O jornalista Alberto Dines, ao se referir às recentes arbitrariedades da “justiça” contra os jornalistas Jorge Kajuru e Fernando Morais, chamou a democracia brasileira de fingida. De fato, os dois recentes casos de censura mostram que ele não está errado. Nesta democracia dos ricos, além dos meios de comunicação estarem nas mãos de pouquissímos grupos, a censura é uma ameaça presente, que pode se abater contra todos que incomodem os poderosos de plantão.

No dia 28 de abril, devido a uma ação movida pela Organização Jaime Câmara (OJC), poderosa controladora de mídia de Goiânia, Kajuru foi condenado a 18 meses de prisão domiciliar. O motivo foi a declaração do jornalista, seis anos atrás, de que o governo de Goiás teria comprado o campeonato de futebol goiano e ainda favorecido um canal local, pertencente ao grupo OJC, com a exclusividade do direito de exibição. Esta semana, em carta aberta publicada no portal Observatório da Imprensa, coordenado por Dines, Jorge Kajuru afirma ter a cópia do contrato da compra do Campeonato Goiano de 2001 pela TV Anhanguera e também da negociação do Campeonato Catarinense “à disposição de quem possa interessar”.

No entanto, pouco tempo depois foi a vez do jornalista e escritor Fernando Morais. No dia 4 de maio, o seu mais recente livro, Na Toca dos Leões – que relata a trajetória da agência de publicidade W/Brasil, de Washington Olivetto – recebeu ordem de apreensão em todas as livrarias, por determinação da 7ª Vara Criminal de Goiânia. A liminar foi concedida a pedido do deputado federal e latifundiário Ronaldo Caiado (PFL-GO), que é citado no livro devido à declaração que teria dado em 1989, quando era candidato à presidência pelo PSD. Na época, Caiado presidia a União Democrática Ruralista (UDR) e teria dito possuir um projeto de “esterilização das mulheres como solução da superpopulação dos estratos sociais inferiores, os nordestinos”. Pela decisão, Fernando Morais também está proibido de comentar o assunto, sob pena de pagar R$ 5 mil a cada manifestação.

Em cada um desses casos é preocupante a forma clara com que tudo aconteceu. A opinião pública pôde ver juízes despreparados, exercendo livremente a censura à liberdade de imprensa. As penalidades impostas aos jornalistas mostram que paga caro quem leva ao pé da letra a profissão e resolve desafiar os poderosos. Em toda a história da imprensa, como já mostrou Fernando Jorge, a ordem de cima é: ”Cale a boca, jornalista”.