenas de nove etnias das Terras Indígenas Yanomami e Raposa Serra do Sol.

Embora a maioria dos cientistas e a própria OMS não recomendem o uso da cloroquina no tratamento da Covid-19, em razão dos muitos problemas que potencialmente a droga pode causar, como graves problemas cardiovasculares, o governo Bolsonaro fez dela a cura fake do coronavírus. Fez propaganda em torno da droga e a usou como cortina de fumaça enquanto mandava os brasileiros retomarem a normalidade e seguirem para o abate. Sem a menor comprovação científica da sua eficácia no tratamento da Covid- 19, o governo mandou o Exército fabricar milhares de comprimidos. Agora despejam em cima dos povos indígenas com o claro propósito de os liquidarem.

Neste momento há 20 mil garimpeiros invasores nas terras yanomamis. A maioria foi pra lá estimulada por Bolsonaro. A presença desse bando de desesperados potencializa ainda mais os riscos de contágios entre as populações indígenas. Mas parece ser exatamente o plano do governo. Usam a garimpagem como “infantaria” e a cloroquina como “artilharia”.

Fernando Azevedo e Silva ainda soltou uma pérola durante a visita: “não é um caso de uma pandemia que está atingindo os índios”. A negação farsante do ministro fez com que as entidades dos povos indígenas de Roraima repudiassem publicamente a fala do militar, vide a nota abaixo.

No passado, a ditadura militar exterminou civilizações inteiras na Amazônia para construir estradas, abrir a região pra mineração e pra pecuária. Naquela época, dinamites eram jogadas de aviões contra aldeias. Mas isso não aniquilou as populações indígenas que sempre foram vistas pelas Forças Armadas como uma ameaça à soberania nacional na Amazônia. O curioso é que enquanto matavam indígenas, os militares estregavam aos capitalistas estrangeiros enormes áreas territoriais para explorar mineração, celulose e floresta virgem que deveriam ser convertidas em grandes fazendas. No que se refere à Amazônia, a ditadura foi o regime mais entreguista de toda história brasileira. E agora querem repetir a história. Confira a nota:

NOTA DE REPÚDIO

2 de julho de 2020

O Conselho Indígena de Roraima (CIR), em nome de 10 regiões, 246 comunidades e mais de 50 mil indígenas dos povos Wapichana, Macuxi, Taurepang, Ingarikó, Patamona, Wai Wai, Sapará, Yanomami e Yekuana vem REPUDIAR a declaração do Ministro da Defesa, General Fernando Azevedo e Silva, dada ontem, 01 de Julho de 2020, à imprensa local que: “(…) tivemos uma operação com várias etnias, NÓS NÃO TIVEMOS NENHUM CASO E RELATO DE ALDEIAS MAIS LONGÍNQUAS E SOMENTE DOIS CASOS. Então, não é um caso de uma pandemia que está atingindo os índios”. Perante essa afirmação farsante do ministro, viemos nos posicionar publicamente e dizer que a realidade dos povos indígenas de Roraima, em relação à pandemia do novo coronavírus, contradiz sua declaração.

Há anos que as comunidades indígenas vêm sofrendo com o descaso na saúde indígena, e nesse período a SESAI não fez sequer um plano emergencial para atendimento das comunidades. Há relatos de lideranças que em suas comunidades todos os parentes tiveram e estão tendo os sintomas da Covid-19. E, ao procurar o posto de saúde, não são atendidos, porque faltam EPIs e os testes não são suficientes, os postos de saúde estão em situação precárias, ou seja, nem o mínimo de assistência nossos povos estão tendo. Tudo isso coloca em risco a vida de mais de 70 mil Indígenas em Roraima, atendidos pelos Distritos Leste e Yanomami.

Nossos povos estão morrendo, nossas vidas importam, senhor ministro! Suas falas mostram a inércia de um sistema que não está preocupado com a vida de nossos parentes,. Não concordamos e nem aceitamos suas palavras que tenta invisibilizar nossa dor em um momento de tantas perdas.

Nós que vivenciamos a nossa realidade, senhor ministro! A Covid-19 está sim se alastrando a cada dia nas comunidades indígenas e isso tem tirado a nossa tranquilidade. É, sim, preocupante o número de pessoas com os sintomas. E nos preocupa a distribuição de um medicamento (cloroquina) sem comprovação científica de eficácia no combate ao coronavírus. Além disso, essa situação pode causar efeitos colaterais, podendo levar à morte, conforme a própria OMS.

O ministro deveria saber que quem está na ponta diuturnamente, correndo risco, enfrentando invasores, garimpeiros, são os agentes indígenas de proteção e vigilância territorial e demais lideranças.

Até o momento o Governo Federal não apresentou nenhum plano emergencial de combate à Pandemia causada pela Covid-19. Diante disso, para tentar impedir um genocídio, os povos acionaram o STF para que o governo adote medidas de proteção aos povos indígenas durante a pandemia.

Boa Vista, RR, 02 de julho de 2020.