Diego Cruz, da redação

No dia em que o Brasil batia recorde diário de mortes pelo novo coronavírus, Bolsonaro fez questão de mostrar seu desprezo pela vida da população: “É o destino.” Essa política genocida que transformou o governo num pária internacional está fazendo efeito. As últimas pesquisas mostram um crescimento do rechaço ao seu governo num contexto de aumento da polarização.

A pesquisa Datafolha divulgada no dia 29 de maio revela que os que consideram Bolsonaro ruim e péssimo saltou de 35% em maro para 50%. Um recorde, ainda que sua base de apoiadores continue nos 27%. Essa balança, contudo, começa a pender de forma mais acentuada para o lado da oposição, puxando os que consideravam o governo regular, que caíram de 25% para 22%.

Crise se aprofunda

Bolsonaro se vê imerso numa tripla crise: sanitária, econômico-social e política. Por um lado, conseguiu colocar o Brasil no epicentro da pandemia, a ponto de Trump ordenar a proibição da entrada de qualquer um que tenha passado pelo país. Por outro, o programa ultraliberal de Paulo Guedes se mostra, no atual contexto, cada vez mais impraticável. Estimativas dão conta de que a economia vai cair perto de 10% este ano, algo inédito em nossa história.

Por fim, o cerco na Justiça vai se fechando, tanto em relação ao escândalo envolvendo seu filho 01, o agora senador Flávio Bolsonaro, milicianos e as rachadinhas, quanto em relação às investigações sobre o gabinete do ódio e sua rede de fake news em massa dirigida pelo 02, o vereador Carlos Bolsonaro. Essa situação fez precipitar a crise política ao ser o estopim para a saída do então ministro Sérgio Moro.

Entre militares, Guedes e o centrão

Sem Moro, o bolsonarismo perdeu uma das pernas que o sustentavam. As investidas da Justiça, por sua vez, provocaram como reação uma nova onda de ameaças de golpe, como a de Eduardo Bolsonaro, que disse que uma ruptura não era mais questão de “se”, mas de “quando”, e do ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, que alertou que uma possível apreensão do celular de Bolsonaro traria “consequências imprevisíveis”.

O governo se sustenta em parte pelo apoio da cúpula militar, que entrou em massa no governo, acomodou-se e, pelo visto, gostou do ambiente. Não é difícil entender o motivo, só em obras de infraestrutura, as Forças Armadas estão levando mais de R$ 1 bilhão em contratos.

Por outro lado, o empenho de Paulo Guedes em atacar os direitos dos trabalhadores, aproveitando-se da pandemia para impor nova rodada de reforma trabalhista, por exemplo, garante ainda apoio de um setor do empresariado e do sistema financeiro. Sem falar em sua obsessão privatista tão bem exposta na reunião ministerial em que soltou um “tem que vender essa porra” ao se referir ao Banco do Brasil.

Ao mesmo tempo em que Bolsonaro continua, de forma hipócrita, bradando contra o “sistema” a fim de manter sua base fiel de apoio, flertando com o golpismo, no Congresso Nacional investe pesadamente no centrão, unindo-se aos ex-presidiários Roberto Jefferson (PTB) e Valdemar da Costa Neto (PL). Busca, com isso, garantir uma base no Congresso e bloquear qualquer eventual pedido de impeachment.

É um governo enfraquecido, mas ainda perigoso, que mira as liberdades democráticas sempre que acuado e está disposto a levar sua política genocida até as últimas consequências.

O centrão vai às compras

Moeda de troca no Congresso Nacional, Bolsonaro acabou de entregar o Banco do Nordeste ao centrão. O novo presidente, indicado de Valdemar da Costa Neto, é Alexandre Borges Cabral, investigado por corrupção na Casa da Moeda em 2018. Já o PP de Ciro Nogueira levou o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão do MEC com um orçamento de R$ 30 bilhões. Sobrou até para um assessor de Geddel Vieira, aquele em cujo apartamento foram encontrados R$ 51 milhões. O amigo de Geddel vai comandar o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

 

FORA BOLSONARO E MOURÃO
Protestos contra o governo começam a tomar as ruas

Diante da paralisia da oposição parlamentar frente aos ataques de Bolsonaro, tanto à vida, ao emprego e aos direitos quanto às liberdades democráticas, um setor das torcidas organizadas de São Paulo deu um primeiro passo chamando um protesto na Av. Paulista no último dia 31. A manifestação foi reprimida de forma dura pela Polícia Militar e contou com um amplo apoio popular.

No Rio de Janeiro, ocorreu um protesto no mesmo dia, capitaneado também pelo movimento negro e inspirado na onda de insurreição que toma os EUA e na série de execuções praticadas pela Polícia Militar do Rio de Janeiro, como no caso do menino João Pedro. Atos contra o governo e o genocídio do povo negro também ocorreram em Curitiba e em Manaus ao longo da semana.