Presidente ignora os bilhões dados pelo BNDES à empresa e aceita a justificativa para as demissõesEm reunião com a direção da Embraer nesse dia 25 no Palácio do Planalto, Lula ouviu do presidente da companhia, Frederico Curado, as justificativas para a recente demissão em massa realizada pela empresa. A reunião contou com a presença de altos executivos da Embraer e, por parte do governo, vários ministros, como o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, o do Desenvolvimento, Miguel Jorge e a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef.

Uma semana depois de ter se declarado “indignado” com as demissões, a postura de Lula foi bem diferente. Segundo relato do ministro Miguel Jorge e do presidente da Embraer logo após o encontro, o presidente não pediu a reintegração dos 4.200 funcionários sumariamente demitidos. Lula ouviu e aceitou as explicações da empresa, culpando a crise econômica internacional pelo corte. O presidente se limitou a pedir à Embraer que “ajudasse” os funcionários demitidos, estendendo os benefícios além do auxílio-saúde.

Jogo de cena
No dia em que a Embraer anunciou o maior corte da sua história, Lula encontrava-se reunido com o presidente da CUT, Arthur Henrique. Ao término da reunião, Henrique afirmou que o presidente havia ficado “indignado” com a notícia das demissões. Outros vários interlocutores do governo também disseram que Lula estava insatisfeito, principalmente pelo fato de a empresa ter sido largamente beneficiada pelo BNDES nos últimos anos.

Junto com as declarações indignadas, Lula anunciou que convocaria a direção da Embraer para cobrar explicações. Tal discurso, porém, logo se revelou mera encenação. No dia 21, a Folha de S. Paulo revelou que, tanto o governo quanto a CUT já sabiam das demissões dias antes. Isso porque os cortes teriam sido discutidos na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o “conselhão”, na segunda-feira anterior, dia 16. Estiveram na reunião ministros do governo e o próprio presidente da CUT.

Como se não bastasse ,segundo o jornal Gazeta Mercantil, que publicou notícia sobre o plano de demissão ainda em dezembro, tanto o governo quanto a CUT já sabiam das intenções da Embraer há pelo menos dois meses. O jornal relata que, após um encontro com a ministra Dilma no dia 3 de dezembro, o presidente da Contraf (Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro) Vagner Freitas, teria pedido a interferência do governo nas “demissões da Vale e na Embraer, que temos informações que vai começar a demitir”. Tais informações viriam da Previ e BNDESPar, fundos de previdência que têm controle de grande parte da Embraer.

Embora o governo negue que sabia das demissões, tudo leva a crer que Lula e a CUT já estavam a par dos planos da empresa. A intenção do governo seria encenar uma mediação entre empresa e trabalhadores e capitalizar isso politicamente. Como não foi possível evitar as demissões, o governo tentou tirar uma casquinha do clima de indignação gerado pelo facão da empresa.

Na reunião com a Embraer, porém, o discurso mudou. O ministro Miguel Jorge chegou ao cúmulo de afirmar que o financiamento do BNDES não é para a empresa. “O BNDES financia quem compra os aviões da Embraer, é para quem compra, não para quem vende”, teve o cinismo de afirmar. Segundo o próprio banco, só em 2008 foram disponibilizados 542 milhões de dólares para a empresa.

Enquanto isso, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP) e a Conlutas lutam pela reintegração de todos os demitidos. Na tarde desta sexta-feira, dia 22, ocorre uma nova manifestação contra os cortes.