No último domingo, dia 20, foi realizado o segundo turno das eleições presidenciais haitianas. O processo é disputado pelos candidatos Michel Martelly, do Partido Resposta Camponesa (RC), e Mirlande Manigat, do Agrupamento de Democratas Nacionalistas e Progressistas (ADNP).

Mais uma vez, as eleições ocorreram com inúmeros problemas e denúncias de fraude, o que pode acentuar ainda mais a crise política existente no país. Segundo informações do Conselho Eleitoral do país, o resultado será divulgado no dia 31. No entanto, o prazo poderá adiado indefinidamente.

No primeiro turno das eleições presidenciais de 28 de novembro, o governo de Reneé Préval apelou para fraude e tentou impor um segundo turno no qual concorresse seu candidato Jude Celestin. Contudo, a manobra não deu certo. Os partidários de Michel Martelli, excluído do segundo turno, tomaram às ruas de Porto Príncipe, levantaram barricas e enfrentaram a polícia. A crise política fez com que o segundo turno (inicialmente marcado para o dia 16 de janeiro) fosse adiado indefinidamente. Assim, frente a crise e sem o apoio das tropas da Minustah, Préval foi obrigado a recuar e Martelli foi para o segundo turno.

Velhos conhecidos
Diante da crise político e do vácuo de poder do país, velhos chacais da política haitiana retornaram ao país tentando capitalizar a situação. O primeiro deles foi o ditador Babi Doc, filho do sinistro Papa Doc. Baby Doc assumiu o governo quando seu pai morreu, em 1971 e em 1985 foi deposto por uma mobilização de massas. Desde então vivia no exílio.

Outra figura que retornou ao Haiti foi o ex-presidente Jean Bertrand Aristide, que foi o primeiro presidente eleito democraticamente do Haiti em 1991. Ele serviu por mais duas legislaturas entre 1994 e 1996 e 2001 e 2004 — nas duas ocasiões foi retirado do poder por golpes de Estado. Na primeira foi reconduzido ao poder por tropas norte-americanas, enviadas pelo então governo Bill Clinton. No último deles, em 2004, o ex-presidente deixou o governo após uma rebelião armada. Visando estabilizar o país, tropas dos EUA e França ocuparam o Haiti e levaram Aristides à África do Sul. Desde então o país mais pobre das Américas sofre uma ocupação militar chefiada, vergonhosamente, pelo Brasil.

A situação do país caribenho se deteriorou muito nos últimos anos. Além de sofrer com a violência da ocupação militar, que reprime greves e lutas salariais dos trabalhadores, o povo haitiano ainda enfrentou um terremoto que deixou para traz 230 mil mortos e dois milhões de desabrigados. Apesar de todas as promessas de reconstrução e de “ajuda internacional”, o povo haitiano continua a viver em condições de extrema precariedade. Mais de um milhão ainda lutam para sobreviver em precários acampamentos espalhados pelas ruas da capital. Como se não bastasse, o país foi recentemente assolado por uma epidemia de cólera que já fez mais de 4.000 vítimas. Há fortes indícios de que a epidemia foi trazida por soldados nepaleses na Minustah.

O processo eleitoral haitiano é uma farsa para legitimar a ocupação. Dele só participam aqueles que foram admitidos pela Minustah. Os dois candidatos sequer questionam a ocupação militar, pelo contrário. Todos estão de acordo em mantê-la.

“Planejo construir uma força nacional, não exatamente Forças Armadas. Não imagino o Haiti em guerra com outros países. Espero construí-la com a ajuda da Minustah [a missão na ONU no país] e outros países com expertise na matéria”, explicou Michel Martelly.

Já Mirlande Manigat, apesar de fazer firula e dizer que “os haitianos não querem Minustah em seu país porque ofende a dignidade de um país livre”, afirma que a presença dos soldados “é vital que permaneça no Haiti porque a Polícia haitiana só conta com 10 mil soldados para uma população de 10 milhões de pessoas”. Ou seja, independente de quem vença as eleições, o Haiti terá um novo governo fantoche tutelado pela Minustah.