Publicado no Opinião Socialista nº 558

O clima já é de fim de feira no governo Temer, o mais odiado da história e sem mais nenhuma capacidade de atender ao que os banqueiros estrangeiros e grandes empresários mais queriam: a reforma da Previdência. O problema é que a xepa do fim de feira no Planalto são as nossas riquezas. Abriu-se a temporada de venda e entrega dos campos de petróleo, estatais e tudo o mais que puder ser dado ao capital internacional.

Diante da crise econômica internacional, Temer e a burguesia brasileira vendem o país a baciada para o imperialismo, ou seja, os países ricos, com os EUA à frente, suas multinacionais e banqueiros. A lista é interminável. A Embraer é o maior símbolo dessa política. Uma empresa de alta tecnologia, fundada e desenvolvida com dinheiro público e mão de obra brasileira, está sendo entregue à gigante Boeing.

A venda do país se estende a praticamente todos os setores da economia, dos poços de petróleo, passando pelo refino, até a ponta da indústria mais desenvolvida que ainda tem aqui. O objetivo é um só: fazer o Brasil regredir à situação de colônia. É o que estão fazendo com o petróleo: extraímos o petróleo cru aqui dentro, exportamos para fora, eles refinam e nos vendem gasolina e gás de cozinha mais caros. Qual o papel do Brasil? Vender matérias-primas, baratas de acordo com os interesses dos países ricos.

O governo Temer, o Congresso Nacional e a burguesia brasileira, que sonha em ser sócia minoritária das multinacionais, estão a serviço disso, assim como os seus candidatos à Presidência.

CONTA DA LUZ VAI SUBIR
Eles vendem a Eletrobras, e o preço vem na sua conta

Temer continua com sua obsessão em entregar a Eletrobras ao capital privado. Seis distribuidoras de energia estão na mira do governo já em processo de venda: Alagoas, Piauí, Acre, Amazonas, Rondônia e Roraima. Pelo acordo desenhado pelo governo, além de ir para as mãos das empresas, a estatal vai assumir as dívidas atuais das distribuidoras, avaliadas em R$ 11 bilhões. A conta disso vai aparecer onde? Na sua conta de luz, óbvio.

Segundo o presidente da Abrace, uma associação que reúne os grandes industriais consumidores de energia, o impacto da privatização na conta de luz pode chegar a 5% a 6%.

No dia 11 de julho, a Câmara votou um pacote pró-privatização para assegurar os lucros dos novos donos da Eletrobras. Entre as medidas aprovadas, está o repasse dos “gatos” às contas de luz.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, fez um acordão com os demais partidos, suspendendo a privatização da Eletrobras por enquanto em troca da venda imediata das distribuidoras que já estão sendo vendidas. Isso significa que, para evitar desgaste nas eleições, o governo e os demais partidos vão entregar parte do setor elétrico este ano com o compromisso de vender tudo em 2019.

É a entrega total de um setor estratégico para o país que já foi, em grande parte, entregue às empresas nos anos 1990. A venda da Eletrobras, responsável por quase 30% da geração de energia no Brasil, é a pá de cal no setor. O resultado virá na conta de milhões de brasileiros que, assim como são obrigados a pagar mais pela gasolina e o gás de cozinha por conta da entrega da Petrobras, vão pagar mais pela luz para garantir os lucros de meia dúzia de bilionários estrangeiros. Sem contar os 23 mil trabalhadores do sistema que irão para o olho da rua.

BOEING
Embraer: os gringos vão comprar até o céu

Material da campanha dos trabalhadores contra a venda da Embraer

A Embraer foi um dos casos mais escandalosos da série de privatizações realizadas pelo governo FHC nos anos 1990. Vendida no final de 1994, foi arrematada num leilão que durou poucos minutos na Bovespa, a Bolsa de Valores de São Paulo, por míseros R$ 154 milhões. Só para se ter uma ideia do que representava esse valor, o faturamento em 1997 era de R$ 1,5 bilhão. Isso mesmo, bilhão. Para não ter dúvida do verdadeiro crime de lesa-pátria que foi isso, o pagamento foi feito em títulos de dívidas de estatais, apelidados de “moeda podre”.

De lá para cá, passando por sucessivos governos, a desnacionalização da Embraer só aumentou. Hoje, cerca de 80% de suas ações estão nas mãos de grupos investidores estrangeiros. Nomes difíceis de pronunciar, como Vanguard, Legg Mason ou Oppenheimer. No entanto, mesmo nas mãos do capital internacional, o governo brasileiro mantém um relativo controle sobre os rumos da empresa por possuir um tipo de ação especial chamada de “golden share”. A empresa, ainda que desnacionalizada, mantém fábricas em São José dos Campos, Botucatu e Araraquara.

O tal acordo com a Boeing é anunciado pela imprensa como uma fusão ou, num nome mais chique, uma joint venture, em que a multinacional norte-americana tem 80% da empresa e a Embraer os 20% restante. Em bom português, uma compra pura e simples. A compra da Embraer pela Boeing coloca em risco a manutenção dessas fábricas aqui e, com isso, milhares de empregos. São 18 mil trabalhadores e, na região do Vale do Paraíba, outros 4 mil indiretos que atuam na cadeia produtiva do setor.

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (SP) denuncia que a medida vai significar o fechamento das fábricas no Brasil num período de dez anos. Afinal, por que uma multinacional vai continuar produzindo um produto de alta tecnologia num país reservado a ser mero exportador de soja, milho e carne?

BRASKEM
Da Madona à indústria petroquímica brasileira

Outra grande empresa que está sendo vendida aos gringos, que pouco ou nada se ouve falar, é a Braskem, petroquímica responsável por produtos fundamentais para a indústria. A Petrobras tem 36% das ações da empresa, e a Odebrecht da Lava Jato, outros 38%.

Depois de todas as falcatruas que vieram à tona com a Lava Jato, a Odebrecht vai vender parte de sua participação para se tornar sócia-menor do grupo holandês LyondellBasell. A parte da Petrobras está no programa de desinvestimento da empresa. O grupo holandês tem por trás o bilionário russo-americano Len Blavatnik, dono, por exemplo, da Warner Music.

O mesmo bilionário que vai controlar a produção petroquímica no Brasil é o que decide os rumos da carreira da Madona.

POR UMA SEGUNDA INDEPENDÊNCIA
Reestatização das empresas privatizadas sob controle dos trabalhadores

O governo Temer, o Congresso Nacional e a burguesia brasileira são serviçais do imperialismo, dos grandes banqueiros e das multinacionais. Sua função é uma só: entregar as riquezas do país para ficar com as migalhas, atuando na defesa da política do imperialismo de recolonização do Brasil.

Os candidatos à Presidência estão a serviço desse mesmo projeto. Bolsonaro já disse que não é contra as privatizações, e seu guru econômico, Paulo Guedes, já disse que “tem que privatizar tudo”. E Ciro Gomes? O discurso eleitoreiro e supostamente de esquerda não esconde sua história, inclusive como parte da equipe econômica do governo entreguista de FHC.

Já o PT tem um discurso igualmente cínico de denúncia das privatizações, mas nada diz sobre as que foram realizadas em seus governos. Dilma fez a maior privatização da história do país entregando o megacampo de Libra do Pré-Sal ao capital estrangeiro. O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, por sua vez, tenta vender o patrimônio mineiro a baciada, como Temer faz no Planalto. Tentou vender a Copasa, empresa de saneamento, partes do metrô, estradas, presídios, centros de saúde e estradas, além da Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais).

Esses projetos não são contrários a Temer. Discutem apenas o ritmo da entrega. Enfrentar os interesses do imperialismo, então, nem pensar.

Reestatização sob controle operário
Enfrentar o imperialismo significa enfrentar seus serviçais aqui no Brasil. A Embraer mostrou como a burguesia brasileira age em conjunto com o governo para entregar tudo aos grandes banqueiros internacionais.

Para acabar com venda desenfreada das riquezas e do patrimônio do país, é preciso parar todas as privatizações, reestatizar tudo o que já foi privatizado e colocar essas empresas sob controle dos trabalhadores, incluindo a Petrobras e a Embraer. É necessário, ainda, estatizar as 100 maiores empresas, incluindo as multinacionais, que controlam juntas cerca de 40% do PIB.