Entre 7 e 10 de julho, enquanto a direção petista se reunia, tentando administrar as muitas crises e escândalos em que o partido de Lula está metido, e dirigentes davam declarações constrangedoras na tentativa de justificar a cada vez mais vergonhosa situação do PT, militantes do PSTU de todo o país se reuniam no seu 5º Congresso.

A data é a única coincidência entre os eventos. Enquanto os petistas chafurdavam no lamaçal que criaram, os militantes do PSTU demonstravam um incrível vigor para preparar o terreno para uma revolução socialista no país.

A própria estrutura das reuniões e o perfil de seus participantes demonstram o abismo que separa os dois partidos. Do lado petista, muita pompa para parlamentares, membros de um governo corrupto e seus capachos; no Congresso do PSTU, trabalhadores e jovens viajaram dias de ônibus e foram recebidos por voluntários, que garantiram a infra-estrutura, incluindo uma creche.

Por isso mesmo, o congresso foi marcado pelo orgulho dos militantes por terem a certeza de estarem participando de uma reunião histórica, particularmente no que se refere à construção de uma alternativa revolucionária, diante da total falência do PT e seus aliados, como a CUT e a UNE.

Internacionalismo
A abertura, na manhã da quinta-feira, foi marcada pelo internacionalismo. Depois de cantarem A Internacional, os delegados foram apresentados aos representantes das organizações estrangeiras com as quais o PSTU mantém relações.

Estavam presentes companheiros e companheiras do Movimiento Socialista de los Trabajadores (MST), da Bolívia; da Frente de Esquerda Revolucionária, de Portugal; do Lucha Internacionalista, da Espanha; da Frente Obrero Socialista, da Argentina; do Movimiento al Socialismo, do Equador; do Partido Obrero Socialista, da Costa Rica; do Partido Obrero Socialista (Zapatista), do México, e da Fração do Lutte Ouvrière, da França. Além disso, o congresso recebeu uma mensagem de saudação dos companheiros do POI, das distantes Rússia e Ucrânia.

Na seqüência, Alicia Sagra, do FOS argentino, falou em nome da Liga Internacional dos Trabalhadores – Quarta Internacional (LIT-QI), destacando a importância do país no cenário latino-americano e o momento decisivo em que o congresso acontecia.

Depois, foi instalada a “mesa de honra” do congresso, tradição que homenageia companheiros e companheiras que fazem parte de nossa história. Com uma emocionada aclamação, foram aprovados os nomes dos seguintes companheiros: o argentino Nahuel Moreno, dirigente e fundador da LIT; José Luís e Rosa Sundermann, militantes do PSTU de São Carlos, assassinados dias após a fundação do partido, em 1994; Júlio Costa, o Julinho, falecido na década de 90, militante histórico da luta bancária e do processo de construção da Convergência Socialista, uma das correntes que deram origem ao PSTU; e Gildo Rocha, também militante do partido e diretor do Sindicato dos Servidores de Brasília, assassinado em um piquete, em outubro de 2000.

Com a compreensão de que qualquer evento nacional está intimamente relacionado ao cenário internacional, o primeiro tema dos debates foi a situação mundial. Questões como a resistência no Iraque, as insurreições e processos revolucionários no Equador, na Argentina e na Bolívia estiveram no centro do debate e reforçaram a certeza sobre a necessidade do PSTU fortalecer ainda mais a construção da LIT-QI.
Luis Zalles, do MST boliviano, traduz bem a importância da discussão realizada pelos delegados: “Vivemos num processo de revoluções, em nível mundial, e a realização deste congresso num momento como este é fundamental. Acredito que os debates serviram para fortalecer ainda mais os militantes do PSTU que é, no Brasil, uma referência revolucionária para combater o governo de Lula”.

No calor dos acontecimentos
Depois de um debate sobre o atual estágio de construção do PSTU, teve início a discussão sobre a situação nacional. Na sexta, quando os delegados já discutiam a importância da Coordenação Nacional de Lutas, a Conlutas, chegaram ao congresso dois relatos que reforçaram a necessidade de construir uma nova alternativa para as lutas sociais no país: o inusitado episódio da cueca petista recheada de dólares e a nomeação do presidente da CUT para ministro do Trabalho.

Essa curiosa sincronia entre o aprofundamento da crise do PT e do governo e os debates do congresso prosseguiu: no meio do ponto sobre a situação nacional, os delegados foram informados da queda de Genoino.

Como destacou Rafael, delegado por Niterói (RJ), “é excelente que o Congresso esteja acontecendo no meio desta crise. Isto permite que a gente discuta essa situação no calor dos acontecimentos e fique ainda mais consciente sobre o enorme desafio que está colocado em nossas mãos, particularmente o da construção da Conlutas”.

A resposta a esse desafio veio nas resoluções. Além de encaminhamentos para construir a Marcha a Brasília no dia 17 de agosto, os delegados aprovaram medidas para intensificar a luta contra o governo e o Congresso corruptos, para incentivar o rompimento com a CUT e a UNE e construir a Conlutas e a Conlute, além de fortalecer as oposições sindicais.

Democracia e debate político
O congresso foi a concretização de um debate iniciado em março, quando textos sobre diversos aspectos da vida nacional, internacional e partidária começaram a ser discutidos. De lá para cá, qualquer militante que tivesse posições sobre os debates em curso teve o direito de publicá-las para todo o partido.

Esse rico e democrático debate foi realizado com a mesma intensidade com que a militância se jogou nas lutas e disputas sindicais dos últimos meses. Fruto desse processo, o congresso contou com ampla participação de seus delegados que, a cada ponto, enriqueciam o debate com exemplos vivos trazidos de suas regionais.
Como recordou Júlia, da juventude do PSTU, “o partido se envolveu apaixonadamente nos debates, com consciência sobre os enormes desafios que temos pela frente. Este congresso abre uma nova etapa na história do partido”.

Foi com esse ânimo que os delegados ainda encontraram disposição para organizar reuniões já pensando em como encaminhar as resoluções. Bancários, professores e trabalhadores do funcionalismo discutiram a articulação nacional de suas categorias. Mulheres e negros reuniram-se para discutir como avançar na organização da suas secretarias.

Um clima que, de acordo com Cínara, delegada por Porto Alegre, fez do Congresso uma experiência fundamental: “Este é o primeiro congresso do qual participo e sinto que está refletindo as distintas experiências que a militância tem, inclusive, na luta das mulheres e dos setores oprimidos”.

Preocupados com a formação política necessária para sua atuação, os delegados e delegadas aglutinavam-se também ao redor da banca de livros, onde foi feito o lançamento dos livros A Revolução Traída, de Leon Trotsky, e O Estado e a Revolução, de Lenin.

Fortalecidos para lutar
A empolgação dos delegados ficou evidente na noite de domingo. Após eleger uma nova direção e aprovar as resoluções e uma série de moções e campanhas – como a de defesa dos rodoviários do Amapá, ameaçados pela patronal e pelo governo –, todos cantaram novamente A Internacional.

Em muitas rodas que se formaram, o teor da conversa era o mesmo: a certeza de que os desafios colocados pelo congresso são enormes, mas que todos estavam saindo fortalecidos e com disposição redobrada para a construção de uma alternativa revolucionária para este país; além, é claro, da vontade de chegar em suas regiões para escutar dos trabalhadores e jovens suas opiniões sobre os últimos capítulos da crise do governo.

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