Diferente do que esperavam os governos, as mobilizações prosseguemHá semanas, a repressão policial e a disposição de luta de milhares de jovens de Florianópolis (SC) têm sido vistas Brasil afora nos noticiários.

No dia 3 de junho, por exemplo, depois que 2 mil manifestantes realizaram uma pacífica passeata pelo centro da cidade, a polícia prendeu 16 pessoas com acusações absurdas, como “formação de quadrilha”. Os presos foram espancados a tal ponto que alguns delegados se recusaram a recebê-los, pelo fato de necessitarem de atendimento médico. Enquanto isso, os ônibus que entravam na cidade eram parados, estudantes tiveram suas mochilas revistadas e, desde então, policiais passaram a ocupar vários locais da cidade.

Luta, ironia e mais repressão
Mesmo com a brutal repressão, as mobilizações prosseguiram. No dia 6, apesar da suspensão das aulas pela prefeitura, os estudantes realizaram um ato com mais de mil pessoas e solidarizaram-se com a paralisação de dez horas dos motoristas e cobradores, contribuindo para vitória do movimento dos trabalhadores.

Nos dias seguintes, novos atos ocorreram, e, em 9 de junho, uma grande mobilização, com cerca de 2 mil pessoas, contou com a participação de vários setores sindicais e principalmente de trabalhadores e desempregados que residem nos bairros mais distantes do centro.

Nesse protesto também não faltou ironia. Em resposta à provocação do prefeito, que afirmou à imprensa que “ninguém mija no meu pé e ri da minha cara”, os manifestantes depositaram litros e mais litros de urina na frente da prefeitura.

Na seqüência, a mobilização foi engrossada por manifestantes que estavam no terminal do centro da cidade, chegando a agrupar cerca de 3 mil pessoas, que, então, fecharam uma das principais vias para a ponte que liga a ilha ao continente.

A repressão mais uma vez foi enorme, apoiando-se na tropa de choque, na polícia montada e em carros blindados.

O clima repressivo, diga-se de passagem, tem lamentavelmente tomado conta da cidade. Na sexta, dia 10, quando cerca de cem universitários tentavam fechar as pistas da Beira Mar Norte, próximo à UFSC, a polícia não só investiu contra eles, com disparos para ar, como tentou ocupar a universidade, no que foram impedidos.

Unificar as lutas
A luta contra o aumento das tarifas em Floripa já tem reflexos em todo o país, incentivando levantes semelhantes em outras cidades do estado, como Criciúma (SC) e Blumenau (SC), ou país afora, como em Uberlândia (MG).

Para que elas sejam vitoriosas, contudo, não basta apenas a redução do preço. É necessário a municipalização do transporte sob controle da população. Para construir esta luta, também é preciso a realização de um plebiscito a ser realizado pelos lutadores em cada bairro, escola e local de trabalho, para mostrar aos governos que a população está farta de encher o bolso dos empresários.

O papel das direções governistas
Desde o início do mês, os estudantes de Florianópolis estão construindo sua luta em um grande movimento de unidade com os trabalhadores e várias entidades e organizações estudantis, populares e sindicais.

Nem por isso a UNE, a UBES, a União Catarinense de Estudantes (UCE) e outras organizações têm-se colocado a serviço do movimento. Defendendo uma linha de “pacifismo” e discursando contra a “radicalização” do movimento, elas estão, na prática, tentando conter as mobilizações enquanto, nos bastidores, buscam uma solução negociada com os governos, principalmente o do estado, do qual o PCdoB (que tem uma forte presença nas entidades estudantis) faz parte.

Post author Fábio Bezerra e Sebastião Amaral, de Florianópolis (SC)
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